[weglot_switcher]

Desconfinar o corpo e a mente das crianças

País e Professores deixem as crianças brincar, a bem do seu equilíbrio pessoal.
24 Março 2021, 07h15

Vivemos momentos únicos nas nossas vidas e tempos que irão ficar marcados nas mentes das nossas crianças, pela diferença, pela exigência, pelas mudanças de hábitos e pela falta que faz uma vida social em toda a sua plenitude. O País vai entrar num desconfinamento faseado e as crianças não podem ser mais uma vez desconsideradas pelos adultos, por tudo o que já passaram e pelo comportamento exemplar que tiveram nos dois períodos de confinamento num prazo de um ano, merecem o respeito dos adultos, para que o seu futuro não continue a ser hipotecado. Pedimos que os adultos cumpram as diretrizes do desconfinamento e que se saibam respeitar a si e aos outros de forma a não cairmos num terceiro confinamento, que olhem para as crianças como seres humanos que necessitam de equilibrar o seu corpo e a sua mente, porque poderão estar bastante angustiados e ansiosos.

A abertura das escolas carece de sensibilidade e de mudanças, porque os professores não podem ir com a ânsia de recuperar o tempo perdido e de obrigar as crianças a acelerar na matéria, com a obsessão do cumprimento do programa escolar. Temos de olhar as crianças com um todo, um ser humano em formação e não como um robot, sem corpo, sem sentimentos, que está sempre pronto a cumprir as tarefas desde que tenha bateria. A criança é constituída por um corpo que está esquecido na escola, mesmo antes da pandemia, porque nas escolas portuguesas, nos últimos anos, só entra o cérebro e esse é um dos problemas mais sérios que enfrentamos quando falamos da infância. Um dos maiores dramas que vivemos no nosso século, para além desta pandemia, diria a maior doença do século, é estarmos muitas horas sentados. As crianças passam na escola milhares de horas sentadas, muitas vezes quietos e calados, em silêncio, o que significa que o paradigma escolar tem que rapidamente ser desbloqueado para uma outra dimensão em que é respeitado o corpo na sua totalidade e não numa visão meramente cognitiva, isso significa que as crianças quando estão na escola têm de ser respeitadas em relação à sua integridade física, emocional, motora e, também, obviamente, cognitiva.

Temos de resinificar as prioridades e colocar em primeiro plano a necessidade que a criança tem em socializar, em brincar e conectar-se com o seu corpo e com as suas emoções e que essa excelência académica que todos procuram, quer os pais quer os professores, em relação a avaliações, a conteúdos completamente formatados, estruturados, em que o ensino é imposto e não é descoberto, em que a criança não é participativa no próprio processo de aprendizagem, seja colocado de lado, porque esse é o grande salto que temos que dar para que as crianças possam aprender vivenciando o seu próprio corpo, aquilo que estão a aprender. O ensino não se impõe, mas o ensino descobre-se, vivencia-se e o brincar é um comportamento ancestral na vida humana, que foi relegado, ao longo das últimas décadas, para um segundo plano porque se considera um comportamento absolutamente inútil, um comportamento que não é produtivo, quando é exatamente ao contrário, a criança a brincar desenvolve um importante desenvolvimento motor, estruturação emocional, pensamento crítico, pensamento estratégico, resposta a desafios e inerentemente uma reconciliação cognitiva que é isso que as crianças necessitam para depois estar aptas a todo o tipo de tarefas que lhes são colocadas diariamente pelos adultos. País e Professores deixem as crianças brincar, a bem do seu equilíbrio pessoal.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.