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Governador do banco central da Alemanha demite-se por “razões pessoais”

Jens Weidmann, que durante mais de dez anos liderou o Bundesbank anunciou que irá abandonar o seu cargo no final deste ano. O economista alemão era tido como opositor à política expansionista de Mario Draghi no BCE em resposta à crise de dívida soberana.
20 Outubro 2021, 12h01

O Governador do Bundesbank dos últimos 10 anos, Jens Weidmann, vai sair no final do ano.

“Cheguei à conclusão de que mais de 10 anos é uma boa medida de tempo para agora virar a página – para o Bundesbank mas também para mim, pessoalmente”, lê-se na carta que está publicada no site do Bundesbank e na página do Twitter do economista alemão.

O líder do Bundesbank na última década foi a oposição interna no BCE às políticas expansionistas de Mario Draghi e Christine Lagarde.  Weidmann sempre foi visto como a oposição ao lançamento dos programas de compra de títulos de dívida pública em larga escala implementados pelo BCE, presidido por Mario Draghi, na resposta à crise de dívida soberana, com vista a combater as dificuldades de acesso a financiamento sentidas por diversos Estados, incluindo Portugal. Para além de ser uma resposta  aos riscos de deflação na zona euro.

Na carta que foi publicada no site do banco central, Jens Weidmann começa por lembrar que “o período desde que assumi a presidência do Bundesbank foi agitado. O ambiente em que operamos mudou enormemente e as tarefas do Bundesbank cresceram. A crise financeira, a crise da dívida soberana e, mais recentemente, a pandemia levaram a decisões na política e na política monetária que terão efeitos duradoiros”.

“A política monetária desempenhou um papel estabilizador significativo ao longo deste período. No entanto, as numerosas medidas de política monetária de emergência também foram associadas a efeitos colaterais consideráveis ​​e no atual contexto de crise, o sistema de coordenadas da política monetária foi alterado”, ressalva.

“Os meus colegas do Conselho do BCE, sob a liderança de Christine Lagarde, merecem agradecimentos pela atmosfera aberta e construtiva nas discussões por vezes difíceis dos últimos anos. Apesar das tensões causadas pela pandemia, conseguimos concluir com êxito a revisão da estratégia, um marco importante na política monetária europeia”, diz em jeito de balanço. Weidmann lembra ainda que o Bundesbank, contribuiu com a “competência analítica” e também com “as nossas convicções fundamentais” para o processo de revisão” e “uma meta de inflação simétrica e mais clara foi acordada”.

“Os efeitos colaterais e, em particular, os riscos para a estabilidade financeira devem receber maior atenção”, alertou aquele que tem sido o maior crítico dos estímulos monetários promovidos pelo BCE ao longo da última década.

Weidmann lembra ainda na carta de despedida que “foi rejeitado um aumento da meta da taxa de inflação” e que “o Eurosistema prestará mais atenção aos riscos climáticos no futuro”.

“Todos esses são pontos importantes para mim”, diz o governador demissionário que acrescenta no entanto que “agora tudo vai depender de como essa estratégia é ‘vivida’ nas decisões concretas de política monetária”.

“Nesse contexto, será crucial não olhar unilateralmente para os riscos deflacionistas, mas também não perder de vista os potenciais perigos inflacionistas”, alerta na sua missiva.

O Governador do banco central da Alemanha da última década reafirma que “uma política monetária orientada para a estabilidade só será possível a longo prazo se o quadro da união monetária garantir a unidade de ação e de responsabilidade, se a política monetária respeitar o seu mandato restrito e não se deixar envolver pela política fiscal ou pelos mercados financeiros . Esta continua a ser a minha firme convicção pessoal, tal como a grande importância da independência da política monetária”.

No que toca à supervisão bancária, Weidmann realça na sua comunicação a “reorganização da supervisão bancária na Europa, que, não só conduziu a estruturas de supervisão completamente novas no BCE, mas também a um papel reforçado do Bundesbank. As novas responsabilidades do Bundesbank na área de estabilidade financeira também destacam o nosso papel central no que diz respeito ao funcionamento do sistema financeiro”.

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