[weglot_switcher]

Do café aos móveis. Bloqueio no Canal do Suez pode provocar falha de bens

A Europa pode ser o continente em que a escassez de café seria sentida com mais intensidade, mas o impacto poderá ser global caso os atrasos se comecem a acentuar com a falta de porta-contentores para transportar o produto.
27 Março 2021, 21h18

A pandemia trocou as voltas a muitos produtos importados, e o bloqueio do porta-contentores EverGreen tem provocado muitos mais atrasos nas importações desde que encalhou na margem do Canal do Suez na passada terça-feira, 23 de março. O bloqueio desta embarcação pode provocar falhas no abastecimento de papel higiénico, café e móveis, de acordo com o “Business Insider”.

O especialista em transportes de contentores, Lars Jensen, admitiu que o bloqueio pode afetar “basicamente tudo o que se vê nas lojas”. Apesar das operações estarem a decorrer desde que o navio ficou preso num banco de areia, pouco se moveu, o que tem dificultado as previsões de abastecimento do mundo.

O cargueiro com 224 mil toneladas bloqueou a passagem de largas centenas de outros navios de carga quando encalhou, bloqueando ainda umas das vias comerciais mais movimentadas do mundo, por onde passa 12% do comércio global. Várias empresas, como a Nike, Costco, Toyota, Honda e Samsung, admitiram que os seus negócios já estavam a lutar contra a escassez de materiais por causa da pandemia, sendo que esta nova situação coloca mais pressão sobre os resultados financeiros deste trimestre.

Se a pandemia gerou uma corrida ao papel higiénico, causando falta de stocks em quase todas as lojas do mundo, este volta a ser um dos produtos afetados pelo bloqueio da via marítima. A Suzano, maior produtora mundial de celulose, cuja matéria-prima está presente no papel higiénico, já alertou que esta crise poderá começar a criar obstáculos no fornecimento deste produto.

Walter Schalka, CEO da Suzano, está preocupado que os problemas do transporte de produtos sofram um efeito ‘bola de neve’, piorando o volume de exportações, sendo que a empresa já apontou que este bloqueio deve atrasar as entregas em até um mês. Interrupções significativas no comércio de celulose podem eventualmente impactar o fornecimento de papel higiénico se os produtores não tiverem stocks amplos.

Os preços do papel higiênico também podem subir, já que os atrasos nos portos, mesmo fora do Canal de Suez, aumentam o preço do transporte marítimo.

Também o café instantâneo da Nescafé está a ser afetado pelo tráfego parado no Suez, com vários contentores cheios deste produto. A Europa pode ser o continente em que a escassez de café seria sentida com mais intensidade, mas o impacto poderá ser global caso os atrasos se comecem a acentuar com a falta de porta-contentores para transportar o produto.

Os torradores de café no continente já estão a sentir dificuldades em obter café do Vietname, o maior produtor de robusta do mundo, devido à falta de transportadores. Quando a disponibilidade começou a melhorar, o bloqueio da via trouxe outra dor de cabeça, uma vez que todos os grãos de café que a Europa importa da África Oriental e da Ásia são transportados através do Suez.

A indústria dos móveis foi impulsionada com a pandemia, uma vez que muitas pessoas optaram por remodelar as suas habitações durante a pandemia devido ao novo estilo de vida a que o teletrabalho exige. No entanto, com este bloqueio, diversos clientes já viram as datas de entregas dos móveis atrasadas por vários meses.

Ainda antes do bloqueio no Suez, o porto no sul da Califórnia, onde os contentores da Ásia desembarcam, já estava a verificar um forte congestionamento, o que atrasou as entregas. Várias lojas estimam que devido a esta situação só consigam entregar móveis no fim do ano.

Uma estimativa aproximada mostra que este bloqueio está a custar 340 milhões de euros por hora, com base em cálculos do Lloyd’s List, que sugerem que o tráfego marítimo para o oeste vale cerca de 4,1 mil milhões de euros por dia e o tráfego para o leste aproximadamente 3,8 mil milhões.

O Canal do Suez é responsável pela passagem de 12% do comércio global, tanto que as potências mundiais lutam por esta via marítima desde que esta foi concluída, em 1869. Com a passagem bloqueada, o Egito está a perder cerca de 11,8 milhões de euros por dia em receitas.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.