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Dia Europeu do Ex-Fumador: “Prevenir não é um custo, é o investimento mais inteligente”

Esta sexta-feira assinala-se o Dia Europeu do Ex-Fumador e o pneumologista José Coutinho Costa destaca ao JE que Portugal continua a “investir pouco” em campanhas educativas e em estratégias consistentes de prevenção. “É tempo de inverter esta lógica”, defende o especialista.
26 Setembro 2025, 08h10

Deixar de fumar é um caminho que exige apoio, informação séria e políticas de saúde rigorosas. Quem o defende é José Coutinho Costa, Pneumologista e Coordenador da Comissão de Trabalho de Asma e Alergologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, em entrevista ao JE.

Esta sexta-feira assinala-se o Dia Europeu do Ex-Fumador e este especialista destaca ao JE que Portugal continua a “investir pouco” em campanhas educativas e em estratégias consistentes de prevenção e que está na altura de inverter essa lógica.

Que mensagem é importante passar aos fumadores que não estão a pensar em deixar de fumar?
Para quem fuma e não está a pensar em parar, a mensagem não deve ser de censura, pois criticar afasta, não aproxima. O mais importante é reforçar que nunca é tarde para deixar de fumar e que os benefícios para a saúde e bem-estar são enormes. A cada dia sem fumar, o corpo inicia um processo de recuperação e, em apenas 20 minutos, a pressão arterial e o ritmo cardíaco começam a estabilizar. Após algumas semanas, a função respiratória melhora e, a longo prazo, o risco de doenças graves diminui drasticamente. Não se trata de uma decisão abstrata para um futuro distante, mas de um investimento concreto no presente. Sabemos que deixar de fumar nem sempre é fácil. Mas atualmente existem estratégias que fazem toda a diferença, como consultas de cessação tabágica e terapias farmacológicas, que ajudam muito e contribuem para aumentar as taxas de sucesso. E é fundamental sublinhar que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem.
O Dia Europeu do Ex-Fumador não é, por isso, apenas uma efeméride simbólica. É uma oportunidade para refletirmos sobre os desafios que ainda persistem na luta contra o tabaco e sobre a forma como, enquanto sociedade, podemos apoiar quem fuma a libertar-se de uma dependência que permanece um dos principais fatores de doença e morte evitável.

Portugal é um país que se adapta a novas tendências com alguma rapidez: as novas formas de consumir tabaco são um caminho para deixar de fumar ou esse não é um cenário que se coloque?
Portugal tem mostrado, em várias áreas, capacidade de se adaptar rapidamente a novas tendências. O mesmo acontece com estes “produtos alternativos de nicotina” — cigarros eletrónicos, tabaco aquecido ou outros dispositivos que prometem reduzir os malefícios do consumo. A evidência científica ainda é insuficiente, mas sabemos que estes produtos continuam a expor o organismo a substâncias nocivas. Além disso, para muitos jovens, estes dispositivos são a porta de entrada para a dependência da nicotina. Ou seja, em vez de funcionarem como transição para o abandono do consumo, podem perpetuar o ciclo de dependência. Nesse sentido, não são uma solução para deixar de fumar, mas antes um risco de manter a dependência.

Quando se fala da sustentabilidade do SNS, fala-se também da prevenção atempada de doenças. Essa é uma tendência que deve ser acautelada? Previne-se pouco em Portugal?
A sustentabilidade do SNS exige que se fale de prevenção. O tratamento das doenças associadas ao consumo de tabaco — cancro do pulmão, doenças cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crónica — consome recursos humanos e financeiros que poderiam ser utilizados numa aposta séria na prevenção. No entanto, Portugal continua a investir pouco em campanhas educativas e em estratégias consistentes de prevenção. É tempo de inverter esta lógica: prevenir não é um custo, é o investimento mais inteligente que podemos fazer na saúde e no futuro do SNS. Programas educativos nas escolas, campanhas continuadas (não apenas pontuais) e maior acessibilidade a consultas de cessação são passos fundamentais.
E é por isso que neste Dia Europeu do Ex-Fumador a mensagem dever ser clara: é possível deixar de fumar, mas o caminho exige apoio, informação séria e políticas de saúde rigorosas. A responsabilização deve ser coletiva: apoiar quem decide deixar de fumar, regular sem complacência as novas formas de consumo e apostar, de uma vez por todas, na prevenção.

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