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Donald Trump negoceia relações com a Europa, mas não é com Ursula von der Leyen

A primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni, estará em Washington esta quinta-feira naquele que será ‘apenas’ mais um encontro com o presidente norte-americano. Trump continua a ignorar olimpicamente a presidente da Comissão Europeia.
16 Abril 2025, 07h00

A primeira-ministra italiana demonstrou, por várias vezes, as afinidades políticas que a ligam ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas a visita que terá lugar no final desta semana é mais que isso: para os analistas, é uma forma de castigar a presidente da Comissão Europeia e o conjunto do bloco dos 27. De facto, desde que tomou posse – e apesar de já se ter encontrado com inúmeros chefes de Estado e de governo – Trump tem ignorado Ursula von der Leyen, a quem, entre outros ‘esquecimentos’, não convidou para estar presente nas negociações sobre a Ucrânia.

A primeira vez que Meloni se encontrou com Trump foi, curiosamente, em Paris – durante um jantar no Palácio do Eliseu, onde o presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu convidados após a reabertura da Catedral de Notre Dame. Nesse dia, e apesar de ainda não ter tomado posse, Trump foi tratado como um convidado especial – o que chegou mesmo a colocar problemas protocolares, dado que não havia jurisprudência sobre onde colocar um presidente eleito de um país cujo presidente em exercício não se encontrava presente. Trump acabou por ficar entre Macron e a sua mulher, numa decisão que, por certo, não contentou a diplomacia.

Pouco depois, voltaram a encontrar-se, desta vez nos Estados Unidos – no clube de golfe de Trump, em Mar-a-Lago. O presidente descreveu a primeira-ministra italiana como “uma verdadeira fonte de energia” e alguém com quem poderia trabalhar “para endireitar um pouco o mundo”. Espera-se, portanto, que Giorgia Meloni tente ser uma espécie de pró-diplomata da União Europeia junto da Casa Branca – mas, dizem os analistas, isso está longe de ser uma certeza.

Para todos os efeitos, Meloni é a primeira líder europeia a encontrar-se com Trump desde que o presidente norte-americano suspendeu alguns aumentos de tarifas planeados na semana passada. E, de qualquer maneira, é a primeira líder europeia a encontrar-se com Trump desde que este decidiu lançar tarifas entre os 20% e os 25% sobre a União Europeia.

Convém recordar que Meloni foi um dos suportes para Ursula von der Leyen levar de vencida a vontade de liderar um segundo elenco da Comissão, depois das últimas eleições para o Parlamento Europeu. O apoio da primeira-ministra, de extrema-direita, foi fundamental para que a alemã continuasse no lugar que ocupava há cinco anos, apesar de contar desta vez com um parlamento claramente tripartido, o que lhe retirou densidade política.

Nos bastidores, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e Meloni teriam discutido um plano de ação, referem alguns jornais. Mas nada disso, a ter acontecido, foi suficiente para que o ministro da Indústria francês, Marc Ferracci, não tivesse alertado para que a viagem ameaçava minar a unidade europeia contra as tarifas norte-americanas.

Kathleen van Brempt, eurodeputada socialista belga e vice-presidente da comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu, disse que as preocupações com Meloni são compreensíveis. “Precisamos de ser um pouco mais criteriosos”, disse. “Meloni sabe que precisa do apoio do Conselho, da Comissão e do Parlamento em todas as suas negociações. Ela não pode ir além do que foi acordado. O primeiro objetivo é conseguir alguém do outro lado da mesa de negociações. É exatamente isso que Meloni tentará fazer em Washington”, afirmou, citada pelo jornal britânico ‘The Guardian’.

Ou seja, a viagem de Meloni será monitorizada ao segundo a partir da Comissão Europeia, do Conselho Europeu e das capitais europeias mais importantes, mesmo que nenhum dos observadores possa interferir diretamente.

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