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Decretar o estado de emergência do Brincar

Defendemos que o brincar fortalece as habilidades motoras, cognitivas e sociais, é afetada pelo ambiente, seja nas circunstâncias físicas circundantes, seja nos parceiros sociais disponíveis nos relacionamentos construídos, no tempo e nos elementos culturais que contribuem para a construção dos indivíduos.
18 Maio 2020, 07h15

Este mês de maio tem sido extraordinariamente profícuo na minha missão de melhorar a vida das crianças portuguesas e devolver-lhes o direito a ser criança.

Para isso estou a promover um ciclo de conversas com professores, psicólogos e investigadores onde todos estamos preocupados com o confinamento social das nossas crianças e com a necessidade dos adultos lhes ocuparem o seu tempo com tarefas escolares infindáveis. Dentro desta lógica tenho estado a desenvolver debates sobre temáticas vocacionadas para o desenvolvimento integral das crianças, e num desses debates retirei o título do artigo de hoje, que não é da minha autoria, mas sim de um dos maiores defensores do tempo livre das crianças e do brincar em Portugal, o Professor Carlos Neto.

O covid 19 entrou nas nossas vidas de forma silenciosa percorreu todos os continentes rapidamente e deixou o mundo num estado de incerteza, e com uma tomada de consciência do que está a existir leva-nos a perceber que o risco faz parte da nossa existência.

Vermos os outros sem lhes podermos tocar, neste momento somos um corpo desconfiado dos seus passos que damos e começamos a questionar a nossa liberdade.

Estamos a assistir a uma hecatombe morfológica e mental porque os corpos estão sentados cada vez mais à frente dos ecrãs durante oito horas por dia o que está a avolumar o analfabetismo motor.

Necessitamos então de “criar um estado de emergência do brincar” porque as crianças que estavam prisioneiras nas escolas, encontram-se agora prisioneiras em casa com tarefas escolares infindáveis, fechadas e enclausuradas com uma família exausta a nível emocional, em teletrabalho, sem tempo para os filhos e muitas com cortes salariais.

A definição do brincar é muito controversa nos meios académicos e com alterações significativas de investigador para investigador, Burghardt (2005) defende que a brincadeira realizada por todas as espécies é caracterizada pelos altos níveis de atividade e padrões comportamentais usados em contextos funcionais reais, mas desvinculados da sua motivação original.

Gray (2009) defende a existência de cinco características definidoras do brincar associadas e primordialmente importantes para o desenvolvimento da espécie humana, sendo elas a atividade autoescolhida e autodirecionada, a motivação, as regras mentais, a imaginação e a produção de atividades de alerta não stressantes.

Alguns autores advogam que o brincar traz benefícios imediatos que são importantes para toda a vida do indivíduo, tem alterações consideráveis no desenvolvimento ósseo, muscular, cardiovascular, incute o hábito do exercício físico, ajudando a combater a obesidade e a melhorar o domínio de competência e autoeficácia (La Freniere, 2011).

Interfere, também, na preparação para o inesperado, lidar com eventos súbitos como quedas, perda de equilíbrio e lidar emocionalmente com situações stressantes e inesperadas (Spinka, Newberry & Bekoff, 2001) tornando as crianças mais flexíveis, versáteis, criativas e capazes de lidar produtivamente com o novo o inesperado, são as principais funções imediatas reconhecidas do brincar.

O brincar é uma adaptação ontogenética, ou seja, um sistema comportamental que melhora a adaptação do indivíduo nos estágios imaturos da vida perdendo o seu significado na idade adulta. Esta hipótese foi apoiada na seleção natural, que atua em todos os períodos do desenvolvimento não só na maturidade.

Byers e Walker (1995) constatam que em quase todas as espécies estudadas o gráfico para a brincadeiras parecia um U invertido, aumentando durante o período juvenil e daí caindo por volta da puberdade, o período depois do qual a maioria não brinca muito. Para este autor o ato de brincar pode estar relacionado ao crescimento do cerebelo, desde que os dois atinjam o pico mais ou menos ao mesmo tempo. Parece haver um período sensível no crescimento do cérebro, no qual o tempo é importante para que o animal seja estimulado com brincadeiras para obter a sua configuração final.

Para concluir, defendemos que o brincar fortalece as habilidades motoras, cognitivas e sociais, é afetada pelo ambiente, seja nas circunstâncias físicas circundantes, seja nos parceiros sociais disponíveis nos relacionamentos construídos, no tempo e nos elementos culturais que contribuem para a construção dos indivíduos.

Os indivíduos que brincam diariamente na sua infância produzem defesas e características ímpares no seu desenvolvimento, motor, cognitivo e emocional que os torna mais adaptados ao meio e com mais defesas e competências adquiridas o que aumenta a probabilidade de sobrevivência e sucesso reprodutor, aumentando assim a fitness.

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