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Do “Shark Tank” à digitalização do futebol. Startup do Porto quer transformar relação entre adeptos e clubes

“A ideia é trazer para o mundo de futebol alguns aspetos de personalização da relação entre o clube e o adepto”, afirmou o diretor executivo da Lapa Studio, Fernando Freitas, ao Jornal Económico.
  • Reuters / Matthew Childs
17 Julho 2019, 07h42

A Lapa Studio, uma startup do Porto que ganhou notoriedade na versão portuguesa do programa “Shark Tank”, propondo recorrer à tecnologia para solucionar o problema de objetos perdidos e achados, entrou recentemente em campo pela digitalização do futebol, apresentando ao mercado um cartão de sócio inteligente. O Lapa Card promete aproximar, simplificar e personalizar a relação entre um clube de futebol e os seus adeptos, tendo conquistado já uma parceria com o Vitória de Guimarães.

“A ideia é trazer para o mundo de futebol alguns aspetos de personalização da relação entre o clube e o adepto”, afirmou o diretor executivo da Lapa Studio, Fernando Freitas, ao Jornal Económico. Para Freitas, a lealdade do adepto de futebol ao seu clube aliada às capacidades do Lapa Card vai transportar o nível de relacionamento entre ambos para outro patamar.

Diretor Executivo da Lapa Studio, Fernando Freitas

O Lap Card foi apresentado ao mercado como um “canivete suíço dos cartões de alta tecnologia”, permitindo armazenar informações de contas, bilhetes e parceiros diversos num único suporte físico.

Este cartão de sócio inteligente “permite desenhar interações de forma multidirecional entre uma organização ou clube, os seus sócios ou membros e o mundo físico e digital – quer do lado dos emissores dos cartões, quer do lado dos seus parceiros comercias”, acrescentou o diretor executivo da Lapa Studio.

“Essas interações vão desde acesso a determinadas zonas – estádio, zonas VIP, espaços privados – passando pela receção de publicidade direcionada no local de compra, até ao pagamento contactless com o cartão , ao armazenamento de bilhetes, a entradas ou passes”. Diretor executivo da Lapa Studio, Fernando Freitas, ao Jornal Económico. 

Com o cartão de sócio inteligente criado pela Lapa Studio será possível que um adepto venha a usufruir de uma série de outros serviços de outras entidades ou empresas que tenham parcerias com o clube desse adepto. Por exemplo, seria possível um adepto com este cartão inteligente ter acesso a um pacote de subscrição, por exemplo, de uma canal de conteúdos desportivos? Fernado Freitas contou que “sim, seria perfeitamente possível, mas dependerá sempre das parcerias comerciais existentes ou a estabelecer pelos clubes de futebol”.

O Lapa Card será, desta forma, uma nova ferramenta de intereção e de consumo, mas também constitui um novo canal de receitas para os clubes angariarem novas receitas, enquanto aumentam a sua comunidade de associados e promovem e valorizam o ecossistema de marcas do clube.

“Numa primeira linha, o sócio, adepto e simpatizante terá uma experiência de mais completa, personalizada e melhorada, estimulando o seu consumo de tudo o que estará relacionado com a sua equipa. Particularmente, das coisas que mais apreciar porque a informação ser-lhe-á direcionada de forma personalizada. Ao mesmo tempo, a relação do clube, parceiros e adeptos é estimulada de forma efetiva, gerando mais valor de forma tripartida”, Diretor executivo da Lapa Studio, Fernando Freitas, ao Jornal Económico.

Investimento, perspetivas e interessados
Depois de um investimento de 1,5 milhões de euros na criação deste cartão de sócio inteligente, a Lapa Studio encontrou o primeiro cliente em Guimarães. Em meados de maio, o Vitória Sport Clube, vulgo Vitória de Guimarães, anunciou ter chegado a acordo com a startup do Porto para que os cartões de sócio do clube vimaranense seja o Lapa Card, pelo menos durante a época 2019/2020. Os valores envolvidos na parceria não foram divulgados.

O Vitória de Guimarães foi o primeiro clube a adoptar o Lapa Card, mas Fernando Freitas contou ao Jornal Económico que há “mais um contrato assinado com um clube nacional que será anunciado em breve” e assegurou que há interesse de outros clubes portugueses, bem como de clubes de outros campeonatos de grande dimensão do desporto rei.

Lapa Card – Cartão de Sócio Inteligente

“O Lapa Card está a gerar muito interesse junto dos clubes de futebol. Estamos em fase final de negociação com mais três clubes portugueses e com outros três do campeonato espanhol. A La Liga [principal campeonato de Espanha e um dos cinco maiores da Europa] tem certas especificidades que obrigam-nos a adaptar o projeto”, revelou.

O objetivo da Lapa Studio é conseguir ter no mercado 500 mil Lapa Card ativos em dois anos, entre sócios, simpatizantes e adeptos, no mercado português, e chegar a milhão de cartões ativos em mercados internacionais, “Espanha e Itália numa primeira fase”, de acordo com o diretor executivo Fernando Freitas.

Questionado sobres os encargos que o Lapa Card acarreta para o clube, o executivo da Lapa Studio desmistificou: “Dependerá do tipo de contrato que fazemos com a instituição pois como alternativa a um investimento elevado para implementar o projeto, e fazê-lo crescer posteriormente, gostamos que o nosso preço fique ligado ao sucesso do projeto”.

Uma via para  a digitalização do futebol
O cartão de sócio inteligente da Lapa Studio é uma forma de abrir caminho à tecnologia para a digitalização do futebol noutros terrenos de jogo, visto que com esta ferramenta e outras idênticas “os clubes irão ultrapassar o nível de relacionamento alcançado em organizações mais especializadas”, cujo objetivo será sempre o de melhorar a experiência do adepto de futebol. O desporto rei já não se limita à modalidade, é hoje uma indústria que se alimenta, sobretudo do engajamento dos fãs.

“Essa anunciada digitalização melhorará a experiência do fã de futebol: estimulará a ida aos estádios; permitirá melhorar a segurança no processo de entrada nos estádios; possibilitará conhecer melhor os hábitos dos adeptos, levando consequentemente ao melhoramento da sua experiência”. Diretor executivo da Lapa Studio, Fernando Freitas, ao Jornal Económico. 

“No caso de dois clubes com a nossa infraestrutura [um dos clubes será revelado futuramente], a troca de bilhetes nos dias de jogo entre as suas equipas pode passar a ser totalmente digital, permitindo a entrada de forma transversal com controlo de segurança total, e a fácil revenda de bilhetes por parte dos sócios, com ganho para os próprios e para o clube, fica também facilitada”, explicou o responsável da startup do Porto, quando questionado de que forma e como Portugal pode beneficiar dessa digitalização.

E por este caminho, a Lapa Studio não só quer exportar o produto, o Lapa Card, como quer internacionalizar a tecnologia que tornou possível a sua criação.  “Temos como objetivo expandir internacionalmente a tecnologia do cartão de sócio inteligente – e não apenas no universo dos clubes de futebol”, disse.

Questionado sobre quem assume a responsabilidade de gerir e controlar as informações de todos os associados ao Lapa Card, Fernando Freitas contou que depende sempre da tipologia do contrato e da relação estipulada com a empresa-cliente. “Poderemos ser nós ou o nosso interlocutor a fazer essa gestão. Mas sempre no estrito cumprimento do Regulamento Geral da Proteção de Dados”, concluiu.

A aposta da Lapa Studio na indústria do futebol é um compromisso recentemente assumido pela startup fundada por dois antigos alunos da Universidade do Porto. A Lapa Studio foi criada para suportar a criação, desenvolvimento e produção de um tracking device para detetar objetos perdidos, tendo sido vendidos até hoje 200 mil unidades em 61 países.

Esta startup tecnológica ganhou notoriedade depois de ter arrecadado investimento na primeira temporada do “Shark Tank Portugal”, programa que foi exibido pela SIC. Hoje, é maioritariamente detida pelo empresário João Koehler que, entretanto, comprou a participação dos dois fundadores.

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