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Depois da experiência sub-zero, Portugal deve voltar a pagar para emitir dívida a 10 anos

Portugal regressa ao mercado esta quarta-feira para emitir até 1.250 milhões de euros em dívida com prazos em 2027 e 2030. Na maturidade ‘benchmark’, depois de uma emissão com taxa negativa, a subida das ‘yields a nível global deverá levar o IGCP a pagar juros de cerca de 0,25%.
10 Março 2021, 08h00

“Foi a primeira e se calhar a última vez”, disse Filipe Garcia, economista da consultora IMF-Informação de Mercados Financeiros”, sobre a ocasião, a 13 de janeiro de 2021, em que Portugal emitiu Obrigações do Tesouro (OT) com prazo de 10 anos a uma taxa negativa, no caso -0,012%.

O IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – volta esta quarta-feira aos mercados para leiloar dívida com essa mesma maturidade de outubro de 2030 e também OT com prazo de outubro de 2027, com um montante indicativo entre mil e 1.250 milhões de euros.

A agência liderada por Cristina Casalinho deverá ver a taxa de juro da dívida benchmark regressar a terreno positivo.

“Vai ser muito ‘encostado’ ao que se está a fazer no mercado [secundário]”, afirmou Filipe Garcia, salientando que nesse contexto a yield da dívida portuguesa negoceiava esta quarta-feira perto dos 0,25%.

Essa taxa da dívida benchmark nacional tem subido nas últimas semanas em linha com as pares na Europa e nos Estados Unidos, onde as treasuries a 10 anos negoceiavam esta quarta-feira nos 1,54%, tendo no dia anterior tocado nos 1,613%, máximos de 13 meses.

A subida das taxas de juro está relacionada com as expectativas de uma aceleração da inflação no verão,  que deverá ser causada pela reabertura das economias com o avançar dos planos de vacinação e o aumento do consumo por pessoas que poupararam durante a pandemia e ainda por cima receberam estímulos orçamentais.

Filipe Garcia, da IMF, sublinhou, que no entanto, Portugal “vai esta quarta-feira colocar as OT com sucesso, não tenho dúvidas em relação a isso”. O economista elogiou o trabalho do IGCP na última década, desde o tempo de João Moreira Rato, e que Cristina Casalinho “está a fazer muito bem”.

“Fizeram um trabalho extraordinário nas maturidades. Se formos ver nos relatórios do IGCP, nos próximos 10 anos, se retirarmos os Bilhetes de Tesouro, o perfil de amortizações são quase todas no mesmo montante, ou seja, não há concentrações”, adiantou. “E este tipo de emissões fazem sentido por que reforça esse caracter, porque ‘atira’ endividamento mais para a frente, e emitir a 10 anos a 0,25% não é propriamente uma má taxa, consegue continuar a baixar o custo médio da dívida”,

“Evidentemente que, a prazo, o aumento das taxas é um problema para Portugal”, adiantou. Para Garcia, a Banco Central Europeu irá a certa altura encontrar medidas para minimizar esse problema. Por enquanto, nomeadamente na reunião do Conselho de Governadores deste quinta-feira, a instituição liderada por Christine Lagarde deverá limitar-se a transmitir que está a monitorizar o assunto e pronta a agir se e quando for necessário, explicou.

Cristina Casalinho admitiu, em entrevista ao “Público” a 17 de fevereiro, que  o ‘chão’ das taxas de juro baixas pode “já estar para trás de nós” e reconheceu que agora é altura de aproveitar para emitir dívida porque à frente não haverá taxas de juro tão baixas.

A 3 de fevereiro, o IGCP colocou três mil milhões de euros em OT com prazo de 2052, tendo pago 1,006% numa venda sindicada na qual a procura atingiu um recorde acima dos 40 mil milhões de euros, ou 13 vezes superior à oferta.

A última vez que Portugal vendeu dívida com prazo de 2027 foi em agosto do ano passado, com uma taxa de juro de colocação de 0,095%, enquanto uma venda dívida a oito anos em outubro já foi a uma taxa negativa de 0,085%.

No mercado secundário a taxa da dívida portuguesa negociava esta quarta-feira nos -0,058%, enquanto de oito anos nos 0,053%, sendo essa a linha de fronteira entre a parte negativa e a parte positiva da curva.

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