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Digitalização como forma de acelerar a sustentabilidade

Angel Garcia Bombín, Industrial Digital Transformation Director da Sonae Arauco, Carlos Oliveira, da Direção de Engenharia da Generg e Victor Moure, country manager da Schneider Portugal, explicam na conferência “Indústria Digital e Sustentável”, promovida pelo JE e pela Schneider, o nível de digitalização que alcançaram e os benefícios obtidos nos objetivos propostos para a sustentabilidade.
7 Junho 2022, 11h52

Um produtor mundial da indústria de painéis de derivados da madeira, um grupo de energia renovável e um especialista em automação e transformação digital partilham os processos de digitalização para alcançarem níveis de sustentabilidade mais avançados e serem mais competitivos a nível internacional. Eis as experiências relatadas pela Sonae Arauco, pela Generg e pela Schneider Portugal na conferência “Indústria Digital e Sustentável”, promovida pelo Jornal Económico em parceria com Schneider.

Esta conferência abordou a evolução ocorrida nos processos de digitalização, que registaram uma aceleração consistente nos últimos anos, não só por causa das necessidades criadas pela pandemia de Covid-19, mas também pela alteração do enquadramento em que as empresas trabalham, com o decisor político a apostar neste caminho – como é comprovado pelas linhas de orientação para as políticas europeias.

Também a situação de emergência climática em que nos encontramos tornou incontornável a melhoria da eficiência energética, com efeitos práticos nos planos delineados pelas organizações. Este foi o ponto de partida para a conversa gravada na JETV, onde procurámos saber como a digitalização tem evoluído, como tem contribuído para a sustentabilidade das operações empresariais, que soluções têm sido desenvolvidas e como podemos olhar para o futuro.

 

Sonae Arauco, Generg e Schneider Portugal

Participaram nesta conferência Angel Garcia Bombín, Industrial Digital Transformation Director da Sonae Arauco, Carlos Oliveira, da Direção de Engenharia da Generg e Vitor Moure, country manager da Schneider Portugal.

Foram dadas respostas às principais questões sobre o tema, designadamente, “em que ponto do processo de digitalização se encontram as empresas participantes”, “qual foi o impacto do processo de digitalização”, “quais são os principais objetivos de sustentabilidade propostos pelas empresas”, e “qual foi o contributo do processo de digitalização para o cumprimento desses objetivos de sustentabilidade”.

Além disso, a conferência questionou “as principais dificuldades que enfrentam/enfrentaram para tornarem as respetivas operações mais sustentáveis”, além da questão dominante sobre a “importância da gestão de dados (recolha, tratamento)” no contexto atual e a perspetiva com que “podemos olhar para o futuro”.

 

Onde chegou a digitalização

Respondendo à questão sobre o ponto do processo de digitalização em que se encontram as três empresas participantes na conferência, Angel Garcia Bombín, Industrial Digital Transformation Director da Sonae Arauco, explicou que a sua empresa começou o processo de digitalização em 2016 e já têm um longo trabalho desenvolvido. “Começámos por assentar umas boas bases, juntamente com o nosso parceiro de IT e definimos a rede preparada para a arquitetura 4.0 das nossas unidades fabris”, conta.

“Trata-se de uma arquitetura híbrida onde temos sistemas que estão a funcionar dentro das fábricas, mas que também ficam contactáveis pela cloud – em rigor são multi-cloud porque temos aplicações que estão a funcionar em diferentes níveis. Queremos que tenham uma boa base, permitindo uma boa conectividade e a partilha de toda a informação entre todos os departamentos, com a captura de dados em tempo real, tendo em conta uma governança IT/OT (Operational Technology), muito focada em que seja algo prático, que traga valor desde o início à nossa organização”, explica. “Destacámos a eficiência e a melhoria contínua, introduzindo neste processo de digitalização todos os diferentes departamentos que podem contribuir, desde a produção e manutenção, a qualidade mas também temos todo o departamento de melhoria contínua e de Recursos Humanos, porque a digitalização implica a gestão da mudança e a formação das pessoas, muito focada na transformação também da cultura, porque sem ela, ao final, o sistema digital não funciona”, refere Angel Garcia Bombín.

 

Sonae Arauco focada na Indústria 4.0

O responsável da Sonae Arauco explica que foi “um processo de digitalização muito focado na indústria 4.0 e descentralizado por via dos diferentes acessos pela cloud. O acesso pode ser feito dos mais variados locais, mas sempre localizamos todas as nossas fábricas; os utilizadores, para acederem às ferramentas digitais, vão entrar por um único portal, de onde podem aceder a tudo o que estiver disponível. Isso é uma enorme ajuda”, diz.

Questionado sobre quantas fábricas estão neste processo e quantos trabalhadores envolve, Angel Garcia Bombín esclarece que o processo incluiu “as nove grandes fábricas que o grupo tem no mercado ibérico, tanto em Portugal, quanto em Espanha, na Alemanha e na África do Sul; para elas isto já é uma realidade. Todas têm o sistema de captação de dados em tempo real e as ferramentas para poderem gerir as fábricas em tempo real. Quanto aos trabalhadores, tanto podemos ter 20 a 25 pessoas de áreas diferentes, que, no final, vão ser vários centos de trabalhadores envolvidos, porque estas aplicações estão a ser utilizadas por operadores, passando pelos supervisores, até aos gestores de planos (plan managers) de todas as nossas unidades industriais”.

 

Generg inicia digitalização antes do boom das eólicas

Em resposta à mesma questão – em que ponto do processo de digitalização se encontra a Generg, empresa nacional com mais de 30 anos de atividade no sector das energias renováveis – Carlos Oliveira, da Direção de Engenharia da Generg, adiantou que “começámos antes de ser conhecido o boom das eólicas, no início da nossa atividade, que foi feito através das mini-hídricas. A empresa formou-se em 1988, com o primeiro kW renovável a ser produzido em abril de 1992, através de uma mini-hídrica. Hoje em dia, o grupo sofreu alguma transformação, pois a Generg foi entretanto integrada no Grupo Nova Energia e, mais recentemente, no Grupo Total, com sede em França”, explica Carlos Oliveira.

A Generg opera em Portugal ativos renováveis, “mas no sector da engenharia temos participação dentro do Grupo Nova Energia, que já tem uma abrangência europeia, e opera cerca de 640 MW espalhados, ou repartidos, por cerca de 55 instalações na Europa – na Bulgária, Polónia, Itália, França e Portugal”, refere Carlos Oliveira.

Tendo esta abrangência, dentro de Portugal, Carlos Oliveira explica ainda que “temos também centros electroprodutores, desde o Minho ao Alentejo, em três sectores – a Generg tem centros electroprodutores no solar, eólico e hídrico”.

“Temos uma abrangência grande e a digitalização é importante no sentido de nos garantir uma uniformidade de comunicação, atravessando as várias línguas e as várias culturas com que temos de lidar, permitindo a uniformização dessa informação e a troca dessa informação”, adianta.

 

Da iluminação led à eletrificação da frota auto

Além disso, o responsável da Direção de Engenharia da Generg refere que “a digitalização e a sustentabilidade também começaram por ser consagradas na carta de valores da Generg, em pequenos passos operacionais relacionados com a sustentabilidade, nomeadamente através da incorporação da iluminação led, através da maior eficiência nos sistemas de energia e da utilização da energia racional e, mais recentemente, também na eletrificação da nossa frota, que está em curso, com a instalação de carregadores de carregamento rápido, mais eficientes, o que abrange todo o conjunto de medidas que operamos na área da sustentabilidade”.

Na área da digitalização, e concretamente no departamento de engenharia, “nós temos tido a preocupação de digitalizar processos, utilizando softwares que permitam projetar de forma mais eficiente e mais rápida – porque queremos ter a sustentabilidade e a digitalização como uma oportunidade de melhoria para sermos mais eficientes, reduzirmos desperdícios e melhorarmos a nossa performance, reduzindo também os custos. Estamos num estado atual em que diria que não concluímos o nosso processo de digitalização – mas julgo que este se trata de um processo contínuo. Estamos a implementar softwares, implementando processos e integrando também as nossas operações através de um centro de despacho. Considero que este centro de despacho é o culminar do nosso processo de digitalização das operações, porque nos permite coordenar nas várias geografias, incluindo os nossos ativos internacionais, além de integrar e coordenar todas as nossas atividades, a partir do nosso centro de despacho conseguimos encurtar distâncias e evitar deslocações e gastos desnecessários e até melhorar a nossa pegada ecológica”, adianta o responsável da Direção de Engenharia da Generg.

“Através deste centro de despacho conseguimos operar controlar e intervir apenas em caso de extrema necessidade ou de resolução de avarias. Há um processo em curso. Julgo que estamos no bom caminho”, considera Carlos Oliveira.

Talvez o mais importante seja o facto de que “o processo de digitalização da Generg permite padronizar o tipo de eficiência energética que partilham e seguem nas várias geografias em que operam e manter uma homogeneidade de procedimentos que abranja todas as atividades, incluindo o centro de despacho de produção de energia nas várias geografias em que estão presentes”, conclui o responsável da Direção de Engenharia da Generg.

 

Schneider quer liderar transformação digital

Finalmente, para a Schneider Portugal, o ponto de digitalização em que a empresa se encontra, segundo Victor Moure, country manager da Schneider Portugal, segue as prioridades da sua atividade core. Victor Moure explica que a Schneider “trata da automação e quer ser líder na transformação digital e na transição energética das empresas portuguesas”.

“Em Portugal, e nos nossos edifícios, mantemos a conectividade de todos os dados existentes, para podermos utilizar esses dados nos sistemas e tomarmos decisões, mas a nossa vontade está sobretudo em querer ajudar as empresas como as que temos aqui, pelos exemplos também transmitidos nesta conferência por Carlos e Angel, para podermos fazer isso de uma forma fácil e, sobretudo, para que a informação se possa converter em conhecimento”, explica Victor Moure. Ou seja, “para podermos tomar decisões. Para nós, a transformação digital é o processo de converter o enquadramento empresarial em dados, para depois poderem ser trabalhados e analisados. Diria que o que estamos a ver e a tentar ajudar é que esses dados não fiquem enjaulados numa gaiola, evitando que depois não possam fluir para o resto da organização. Por isso é importante que os dados tenham contextos, e que esse contexto também seja em tempo real e que possa fluir para o resto da organização, porque para esses dados, sem a possibilidade de poderem chegar aos diferentes departamentos, não haveria nenhuma possibilidade de extrair valor deles”, comenta.

“As anteriores apresentações de Carlos e de Angel mostram que estamos a viver algo que não acontece na média das empresas. Os processos das empresas que aqui estão andam bastante mais avançados. Há necessidade de fazer alguma coisa em favor desta transformação. Agora vemos que a transformação digital permite-nos obter dados para podermos tomar decisões, mas com tudo o que vem da transição energética será ainda mais importante para podermos decidir como e quando poderemos produzir e de que forma mais eficiente”, refere o country manager da Schneider Portugal.

 

Portugal em 18º no ranking europeu da digitalização

No caso da Schneider, “a digitalização está mais vocacionada para a recolha de dados e para o trabalho desses dados, para depois serem todas decisões executivas”. Mas será que o que se passa na Schneider em outros países acompanha o que acontece em Portugal, ou o caso de Portugal está adiantado em relação aos restantes mercados onde opera a Schneider? “Portugal ocupa a décima oitava posição no ranking europeu de digitalização das empresas, entre os 27 Estados membros. Aqui podemos tirar duas conclusões: uma sobre a perspetiva de que estamos no meio da tabela, que nos mostra que ainda temos muito a fazer. Há países que já alcançaram um nível de digitalização mais avançado, porque provavelmente aí as empresas são maiores, têm uma dimensão superior. Em Portugal o tecido económico é composto por pequenas e médias empresas. Há muita indústria de média dimensão. Aqui a nossa vontade é ajudar estas empresas para que possam ter as mesmas oportunidades, com competitividade, para que possam gerir esta situação, que é boa. Porque a digitalização e a tecnologia utilizada não é algo que se alcançará daqui a cinco anos, mas sim algo que já temos. Será mais tecnologia da que pode ser assimilada por cada um de nós. A velocidade é muito importante para poder implementar isto e não ficarmos para trás neste processo de transformação”, refere o country manager da Schneider Portugal.

É um facto que Portugal está em 18º lugar no ranking europeu da digitalização. Cumpre saber quais são os países mais atrasados e os que estão mais avançados? “Os mais avançados são os países nórdicos, a Noruega, a Suécia. Espanha estaria mais ou menos no mesmo lugar, entre os países como nós. Os mais atrasados são a Grécia e outros onde o processo de digitalização ainda está por desenvolver, tais como países do Leste da Europa”.

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