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“Dia do fogo”. Criadores de gado suspeitos de atear fogo à Amazónia

Esta iniciativa pode estar na origem das chamas que devastam uma vasta área florestal. Jair Bolsonaro já admitiu não ter recursos para combater os fogos e pede às nações internacionais para não interferirem.
  • Bruno Kelly/Reuters
23 Agosto 2019, 11h36

O Ministério Público Federal (MPF) abriu quatro investigações para apurar as causas dos fogos que estão atualmente a consumir a floresta da Amazónia. De acordo com o jornal brasileiro Folha do Progresso, cinco dias antes do início dos incêndios na Amazónia deu-se inicio a uma operação chamada “Dia do Fogo”, alegadamente organizada por criadores de gado que combinaram atear fogo à floresta.

De acordo com as investigações, o “Dia do Fogo” foi convocado publicamente num jornal do município de Novo Progresso, no sul do Pará. Neste dia, dezenas de produtores rurais terão ateado fogo às suas propriedades numa demonstração de apoio ao presidente brasileiro.

Ainda segundo o MPF, os procuradores questionaram o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) sobre se estava agendada alguma ação preventiva para impedir a realização do “Dia do Fogo”, mas foram informados que, sem o apoio da Polícia Militar, as ações de fiscalização do IBAMA ficariam prejudicadas.

As investigações decorrem numa altura em que o governo de Jair Bolsonaro enfrenta uma crise política causada pelo aumento dos índices de desflorestação e de queimadas neste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.  Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registam um aumento no número de alertas de desflorestação de 278% em junho de 2019 em comparação com o mesmo mês em 2018. Ainda segundo o INPE, o crescimento da quantidade de queimadas foi ainda maior: 84% de um ano para o outro.

Face a este descontrolo sobre os fogos, o presidente Jair Bolsonaro já veio alertar que não tem recursos para combater as chamas. “A Amazónia é maior que a Europa, como vamos combater os incêndios criminosos numa área como essa?”, perguntou ele aos repórteres ao deixar a residência presidencial. “Nós não temos recursos para isso.”

Criticas a nível internacional 

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já manifestaram preocupação em relação aos incêndios que atingiram um número recorde este ano. Bolsonaro respondeu com raiva ao que ele considerava intromissão a nível internacional. “Esses países que enviam dinheiro aqui não enviam por caridade…Eles enviam isso com o objetivo de interferir na nossa soberania ”, disse ele em uma transmissão ao vivo no Facebook.

Emmanuel Macron apelou na quinta-feira para que os incêndios na Amazónia sejam discutidos na cimeira do G7, que se realiza este fim de semana em Biarritz, sudoeste de França, afirmando que se trata de uma “crise internacional”. Em resposta, Jair Bolsonaro acusa o presidente francês de “mentalidade colonialista” e de querer alcançar “ganhos políticos pessoais”.

Crise no Governo de Bolsonaro

O aumento da desflorestação e das queimadas na Amazónia impulsionaram uma nova crise no governo do presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos meses, o governo demitiu o ex-diretor do INPE Ricardo Galvão e desentendeu-se com os governos da Alemanha e Noruega, dois dos principais financiadores do Fundo Amazônia. Face às incertezas sobre a política de preservação da Amazónia, a Alemanha suspendeu os investimentos do país em projetos voltados para o meio ambiente. A Noruega adotou a mesma postura.

Nos últimos dois dias, o presidente Jair Bolsonaro chegou a levantar suspeitas, ainda que sem provas, do envolvimento de organizações não-governamentais no aumento das queimadas. Acusou também, sem mencionar nomes, os governadores da região Norte porque, segundo ele, não estão a “mexer uma palha” para combater os fogos.

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