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Duas empresas portuguesas a bordo no novo lançamento da Agência Espacial Europeia

Este lançamento já foi adiado várias vezes nos últimos dias devido a condições atmosféricas adversas, mas neste momento está programado para as 02h51m, hora de Lisboa, na madrugada deste domingo, dia 28 de junho, levando tecnologia nacional da Edisoft e da Evoleo. 
27 Junho 2020, 17h58

O novo lançamento da ESA – Agência Espacial Europeia, no âmbito do progama VV16, do lançador Vega, vai levar a bordo um novo satélite do programa SAT-AIS, um sistema de rastreio de embarcações de curto alcance, desenvolvido em associação com duas empresas portuguesas.

Este lançamento já foi adiado várias vezes nos últimos dias devido a condições atmosféricas adversas, mas neste momento está programado para as 02h51m, hora de Lisboa, na madrugada deste domingo, dia 28 de junho.

“Os lançamentos a partir do Porto Espacial Europeu Kourou, na Guiana Francesa, serão retomados nos próximos dias após uma paragem de meses motivada pela pandemia. A missão VV16, do lançador Vega, levará a bordo um novo dispensador da Agência Espacial Europeia (ESA), um serviço que permite a partilha de custos, tornando mais acessível colocar satélites em órbita. A bordo está o novo satélite do programa SAT-AIS (sistema de rastreio de embarcações de curto alcance) desenvolvido em colaboração com duas empresas portuguesas: Edisoft e Evoleo”, assinala uma informação da agência escial portuguesa, Portugal Space, a que o Jornal Económico teve acesso.

De acordo com essas informações, “a ESA vai lançar o primeiro ‘Small Spacececraft Mission Service (SSMS)’, um serviço que visa reduzir os custos de colocar satélites em órbitra”.

“A bordo seguem 53 satélites, incluindo o ‘eSail’, desenvolvido em colaboração com de duas empresas portuguesas.
Quando for libertado pelo lançador Vega na missão VV16, numa órbita síncrona ao Sol, a cerca de 500 quilómetros da superfície terrestre, o novo satélite do programa SAT-AIS (sistema de rastreio de embarcações de curto alcance) da Agência Espacial Europeia, estará a ser controlado a partir da estação terrestre de Svalbard, ilha do arquipélago norueguês com o mesmo nome”, adiantam as informaçºões da Portugal Space.

Segundo esta nota informativa, esta é “uma operação que integra software desenvolvido pela empresa tecnológica
portuguesa Edisoft para controlo do ‘eSail’, um microssatélite que permite monitorizar navios a partir do espaço, uma parceria da Agência Espacial Europeia, a LuxSpace e a empresa canadiana exactEarth”.

“Convidada inicialmente para adaptar o sistema operativo em tempo real, ‘RTEMS by EDISOFT’ às especificidades do ‘eSail’, a empresa portuguesa acabaria por ficar também responsável pelo desenvolvimento de um sistema EGSE ‘Electrical Ground Support Equipment’. Além de testar a assemblagem e a integração de todos os sistemas a bordo do satélite, o EGSE permite ainda operar remotamente o satélite a partir da Terra”, adianta o comunicado da Portugal Space.

Hélder Silva, diretor da área de ‘software’ espacial e sistemas embebidos da Edisoft, “a LuxSpace (subcontratada da ESA) quis a nossa versão do RTEMS para o ‘eSail’ e pediram-nos para fazer um treino para toda a equipa”.

“Além disso, perguntaram se tínhamos interesse em desenvolver o EGSE, o sistema que permite testar os satélites ainda em terra”, adianta o responsável.

O mesmo documento explica que o EGSE é usado na fase de construção e assemblagem dos satélites, confirmando que os diversos componentes estão devidamente instalados e prontos a funcionar sem falhas.

“O projeto com a LuxSpace, responsável pela construção do eSail, com o apoio da Agência Espacial do Luxemburgo e de outros estados-membro da ESA, começou em dezembro de 2014, mas só recentemente e já com o desenvolvimento do EGSE numa fase final avançaram para a adaptação deste mesmo sistema ao controlo remoto da operação”, assinala o referido comunicado.

“Há pouco tempo percebeu-se que haviam necessidades de operação por parte da exactEarth, cliente final neste
projeto, e surgiu a ideia de adaptar o EGSE à operação”, diz ainda Hélder Silva.

Segundo a Portugal Space, “foi neste momento do processo que outra empresa nacional foi chamada a colaborar no
processo”.

“A Evoleo Tecnologies foi responsável por coordenar as especificações técnicas e ‘interface’ entre a Edisoft e a LuxSpace. Deu ainda suporte ao desenvolvimento e implementação do ‘hardware’ do EGSE, diz Rodolfo Martins, CEO da Evoleo.

No entender deste responsável, “a LuxSpace chegou até nós por referência da própria ESA, que sugeriu a Evoleo para
coordenar o processo de desenvolvimento do EGSE, entre a Edisoft e a LuxSpace, por termos experiência prévia em outros projetos passados.

Esta não foi a primeira vez que a PME portuguesa trabalhou em projetos da Agência Espacial Europeia. Rodolfo Martins recorda que a Evoleo está envolvida em projetos da ESA desde o primeiro dia da empresa, em janeiro de 2007. Inicialmente, prestando um apoio limitado à Efacec, outra empresa portuguesa. Mais tarde, a Evoleo colaborou no projeto TDP8 para o satélite Alphasat, liderado pela Efacec, que teve início em 2008, tarefa que Rodolfo Martins acredita “ter sido também decisiva” para o surgimento deste novo contrato.

Além disso, a Evoleo interveio ainda no desenvolvimento de interfaces entre ‘software’ e ‘hardware’ (‘drivers’) e apoiou na especificação, arquitetura e desenho. A empresa deu ainda apoio à LuxSpace durante o desenvolvimento inicial da base de dados de comandos e telemetria do satélite.

“Relativamente ao ‘software’ de suporte de voo, embora a colaboração geral com a equipa da LuxSpace fosse muito importante, a definição, desenho e implementação do ‘software’ de controlo da placa de ‘interface’ aos sensores e atuadores do satélite é, no nosso entender, crítica para o sucesso da missão, já que influencia a capacidade de manobra e controlo do satélite”, enfatiza o presidente da Evoleo.

No que respeita a projetos para o futuro, a Edisoft espera agora poder vir a “integrar o EGSE em outros projetos da ESA para pequenos satélites” e que o sistema venha a ser explorado enquanto serviço, o que significa “testar
pequenos satélites de outras empresas, de maneira a otimizar o que chamamos de ‘New Space’, confidencia Hélder Silva, acrescetnando que a Edisoft está já “em conversações avançadas com a ESA para migrar o sistema”.

A possibilidade de vir a assinar novos contratos, é, aliás, um dos mais maiores benefícios de participar no ‘eSail’. Com um contrato base na ordem dos 500 mil euros e o envolvimento, durante os últimos seis anos de uma equipa de dimensão variável, mas habitualmente com quatro elementos, Hélder Silva confirma que mais importante que o valor monetário do projeto é o reconhecimento alcançado.

“Estamos habituados a trabalhar com standards muito exigentes no desenvolvimento de software e missões como esta tornam mais fácil sermos chamados para projetos de elevada complexidade”, afirma o diretor da área de ‘software’ espacial e sistemas embebidos da Edisoft, concluindo que “o trabalho com o ‘eSail’ abre-nos portas para projetos que tradicionalmente não estão ao alcance das empresas portuguesas, porque a forma como se desenvolve software crítico não é igual a desenvolver software para a banca ou telecomunicações”.

Por seu turno, Rodolfo Martins partilha desta ideia de que o reconhecimento internacional é “claramente”
mais importante”.

“O benefício financeiro é sempre necessário e bem vindo, e foi, mas na verdade o que importa é o reconhecimento”, afirma o presidente da Evoleo, recordando queo contacto da LuxSpace chegou pela ESA.

Também a Evoleo antecipa que possam surgir novos contratos. “Na sequência desta atividade, as relações com a OHB na Alemanha (casa mãe da LuxSpace) e com a própria ESA cresceram, tal como a nossa lista de referências. Temos o entendimento de ser sempre parceiros, realçando que um parceiro satisfeito num negócio
menos generoso no curto prazo atrai mais oportunidades no longo prazo”, assegura o presidente.

Sobre este tema, a presidente da Portugal Space, Chiara Manfletti, tem uma opinião semelhante: “A participação das empresas portuguesas nesta missão mostra que Portugal está a alargar o âmbito de atuação no quadro da ESA, uma vez que visa atividades de elevado potencial socioeconómico. A participação na ESA é uma prova do espírito europeu em Portugal, além de dar às empresas portuguesas um selo de qualidade para as tecnologias e serviços que
produzem”.

“O microssatélite criado pela LuxSpace, que será libertado no espaço durante a madrugada de domingo, faz parte do programa de microssatélites da ESA (SAT-AIS) e ampliará o alcance geográfico dos atuais sistemas terrestres de identificação automático (AIS na sigla inglesa). Este reforço tecnológico permitirá fornecer à Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA) a tecnologia e os dados necessários para criar a próxima geração de serviços de tráfego
marítimo mundial. Tanto a ESA como a EMSA têm em mente o desenvolvimento de serviços de segurança marítima, tais como a prevenção da poluição por navios e a localização de mercadorias perigosas”, assinala o comunicado da Portugal Space.

Segundo os responsáveis da agência espacial portuguesa, “com o ‘eSail’ em funcionamento será possível eliminar os ângulos mortos existentes no atual sistema SAT-IAS, que se encontra limitado pela curvatura da terra a um alcance horizontal a cerca de 74 quilómetros da costa, o que faz com que a monitorização de tráfego fique reduzida às zonas costeiras ou a uma utilização de navio para navio”.

“Fica assim reforçada a capacidade de monitorização de frotas pesqueiras e de proteção dos ecossistemas marítimos, e serão dadas às entidades marítimas e governamentais, bem como aos ‘players’ industriais, maiores garantias de segurança operacional”, assegura a Portugal Space.

A agência adianta que “a constelação de microssatélites da ESA (SAT-AIS) recolhe, regista e descodifica a identidade,
posição e rota, entre outras informações, de cada navio, sendo esta informação depois enviada para estações terrestres para processamento e distribuição”.

Desta forma, “qualquer navio com 300 toneladas ou mais em viagens internacionais e os navios carga de 500 toneladas ou superior em águas locais e todos os navios de passageiros, independentemente da dimensão, devem
ter a bordo o chamado transponder, equipamento de AIS”.

“O desenvolvimento do sistema SAT-AIS é um elemento importante para que o espaço amplie e reforce o seu contributo para o crescimento e sucesso económico de um sector marítimo sustentável e seguro. Isto e a maturação de outras tecnologias tornarão possível o lançamento de veículos e plataformas marítimas autónomas e a navegação autónoma como solução e serviço de transporte”, afirma Chiara Manfletti, recordando que a criação de serviços de
navegação autónoma é um dos projetos farol da Portugal Space.

A presidente da Portugal Space lembra que o desenvolvimento de serviços de navegação autónoma são um dos projetos faróis da Portugal Space. Relativamente a esta questão diz ainda que “além da dimensão de segurança e proteção das atividades marítimas, será possível uma abordagem mais amiga do ambiente, mais eficiente e também menos sujeita a erros humanos, bem como possibilitará o surgimento de novos sectores alimentares baseados no oceano”.

De acordo com a Portugal Space, “o lançamento do ‘eSail’ ficará na história também por outros motivos”.

“Além de ser o primeiro voo realizado a partir do Porto Espacial Europeu em Kourou, na Guiana Francesa, depois de uma longa paragem motivada pela pandemia do Covid- 19, é também o voo que servirá para demonstrar e validar o modelo técnico e financeiro do novo serviço de lançamento partilhado de pequenos satélites criado pela ESA. O chamado dispensador SSMS (‘Small Spacecraft Mission Service’) será configurado de acordo com os clientes de cada missão, tendo capacidade para transportar desde ‘CubeSats’ de um quilo até minissatélites de 500 quilos. No voo de domingo o SSMS servirá 21 clientes, responsáveis por sete microssatélites e 46 ‘CubeSats’, que irão partilhar os custos de lançamento”, garantem os fresponsáveis da agência espacial portuguesa.

A Portugal Space salienta que este lançamento acontece no âmbito de uma parceria entre a ESA e a União Europeia, que financiou parcialmente a missão no âmbito do programa Horizon 2020.

De acordo com um comunicado da Agência Espacial Europeia, “este novo serviço destina-se a desenvolver as tecnologias espaciais criadas na Europa, criando novas oportunidades de lançamento aos proprietários de
pequenos satélites”, que pela partilha de custos têm acesso a uma operação mais acessível.

A Portugal Space é uma organização privada sem fins lucrativos, criada pelo Governo português. Tem como principal
objetivo promover e fortalecer o espaço em Portugal, o seu ecossistema e cadeia de valor, em benefício da sociedade e da economia nacional e mundial, atuando como uma unidade de negócio e desenvolvimento para universidades, entidades de investigação e empresas.

A Agência Espacial Portuguesa coordena a participação nacional na Agência Espacial Europeia e aconselha o Governo português sobre as contribuições e subscrições feitas à ESA. Em conjunto com a FCT, a Portugal Space gere os fundos da ESA e do Observatório Europeu do Sul (ESO), e representa Portugal nestas organizações internacionais.

A Portugal Space tem ainda assento no recém-criado Conselho de Administração do Telescópio Solar Europeu (EST), além de ser o representante nacional de Portugal na Comissão Europeia para assuntos relacionados com o espaço, nomeadamente o Programa Espacial Europeu (Copernicus, Galileo, GOVSATCOM, SSA) e Horizon Europe e tem assento no conselho de administração da GSA (futura EUSPA).

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