[weglot_switcher]

Deloitte contraria BE. Auditoria não omite que consultora assessorou venda da GNB Vida

Documento que foi publicado nesta terça-feira, 8 de setembro, no site do Parlamento contraria posição dos bloquistas quanto à omissão na auditoria da sua participação na venda da seguradora, um negócio que gerou perdas de 250 milhões de euros.
  • Cristina Bernardo
8 Setembro 2020, 18h00

No final da semana passada, o BE defendeu que auditoria especial ao Novo Banco seja considerada nula, considerando estar “ferida de morte” por conflito de interesses da Deloitte pelo fato de a auditoria aos 18 anos de gestão do BES/Novo Banco não referir que a Deloitte Espanha assessorou o Novo Banco na venda da GNB Vida, concluída em 2019. Documento que foi publicado nesta terça-feira, 8 de setembro, no site do Parlamento contraria posição dos bloquistas quanto à omissão da sua participação na venda da seguradora, um negócio que gerou perdas de 250 milhões de euros.

“A Deloitte realizou no passado projetos de consultoria de diferente natureza para o Banco Espírito Santo, para o Novo Banco ou empresas dos seus Grupos, incluindo nomeadamente projetos diretamente relacionados com a medida de resolução do Banco Espírito Santo, avaliações pontuais de ativos, incluindo ativos abrangidos pelo âmbito do presente trabalho, e mandatos de venda de ativos, incluindo ativos abrangidos pelo âmbito do presente trabalho (nomeadamente a GNB Vida – Companhia de Seguros, S.A.)”, avança a consultora no documento de 371 páginas, no capitulo referente à dependência e conflito de interesses, onde concluiu que “não foi identificada nenhuma situação que impedisse ou aconselhasse a não aceitação do trabalho” de análise aos atos de gestão do BES/Novo Banco entre 2000 e 2018.

O BE considerou na sexta-feira passada, 4 de setembro, que a auditoria ao Novo Banco está “ferida de morte” e não garante “seriedade, rigor e independência” devido ao “conflito de interesses” da Deloitte, apelando ao Presidente da República e ao Governo que a considerem nula.

“Nós convocamos ontem [quinta-feira] esta conferência de imprensa porque tivemos conhecimento, através de uma denúncia, de um facto que, entretanto, confirmámos por uma notícia antiga da agência Reuters de 2017 e que hoje surge na comunicação social”, explicou a deputada do BE Mariana Mortágua, fazendo referência à notícia do Jornal Económico de sexta-feira passada que a Deloitte Espanha, uma entidade do mesmo grupo mundial da Deloitte, assessorou o Novo Banco na venda da GNB Vida. Segundo avançou o JE, como ambas pertencem ao grupo mundial, apesar de serem instituições juridicamente independentes, a auditora poderá ter tido de analisar “potenciais constrangimentos na avaliação dos atos de gestão do Novo Banco”.

Em conferência de imprensa, a deputada bloquista, Mariana Mortágua defendeu que o facto de a auditoria especial feita pela Deloitte não referir que a Deloitte Espanha assessorou o Novo Banco na venda da GNB Vida, concluída em 2019 afigura um “conflito de interesses” da consultora.

“A Deloitte, na sua auditoria, não refere a desvalorização da GNB Vida, não refere as ligações entre o comprador a um corrupto condenado e também não refere que a própria Deloitte foi assessora financeira do Novo Banco na venda da GNB Vida e, portanto, tem uma responsabilidade partilhada”, acusou Mariana Mortágua.

Segundo a deputada, o BE “já tirou as suas conclusões”, considerando ser claro que “esta auditoria não garante seriedade, rigor, independência nem a defesa do interesse público” e está “ferida de morte”, pedindo ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ao Governo que “também tirem as suas conclusões sobre esta auditoria”.

Na auditoria, a Deloitte refere, no entanto, que” previamente à aceitação deste trabalho foi efetuada uma análise de potenciais conflitos de interesse de acordo com os nossos procedimentos internos de aceitação de trabalhos, que pudessem de alguma forma afetar ou condicionar a objetividade da Deloitte e dos seus colaboradores na sua realização”. E assinalou mesmo que realizou no passado projetos de consultoria de diferente natureza, incluindo ativos abrangidos pelo âmbito da auditoria especial entregue na semana passada ao Governo, nomeadamente a GNB Vida.

Ainda assim, em declarações ao JE, Mariana Mortágua assinalou que aquilo que considera como omissão de elementos relativos ao negócio de venda da GNB Vida.

“O relatório fala do negócio de venda da GNB Vida quase branqueando-o, por não apresentar elementos”, afirmou ao Jornal Económico Mariana Mortágua, realçando aqui que os auditores não falam de na primeira tentativa de venda da seguradora, em 2018, a Greg Lindberg, um milionário do setor dos seguros que foi condenado este ano por fraude, corrupção e evasão fiscal e depois na venda ao fundo Apax, acrescenta, “omitem as ligações deste fundo a Greg Lindberg” e “não explicam como os valores de venda passaram de 190 milhões para 123 milhões de euros”.

A seguradora GNB Vida foi vendida com um desconto de 68,5% que fez com que o Novo Banco perdesse 268,2 milhões euros, perda compensada com verbas do Fundo de Resolução. Para a bloquista esta foi uma “negociata descarada” à qual o Fundo de Resolução “fechou os olhos”, aceitando a operação de “fachada” do banco.

A auditoria ao Novo Banco, que menciona este negócio, refere o comprador Apax Partners, mas sem nunca referir as suas ligações a Lindberg. Além disso, explica Mariana Mortágua, a auditoria também não refere a perda de 107 milhões de euros face aquilo que tinha sido a primeira opção face a 2018.

Na auditoria, a Deloitte defende que “a atividade da GNB Vida vinha a decrescer nos últimos anos, observando-se uma redução de quota de mercado, a que se junta o facto do negócio daquela seguradora se encontrar bastante dependente de produtos de taxa de juro garantida, o que, em contexto de taxas de juro muito baixas, constituía uma fonte de risco e conduzia a uma volatilidade relevante nos resultados”.

E conclui que o reduzido número de ofertas vinculativas indicia um baixo nível de atratividade da companhia para investidores externos para a compra da GNB Vida, onde, diz a Deloitte, a participação do Novo Banco na GNB Vida gerou, entre 4 de agosto de 2014 e 31 de dezembro de 2018, uma perda global de 380 milhões de euros.

Segundo o relatório, no âmbito do processo foram contactados 54 investidores estratégicos e assinados cinco non disclosure agreements. Após a receção de duas ofertas vinculativas, o Novo Banco acordou em 16 de maio de 2018 a formalização de negociações com carácter de exclusividade com a Global Bankers Insurance Group (GBI), que apresentou a proposta de montante superior, tendo assinado o contrato de venda em 12 de Setembro de 2018 por 190 milhões de euros, acrescido de uma componente variável de até 125 milhões de euros.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.