Dizem vários analistas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez tudo para conseguir um acordo que coincidisse com este dia 7 de outubro – data em que passam dois anos dos trágicos incidentes perpetrados pelo Hamas, que despoletaram a resposta tremendamente desequilibrada de Israel. Como também dizem que parte da urgência da Casa Branca tem a ver com a atribuição do Prémio Nobel – mas, coincidência à parte, os negociadores reunidos no Egito deixaram saber que as questões em análise são não apenas complexas, como também geradoras de atrito.
Delegações de Israel e do Hamas iniciaram negociações indiretas no Egito esta segunda-feira e enfrentam dois pontos fortemente controversos; a exigência, do lado do Hamas, de que Israel se retire do enclave e a exigência, do lado de Israel, que o Hamas se desarme. Apesar de tudo há desta vez uma esperança – o que não sucedeu nunca em nenhuma das dezenas de rondas anteriores: Israel e o Hamas disseram aceitar os princípios gerais por trás do plano de Donald Trump, segundo o qual os combates cessariam, os reféns seriam libertados e a ajuda chegaria a Gaza. Vale a pena recordar que o plano foi, contra todas as expectativas, recebido com um forte aplauso internacional (sem exceções conhecidas) e entendido como uma plataforma aceitável por todos para o reinício das negociações.
“Disseram-me que a primeira fase deve ser concluída esta semana e peço a todos que AJAM RÁPIDO”, escreveu Trump nas redes sociais. Mas ambos os lados tentam agora apurar o plano aos detalhes que cada uma das partes consideram essenciais, o que inevitavelmente vai impedir qualquer resolução rápida. Trump aconselhou a que Israel suspendesse os bombardeios em Gaza durante as negociações – o que, segundo relatos das agências internacionais, não aconteceu, apesar do registo de uma atividade militar mais contida. As autoridades de Gaza relataram 19 mortos por ataques israelitas nas últimas 24 horas (entre domingo e segunda-feira), cerca de um terço do número diário médio de mortes registadas nas últimas semanas no contexto do ataque à Cidade de Gaza.
Fontes egípcias citadas pela Reuters disseram que o Hamas procura esclarecimentos sobre vários detalhes, incluindo garantias de que Israel cumpriria as promessas de retirar as suas tropas de Gaza assim que os reféns forem libertados pelo Hamas. O governo de Benjamin Netanyahu enfrenta um novo desafio: a perspetiva do regresso dos reféns aumentou o volume das vozes dos israelitas que querem o fim da guerra para poderem ver este regresso concretizar-se ao cabo de dois penosos anos de espera. Do outro lado, Netanyahu sabe que a extrema-direita do seu próprio governo, encabeçada pelo inenarrável ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, tudo fará para que, mais uma vez, o acordo não seja fechado e Israel possa tomar posse da totalidade de Gaza e, já agora, também da Cisjordânia.
De qualquer modo, no terreno (das negociações), várias fontes citadas pela comunicação social consideram que o acordo final ainda vai demorar – entre outras razões porque ninguém sabe ao certo onde estão os corpos dos reféns mortos. Pode até acontecer que ninguém tenha conhecimento do assunto – dado o número de mortos entre as fileiras do Hamas – ou que os escombros sejam suficientemente densos para impedir essa recuperação. Mas o maior entrave é, evidentemente, a profunda desconfiança mútua – que não mudará em décadas. E isso é tudo o que nenhum acordo de paz vai remediar.
A delegação israelita inclui autoridades das agências de espionagem Mossad e Shin Bet, o conselheiro de política externa de Netanyahu, Ophir Falk, e a coordenadora para os reféns, Gal Hirsch. O negociador-chefe de Israel, o ministro de Assuntos Estratégicos Ron Dermer, deve juntar-se ao grupo esta semana. A delegação do Hamas é conduzida pelo líder exilado do grupo, Khalil Al-Hayya, o mesmo que sobreviveu ao ataque aéreo israelita que matou o seu filho em Doha, capital do Qatar, há um mês.
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