Os rendimentos, as qualificações e a idade são fatores determinantes para os padrões de consumo cultural em Portugal, revelando desigualdades sociais significativas no acesso à cultura, de acordo com um estudo da Universidade de Lisboa publicado esta quarta-feira.
O Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses 2020 revela que, em função do perfil sociográfico dos portugueses, há práticas culturais minoritárias, com destaque para os espetáculos eruditos como o ballet ou a ópera, mas também assimetrias nas idas ao cinema, nos hábitos de leitura e no desenvolvimento de práticas artísticas amadoras.
Nos 12 meses anteriores ao início da pandemia, 41% dos inquiridos foram ao cinema, percentagem que duplicou entre os jovens dos 15 aos 24 anos (82%). A assiduidade nas idas às salas de grande ecrã aparece também associada a inquiridos com formação superior, grandes empresários, profissionais liberais e residentes na área metropolitana de Lisboa e na Região Autónoma da Madeira.
Mas para além da juventude, emprego e localização, os rendimentos são um fator que cria assimetrias: entre os 59% de inquiridos que não foram ao cinema nesse período, sobressaem os de rendimentos abaixo dos 800 euros mensais.
No conjunto de espetáculos e concertos ao vivo, os festivais e festas locais foram os mais frequentados (38%) e os mais baixos índices de assistência verificam-se nos espetáculos eruditos: música clássica (6%), ballet ou dança clássica (5%) e ópera (2%), frequentados por pessoas com rendimentos elevados. “Em contrapartida, as festas locais atraem quem tem habilitações escolares mais reduzidas”, informa o relatório.
Os inquiridos mais jovens e aqueles cujos pais têm ou tinham qualificações académicas superiores reconhecem, com mais frequência, estímulos à leitura em contexto familiar o que revela que democratização do acesso à educação potencia ganhos culturais nas gerações sucessora.
Relembrando a sua infância e adolescência, 61% dos portugueses questionados apontaram a escola como a instituição que mais se empenhou na realização de visitas a bibliotecas, exposições, museus, monumentos e idas a espetáculos de qualquer tipo, contribuindo para a sua participação artística.
“Um dos outputs mais relevantes deste estudo é a centralidade da educação, que pode gerar processos de emancipação culturais independentemente das origens sociais dos inquiridos”, frisou um dos coordenadores, José Pais, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), na apresentação do inquérito apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Isto é visível quando se observa que a afeição dos inquiridos às práticas artísticas amadoras é tanto mais significativa quanto mais elevado é o seu grau de ensino: 32% dos inquiridos com o ensino superior desenvolveram práticas artísticas amadoras, as quais não tiveram grande expressividade no conjunto da população.
Ademais, sete em dez pessoas com escolaridade superior dizem ter frequentado espaços culturais contra os 11% com escolaridade até ao 3.º ciclo. Ademais, é entre os inquiridos com mais baixas qualificações académicas (50%) ou com um baixo classe socioprofissional que mais se alega a falta de interesse ou preferência por outras atividades como razão de escusa.
A utilização da internet espelha o perfil demográfico de Portugal. A percentagem de inquiridos que utilizam a Internet (71%) fica aquém da média alcançada pelos países da UE-27 (90%, segundo o Eurostat 2022) dado que apenas uma em cada quatro pessoas com 65 ou mais anos de idade afirmou usar a Internet.
A idade tem efeitos noutros tipos de consumo. Cerca de sete em dez portugueses lê livros por prazer, mas essa percentagem é maior entre os mais idosos e os de menor instrução. Os que menos prazer retiram da leitura (43%) são os jovens dos 15 aos 24 anos, precisamente os que mais leem para estudar ou realizar trabalhos escolares (45%).
Os coordenadores do estudo destacam que 61% dos portugueses confessaram que, no último ano, não leram qualquer livro impresso, uma percentagem francamente superior àquela registada em Espanha há um ano (38%).
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