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Dietmar Hopp: De homem mais odiado do futebol germânico a grande esperança de uma cura para o Covid-19

Ganhou uma fortuna com “software” e com jogadores de futebol e talvez se preparasse para fazer outro tanto com uma vacina que ainda nem sequer existe. A polémica entre a Alemanha e os Estados Unidos acabou por trazer ao de cima o homem simples e preocupado com a humanidade que parece também haver dentro de si.
22 Março 2020, 21h00

Confortavelmente instalado em cima de uma fortuna pessoal avaliada em mais de 11 mil milhões de euros – o que o coloca na 96.ª posição do ranking da revista “Forbes” – o alemão Dietmar Hopp parece gostar de envolver em polémica tudo aquilo em que se mete. Enquanto a coisa anda pelos futebois, a polémica vai servindo para animar os jornais da especialidade, as mesas de café da cidade onde nasceu, Hoffenheim (uma terrinha próxima de Heidelberg) e o estádio de futebol da equipa local, a TSG 1899 Hoffenheim, que ele próprio mandou construir, por 100 milhões de euros.

Mas, desta vez, Dietmar Hopp terá ido longe demais. Tudo por causa da empresa Cure Vac, por ele controlada, que está a trabalhar intensamente na descoberta de uma vacina para o Covid-19 e motivou uma disputa entre Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e Angela Merkel, chanceler da Alemanha.

Em causa estava, dizia-se, a comercialização da vacina, que Trump queria puxar em regime de exclusivo para os Estados Unidos, coisa que Merkel não parecia estar disposta a admitir. O episódio acabou por resultar numa enorme confusão, desde logo porque muita gente pensou ter percebido que uma vacina estaria prestes a retirar o planeta do pesadelo em que caiu no último mês. Ora, não era nada disso que sucedia – a Core Vac não está a finalizar coisa nenhuma – mas num ambiente social que se está a aproximar perigosamente dos piores dias da Idade Média, a confusão era absolutamente desnecessária.

Hopp já veio desmentir que esteja a pensar vender o exclusivo da vacina – quando ela existir – para os Estados Unidos, única saída que lhe restava depois de ouvir da boca do ministro da Economia alemão, Peter Altmaier, que “a Alemanha não está à venda”. Sendo um liberal, Dietmar Hopp sabe que, ao contrário do que disse o ministro, tudo está, por definição, à venda – mas talvez o polémico empresário não esteja interessado em comprar uma guerra que, se o poderoso Estado alemão quiser, acabará por fazer-lhe a vida negra, seja onde for que ele se vá esconder.

Desde que a polémica se instalou, Hopp optou por vestir a farda do empresário responsável. Explicou em entrevista (ao site do clube, de que detém 98% das ações, coisa que chegou a ser ilegal) que já investiu mais de 1,5 mil milhões de euros na área da biotecnologia – parte deles precisamente na Cure Vac, uma startup que tinha como finalidade encontrar a cura para o cancro. Hopp disse também que uma eventual vacina para o Covid-19 não será coisa para surgir nos tempos mais próximos, tendo tido por isso a preocupação de clarificar o equívoco que criou com a polémica entre os governos da Alemanha e dos Estados Unidos. “Queremos desenvolver uma vacina para todo o mundo e não apenas para um país, para determinadas classes ou para determinadas partes do nosso planeta. Esta vacina, assim que esteja desenvolvida e testada com sucesso, não será um instrumento de especulação ou de poder, vai sim ajudar a conter uma crise global”, disse.

As injeções de capital na Cure Vac têm como origem uma fundação que Dietmar Hopp criou (a Dietmar Hopp Stiftung) depois de deixar a SAP, uma software house que criou com mais quatro amigos, tal como ele dissidentes da IBM, e que foi a causa da sua avantajada fortuna (e de que detém ainda uns 10%). Nas suas andanças pelo mundo (muito confuso, opaco e inviolável) das benfeitorias das fundações ligadas a grandes nomes do empresariado global, Hopp acabou por encontrar a Fundação Bill & Melinda Gates, que parece que também decidiu investir na Cure Vac – até porque a startup também pretendia encontrar uma vacina para a malária, objetivo central do fundador da Microsoft. Ora, esta parece ser a ligação inicial entre a Alemanha e os Estados Unidos e a possível razão de todo a aparatosa polémica que surgiu entretanto.

Hopp é também conhecido por ser o proprietário do Domaine de Terre Blanche, um resort no sul de França que comprou ao ator Sean Connery, mas o TSG 1899 Hoffenheim é o seu principal ativo, sendo a partir daí que tem aumentado a sua fortuna. Segundo a imprensa desportiva, Hopp especializou-se em ir buscar jovens promessas aos clubes de futebol brasileiros, que depois vende no mercado europeu com lucros fabulosos.

Carlos Eduardo, comprado ao Grêmio e vendido ao Rubin Kazan, da Rússia; Luiz Gustavo, que veio do Corinthians e acabou no Bayern de Munique; e Roberto Firmino, oriundo do Figueirense e que foi parar ao Liverpool, são três exemplos do seu toque de Midas no futebol: pagou um agregado de 4,3 milhões, para receber 38 milhões. Nada mau.

Seja como for, os adeptos da equipa não gostam dele – por uma razão que se desconhece, dado que não faltam na Europa empresários (mesmo de outras geografias) que usam os clubes para deles fazerem ‘gato-sapato’ enquanto a FIFA, ou lá o que seja, assobia para o lado. Talvez os adeptos do TSG 1899 Hoffenheim sejam ‘à moda antiga’, mas o certo é que muitos deles têm sido multados e impedidos de assistir ao jogos da sua equipa por insultarem o empresário sempre que ele aparece por perto.

Impávido, Dietmar Hopp vai sempre fintando estes adversários, sendo que mais adiante se verá se o Covid-19 será ou não mais uma área onde vai aplicar as suas táticas de enriquecimento.

Artigo publicado na edição de 20-03-2020 do Jornal Económico. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor

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