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Donald Trump ameaça retomar o controlo do Canal do Panamá

Presidente eleito dos EUA quer chegar a um acordo para uma diminuição das taxas cobradas pela passagem dos navios cargueiros. Os norte-americanos, construtores do canal, entregaram o controlo da infraestrutura em 1999.
Trump
Republican presidential nominee and former U.S. President Donald Trump reacts during a rally in Greensboro, North Carolina, U.S. October 22, 2024. REUTERS/Carlos Barria
23 Dezembro 2024, 07h00

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou reafirmar o controlo do país sobre o Canal do Panamá, acusando o governo panamiano de cobrar taxas excessivas pelo uso da passagem construída na América Central, que permite que navios cruzem entre os oceanos Pacífico e Atlântico.

Numa publicação no Truth Social, a sua própria rede social, Trump disse ainda que não deixará a infraestrutura, vital para o comércio mundial a par com o Canal do Suez, cair naquilo que chamou “mãos erradas” – o que sugere que a questão é mais um episódio da guerra com a China.

A agência Reuters recorda que a China não controla ou administra o canal, mas uma subsidiária da CK Hutchison Holdings sediada em Hong Kong, gere há muito dois portos localizados nas entradas do canal no Caribe e no Pacífico. Apesar da truculência com que Trump administra a sua política externa, não lhe é costume pressionar um país soberano a entregar território.

“As taxas cobradas pelo Panamá são ridículas, especialmente considerando a extraordinária generosidade que os Estados Unidos têm demonstrado ao Panamá”, escreveu. “Não foi dado para o benefício de outros, mas meramente como um símbolo de cooperação entre os EUA e o Panamá. Se os princípios, tanto morais como legais, deste gesto magnânimo de doação não forem seguidos, então exigiremos que o Canal do Panamá nos seja devolvido, integralmente e sem outras questões”.

A embaixada do Panamá em Washington não reagiu, mas vá rios políticos panamenhos recorreram às redes sociais para criticar as declarações de Trump e pedir ao governo que defenda o canal. “O governo tem o dever de defender a nossa autonomia como um país independente”, disse Grace Hernandez, deputada do partido de oposição (MOCA, Movimento Outro Caminho). “A diplomacia exige firmeza diante de declarações lamentáveis”.

Com cerca de 77 km, a construção do canal iniciou-se em 1880 e era um projeto francês – no território que era então da Colômbia. Os Estados Unidos acabaram por tomar o projeto em mãos em 1904 depois do fracasso dos franceses. Mas não sem antes gerarem uma forte polémica: no início de 1903, o Tratado Hay-Herran foi assinado entre os Estados Unidos e a Colômbia, mas o senado colombiano não o ratificou. O presidente de então, Theodore Roosevelt, decidiu insistir com rebeldes panamenhos para que revoltassem contra a Colômbia; o Panamá acabou por proclamar independência em 3 de novembro de 1903 e o canal foi parar às mãos da administração norte-americana. Estados Unidos e Panamá assinaram acordos em 1977 que abriram caminho para que o controlo do canal fosse entregue ao Panamá, o que viria a acontecer em 1999, após um período de administração conjunta.

A hidrovia, que permite a passagem de até 14 mil navios por ano, é responsável por 2,5% do comércio marítimo global e é essencial para as importações e exportações dos Estados Unidos com origem ou destino na Ásia. Evidentemente, não há nenhuma forma legal de os Estados Unidos reclamarem o regresso do controlo do canal à administração da Casa Branca.

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