O novo estudo da Deco Proteste revela que duas em três famílias portuguesas enfrentam dificuldades para suportar os custos inerentes ao dia-a-dia, uma desigualdade social que a pandemia veio evidenciar. A organização de defesa do consumidor inquiriu 4.690 agregados familiares portugueses, e mais de um quarto destes agregados referiram que os seus rendimentos sofreram cortes iguais ou superiores a 25% no contexto da pandemia.
“É seguro dizer que estas famílias integram o patamar dos 63% que passam dificuldades financeiras e dos 6% que enfrentam uma situação crítica. Estas quebras de rendimento são explicadas pela perda de emprego, a inatividade profissional e a redução salarial”, apontou Bruno Santos, Public Affairs da Deco Proteste.
De acordo com o barómetro da associação, 31% dos agregados inquiridos situam-se no campo de conforto financeiro”, apresentando facilidade para pagar as contas que são apresentadas todos os meses, mas sem grandes gastos posteriores. Ainda assim, e baseando-se nos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, no segundo trimestre de 2020 perto de um milhão de portugueses estava em teletrabalho, o que permitiu diminuir as despesas com transportes e alimentação em restaurantes, sendo que muitas viagens também foram canceladas, o que permitiu a poupança de algum dinheiro.
No entanto, as expectativas para 2021 não se mostram positivas, segundo os cálculos da Deco. A organização aponta que o levantamento das restrições aplicadas em 2020 vai acentuar o pessimismo devido à capacidade financeira já enfraquecida dos portugueses. Ainda assim, enquanto os apoios do Estado, como as moratórias e os regimes de lay-off, apenas atenuaram a situação financeira das famílias.
Os distritos do Porto, Vila Real, Setúbal e Aveiro foram identificados como os distritos onde as famílias portuguesas vivem com mais dificuldades. Vila Real foi o distrito português com mais agregados familiares em situação de desconforto (82%), enquanto Aveiro verificou 79% de desconforto, e Leiria e Setúbal também ficaram na casa dos 70%, e o Porto com 67%.
As despesas de lazer, embora de menor valor, são referidas com maior frequência como as mais difíceis de pagar nas regiões Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo. Em segundo lugar dos gastos mais expressivos posiciona-se os gastos associados à saúde, sendo estes mais pesados no Centro (42% de dificuldade no pagamento) do que no Norte (32%). Este valor é também explicado pelo valor despendido com a mobilidade, uma vez que os locais são mais longes.
Em lisboa e Vale do Tejo, os custos com a alimentação e edução apresentam menos pressão do que no Norte e Centro, regiões em que estas preocupações ocupam a lista diária.
Apesar de 2020 ter sido um ano marcado por grandes despesas, os distritos de Bragança, Braga, Castelo Branco e Lisboa são os que apresentaram menor sufoco financeiro. Em sentido contrário, o Algarve e a Região Autónoma da Madeira sofreram o maior impacto nos rendimentos, uma vez que estas regiões dependem de atividades ligadas ao turismo, que foram praticamente congeladas. Mais de 40% dos inquiridos no estudo da Deco do Algarve e Madeira deram conta de um decréscimo do rendimento em mais de 25%, sendo que no distrito de Faro as dificuldades financeiras atingiram mais de 80% das famílias.
Ainda que o cenário apresente algumas melhorias no Alentejo, o distrito de Évora identificou 76% dos agregados inquiridos em esforço, enquanto na região dos Açores, identificada como a mais pobre de Portugal, foram detetadas 75% das famílias em dificuldades.
As despesas com a habitação revelam-se mais difíceis de neutralizar na região algarvia (53%), em claro contraste com o Alentejo ou com Lisboa e Vale do Tejo, onde se identificou uma inacessibilidade financeira de 34%. É igualmente no Algarve (46%) e nos Açores (43%), que os custos com o lazer são mais difíceis de suportar. Na Madeira, ficam-se pelos 30% e esta Região Autónoma é a única onde a saúde é o gasto mais problemático, à frente das despesas com a habitação, que lideram as dificuldades nas outras zonas.
Por sua vez, entre os gastos mais difíceis de suportar pelos portugueses estão os equipamentos necessários para as aulas online em todas as regiões, com exceção de Lisboa e Vale do Tejo. Entre os gastos a que mais dificilmente as famílias conseguem fazer face, evidenciam-se as despesas com o automóvel, com o combustível, manutenção e seguros, seguindo-se as despesas com dentista, férias grandes, manutenção da casa, óculos e aparelhos auditivos.
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