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Desemprego nos 8,8%. E agora?

A primeira nota é que a taxa de desemprego está mais ou menos ao nível registado antes da Grande Recessão. Os 8,8% são apenas marginalmente superiores aos 8,4% atingidos em 2007
17 Agosto 2017, 12h05

Se há coisa de quatro anos lhe dissessem que o desemprego ia estar hoje nos 8,8%, o que responderia? Eu não sei bem o que diria, mas desconfio da resposta da maioria dos economistas seria algo entre o wishful thinking e o bullshit. Na altura o desemprego chegou aos 17,5% e difundiu-se a ideia que a recuperação seria tímida. O FMI previa que em 2017 este continuasse acima dos 16% (e a OCDE não andava lá muito longe). Não foi assim, e ainda bem.

O que está por detrás desta recuperação notável do mercado laboral? Não tenho uma explicação satisfatória. Sabemos que a relação entre o PIB e o emprego perdeu alguma força ao longo dos últimos anos: a criação de emprego que pode ser obtida através do crescimento económico aumentou desde 2013. Isto levanta várias possibilidades, mas todas elas demasiado especulativas para serem levadas a sério sem alguma análise mais aprofundada. Porém, justificam-se três notas.

A primeira nota é que a taxa de desemprego está mais ou menos ao nível registado antes da Grande Recessão. Os 8,8% são apenas marginalmente superiores aos 8,4% atingidos em 2007. Apesar de a avaliação do mercado laboral não se esgotar neste indicador, a verdade é que ele é o mais abrangente, e os indicadores alternativos a que podemos lançar mão fornecem indicações semelhantes.

(Uma nota dentro desta nota: em 2015 houve uma pausa prolongada na criação de emprego, que foi interpretada como uma inversão de marcha; não era, como foi devidamente alertado aqui e confirmado aqui – e, novamente, ainda bem).

A segunda nota é de conforto pela ausência de interpretações alternativas destes números. É uma saudável melhoria face àquilo que se passou nos primeiros anos da retoma, quando a descida do desemprego foi sistematicamente apresentada como uma ficção estatística produzida pelas subtilezas do Inquérito ao Emprego. As explicações preferidas oscilavam entre a expansão da economia agrícola e do trabalho familiar não remunerado, a emigração, a redução da população activa, a profusão de estágios profissionais, os baixos salários e por aí fora. Não tenho nada contra análises finas que tentam ir para lá dos títulos do INE, não se desse o caso, neste particular, de todas essas análises estarem elas próprias cravadas de erros metodológicos e interpretações abusivas. O solo parece agora menos fértil para essas teorias da conspiração.

A terceira nota pode parecer algo exótica, mas é interessante para todos os que têm seguido os debates em torno da Taxa Natural de Desemprego. Apesar de quase ninguém o ter referido, a taxa de desemprego actual é bastante mais baixa do que qualquer estimativa da taxa natural de desemprego (TND) produzida pela Comissão Europeia. Correspondendo a TND ao nível mais baixo de desemprego que a economia consegue sustentar sem gerar pressões inflacionistas, seria de esperar uma enorme escalada dos preços em Portugal. Como a inflação não dá sinais de vida, temos todas as razões e mais algumas para suspeitar da razoabilidade das estimativas da Comissão Europeia.~

Note-se que não só as previsões da TND mais recentes que parecem pouco informativas. As previsões mais antigas também sugeriam que, com o desemprego actual, a inflação devia estar a carburar como há muito não se via.

Tudo isto sugere que há um problema de fundo associado à forma como a Comissão calcula a TND. E depois de abrirmos esta caixa de pandora é inevitável levantarmos outras questões. Por exemplo: será assim tão impossível o desemprego descer até 7%? E por que não até aos 6%, ou mesmo 5%? O principal argumento contra esta possibilidade é o facto de todas as estimativas sugerirem que a TND é bastante mais alta do que estes números – mas, como acabámos de ver, devíamos olhar para estas estimativas com uma enorme desconfiança.

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