A inflação voltou a cair na zona euro em setembro, ficando pela primeira vez, desde o início do ciclo inflacionista, abaixo do objetivo de 2% do Banco Central Europeu (BCE) e assim dando um forte sinal de que os juros diretores deverão descer novamente na reunião de outubro. A descida em setembro já era esperada e o último trimestre deve trazer uma ligeira subida do indicador, mas a queda do indicador subjacente praticamente garante novo corte de juros na próxima reunião de política monetária.
O indicador caiu para 1,8% em termos homólogos, de acordo com a estimativa rápida do Eurostat divulgada esta terça-feira, sobretudo à custa dos preços da energia, que mostraram uma descida homóloga de 6%, ou seja, mais expressiva do que os 3% registados em agosto. A componente alimentar acelerou marginalmente, em 0,1 p.p., para 2,4%.
Já a inflação do lado dos serviços, apesar de se manter elevada e persistente, recuou 0,1 pontos percentuais (p.p.) para 4%. Este tem sido o principal foco dos decisores de política monetária europeia, dada a forte recuperação pós-pandémica do sector terciário.
Ignorando as duas componentes tipicamente mais voláteis do indicador, a energia e alimentação, a inflação subjacente recuou ligeiramente de 2,8% para 2,7%.
A descida no indicador nominal era já esperada, tendo sido sinalizada por Christine Lagarde, presidente do BCE, na conferência de imprensa após a mais recente reunião de política monetária. Mas é a redução, ainda que marginal, da inflação core que deixa quase certo para os analistas novo corte de juros em outubro.
“Com o indicador subjacente a descer lentamente a este ponto, parece que o objetivo de 2% no médio prazo é atingível”, argumenta a nota de research do banco ING. As expectativas de preços de venda das empresas europeias estão a abrandar, fruto da fraca procura que se vem verificando, ilustrando bem a mudança de foco do BCE dos preços para o crescimento.
“A par dos claros riscos descendentes do lado do crescimento, acreditamos que isto vai convencer o BCE a cortar juros em outubro”, escrevem os analistas da Pantheon, antecipando mais dois cortes de 25 pontos base (p.b.) nas taxas de referência para a moeda única este ano, ou seja, reduções em cada uma das reuniões até final do ano.
Apesar da evolução favorável, o indicador de preços deve voltar a subir no último trimestre do ano, em linha com o que Lagarde já havia avisado em setembro. Efeitos-base criados pela evolução dos preços da energia devem voltar a pressionar o indicador nominal, mas a inflação core tem margem para continuar a descer, dando espaço de manobra à política monetária europeia para recuar mais rapidamente do que se previa, remata a nota da Pantheon.
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