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Doing Business Angola: A experiência de quem faz no terreno

A edição de 2025 do evento Doing Business Angola decorreu esta segunda-feira, em Lisboa. O painel ” A experiência de quem faz no terreno” contou com Nuno Vaz, João Traça, Luís Campos Ferreira e Carlos Firme.
2 Junho 2025, 15h50

A experiência de quem faz no terreno foi o tema de um dos primeiros painéis do evento Doing Business Angola 2025, com intervenção de Nuno Vaz, CEO do Banco Atlântico Europa, João Traça, presidente da CCIPA, Luís Campos Ferreira, presidente da UCCLA, e Carlos Firme, presidente do conselho executivo da Fortaleza Seguros.

Numa sala que deixa clara a parceria entre Portugal e Angola, Luís Campos Ferreira começou por referir isso mesmo: “Angola teve um papel essencial, estou a falar dos anos em que Portugal foi intervencionado pela Troika. Angola foi uma ajuda muito importante para nós”, afirmou, referindo-se à quantidade de empresas que exportaram para Angola ou receberam portugueses para trabalhar. “Só com a internacionalização é que as empresas portuguesas conseguiram sobreviver”, disse.

Luís Campos Ferreira, presidente da UCCLA

Esta cooperação continua tão atual como era entre esse período de 2011 a 2014. Hoje, Luís destaca as oportunidades na área da formação, uma vez que Angola tem uma população muito jovem, e a nível habitacional, com as necessidades na área da construção. “Quem terá maior sucesso não é quem faz planeamento no papel e tem mais capital, é quem tem mais capacidade de se adaptar à lógica local. Estamos a falar de um país jovem, que está a dar os seus primeiros passos e precisa do seu tempo”, afirmou o presidente da UCCLA, realçando que Portugal, devido à relação já estabelecida com Angola, está um passo à frente dos restantes países.

Na área dos seguros, que segundo Carlos Firme tem assistido a um grande desenvolvimento em Angola, a atuação no terreno é de extrema importância. “O setor financeiro e dos seguros é essencial para o desenvolvimento económico. Só um sistema financeiro moderno, com bons reguladores, com boa prática, vai permitir que o sistema financeiro seja um suporte do desenvolvimento”, disse o presidente do conselho executivo da Fortaleza Seguros.

Em Angola, em destaque está o seguro de saúde que é fornecido pelas empresas aos seus colaboradores. “Esse seguro pesa cerca de 35% do setor segurador no país”, disse. Carlos Firme anunciou ainda o lançamento de uma seguradora de matriz angolana, uma iniciativa privada dos players do setor. “Sentimos que existe muito interesse em Angola e nos países africanos no sentido de apoiar este projeto”, disse. O plano passa por ter este projeto a funcionar já no próximo ano.

Carlos Firme, presidente do conselho executivo da Fortaleza Seguros

“A penetração dos seguros em Angola é muito baixa, abaixo do 1% do PIB. Num país ocidental e desenvolvido essa taxa andará por volta dos 10%”, disse. Falamos de um setor que tem ainda margem para crescer e o caminho pode passar por ser mais eficaz na fiscalização dos seguros obrigatórios, pela literacia financeira e por trazer inovação, ter a capacidade de chegar às pessoas.

No setor do comércio internacional, Nuno Vaz apresentou a ação no terreno do Banco Atlântico Europa. “Aquilo que fazemos numa primeira fase é, no processo de importação, o banco emite uma carta de crédito ao importador e nós, em Portugal, fazemos a confirmação da carta e darmos garantias adicionais ao exportador”, disse. “O processo é complexo, tem muita documentação, e nós entramos na parte da análise e validação de documentação. É um serviço que acaba por ser uma componente de agilização muito importante”.

A linha de crédito entre Portugal e Angola, que tem permitido um conjunto de investimentos em projetos escolhidos pelo ministério de Angola e tem nos seus fornecedores empresas portuguesas, conta já com 1,5 mil milhões de euros financiados, sendo que começou com 100 milhões de euros em 2005.

Nuno Vaz, CEO do Banco Atlântico Europa

João Traça, presidente da CCIPA, trabalha com as parcerias entre empresas portuguesas e angolanas como objetivo. “A nossa razão de ser é que exista investimento português em Angola e que o mesmo aconteça no sentido contrário”, afirmou.

“De um momento para o outro, há duas infraestruturas que eram muito faladas, muito no papel: o corredor do Lobito e o aeroporto. Isto é o equivalente ao lançamento do iPhone, a única diferença é que o iPhone é todos os anos e aqui estamos a falar de infraestruturas que vão ter implicações para esta e para a próxima geração. Não podemos olhar para estas duas infraestruturas como apenas uma obra que já existe. Vão ser um game changer, temos de estar muito atentos ao potencial que elas trazem”, afirmou João.

Destaque para o indicador do crescimento da economia angolana, que “voltou a crescer a valores superiores ao crescimento da população”. Ainda assim, João Traça realça que nem tudo está bem, dando exemplo de alguns pontos de um estudo feito no ano passado: 93% apontaram as divisas como principal desafio ao investimento, a inflação foi também apontada como uma dificuldade e a dificuldade na contratação.

João Traça, presidente da CCIPA

A ter em atenção para o futuro está ainda o tema da sustentabilidade: “O investimento no futuro vai estar condicionado a critérios de sustentabilidade. Para isso é necessário um ambiente adequando”.

Uma nova parceria

Numa sala a borbulhar de ideias, o painel não terminou sem que surgisse uma proposta em concreto. João Traça mencionou uma oportunidade nas áreas do turismo e desporto, sendo Portugal uma das capitais europeias do surf e o continente africano conhecido por diversos pontos ideais para a modalidade.

“Porque é que não imaginamos um contexto em que fazemos uma geminação entre a Ericeira e Angola? Porque é que não temos organizações a verem como é que Portugal se tornou uma referência no surf a nível mundial? Não é nada de especial, as ondas estavam lá e Angola também tem ondas”, sugeriu.

E Luís Campos Ferreira concluiu com a promessa de pegar neste tema: “A cooperação entre cidades é fundamental. Precisamos de ideias e o João deu uma ideia deliciosa, prometo começar a trabalhá-la. E pode ser replicada para outras áreas”.

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