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É falso que uma “sondagem da Intrapolls” coloque André Ventura na liderança da corrida presidencial

Contas de extrema-direita e o jornal do Chega afirmam que uma sondagem revela que “André Ventura já lidera a corrida presidencial com 25% das intenções de voto”, mas esse resultado é de um inquérito voluntário, não de uma sondagem.  Alegação: “sondagem da Intrapolls” coloca André Ventura “na frente das intenções de voto para as eleições […]
24 Setembro 2025, 17h22

Contas de extrema-direita e o jornal do Chega afirmam que uma sondagem revela que “André Ventura já lidera a corrida presidencial com 25% das intenções de voto”, mas esse resultado é de um inquérito voluntário, não de uma sondagem.

 Alegação: “sondagem da Intrapolls” coloca André Ventura “na frente das intenções de voto para as eleições presidenciais” 

Na segunda-feira, 22 de setembro, o jornal Folha Nacional, o jornal partidário do Chega, afirmou que “de acordo com uma sondagem da Intrapolls André Ventura surge na frente das intenções de voto para as eleições presidenciais, reunindo 25% das preferências” (https://archive.ph/FU90h).

No texto da notícia refere-se que “o líder do CHEGA aparece à frente de Henrique Gouveia e Melo e de António José Seguro, ambos com 21%, e de Luís Marques Mendes, que regista 20%.”

No terceiro e último parágrafo, o Folha Nacional escreveu também que estes dados são oriundos de um “inquérito divulgado pela própria Intrapolls através da sua conta oficial no Instagram”, cujos dados “posicionam Ventura como o candidato mais bem colocado para vencer a primeira volta das presidenciais”.

Na mesma data, a conta de extrema-direita ‘Resistência Lusitana’ afirmou na rede social X que “André Ventura lidera as sondagens para Presidente da República”. Segundo esta publicação, já com mais de 128 mil visualizações e centenas de partilhas, “o líder do CHEGA conta com 25% das intenções de voto” e “o sistema está em choque”: https://archive.ph/6RPle.

Os alegados dados da Intrapolls foram também aproveitados pela comunicação do Chega, que partilhou um gráfico com os resultados e a afirmação de que “Ventura já está à frente na primeira volta das presidenciais”. Neste caso, o partido assume que se trata de um “inquérito” da Intrapolls, sem qualquer explicação adicional: https://archive.ph/UTp3U.

Factos: a Intrapolls não faz sondagens, apenas realiza inquéritos voluntários 

Uma análise às várias contas da Intrapolls permite perceber rapidamente que não se trata de uma empresa de sondagens. No X, por exemplo, este projeto deixa claro que “não faz sondagens mas sim análises eleitorais, podendo estas serem suportadas por inquéritos de participação livre não representativos.”

No Facebook também surge um “esclarecimento importante” a “reforçar que [aquela] página não realiza, nem nunca realizou, sondagens de opinião representativas do universo português, nas suas devidas proporções demográficas, nem tem esse objetivo. O que se faz são análises eleitorais baseadas parcialmente no ‘feedback’ de uma amostra não representativa do país.” (https://archive.ph/gmun9)

Nessa publicação, também partilhada no X (https://archive.ph/9dICm), os autores do projeto explicam que “o propósito é construir um cenário eleitoral nacional de grande escala, com qualidade superior a outros mapas eleitorais disponíveis” e assumem que “é comum a confusão entre o que é uma sondagem e o que não é.”

“A nível local, sondagens com recolha aleatória e metodologia rigorosa tendem a ser mais precisas. No entanto, essas sondagens não oferecem o cenário macro que ambiciona-se apresentar. Reitera-se que sondagens locais realizadas em conformidade com os procedimentos legais da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) são, ‘a priori’, mais fiáveis para análises locais do que os estudos realizados por esta página, que têm um enfoque transversal e de grande escala”.

Os números citados pelo Folha Nacional e pelo Chega podem ser encontrados nesta publicação do Instagram, onde a Intrapolls apresenta dados e gráficos com as estimativas de apoio por partido em percentagem de voto para sete candidatos: https://archive.ph/ZJJds.

No texto que acompanha essa publicação são também apresentadas as estimativas para a primeira volta, com André Ventura em primeiro, com 25%, Henrique Gouveia e Melo e António José Seguro em segundo, ambos com 21%, e Luís Marques Mendes em terceiro, com 20%.

Na terça-feira, a Intrapolls publicou também “cenários estimados para uma segunda volta com André Ventura”, onde o líder do Chega “é derrotado de forma plena” em “3 cenários potenciais”, nomeadamente conta António José Seguro, Luís Marques Mendes e Gouveia e Melo: https://archive.ph/LAmls.

Nesta publicação também fica claro que este “estudo não é nem pretende ser visto como uma sondagem” e que “a amostra não é representativa do universo de eleitores portugueses, sendo constituída apenas por participantes voluntários” cujas respostas foram tratadas e ajustadas ”em função de características sociodemográficas e de intenção de voto reportadas”.

Não é a primeira vez que o Chega ou contas ligadas ao partido divulgam inquéritos de opinião como sendo sondagens, ou mesmo sondagens deturpadas. Uma consulta às últimas deliberações da ERC revela que foram abertos recentemente seis processos de contraordenação contra o Chega precisamente por violação da Lei das Sondagens: https://archive.ph/rfiUQ.

Os processos resultam sobretudo da “violação das regras de divulgação pública de inquéritos de opinião”, nomeadamente “por estar ausente das publicações a advertência expressa de que tais resultados não permitem, cientificamente, generalizações, representando apenas a opinião dos inquiridos”, mas também há um caso de “deturpação de resultados” de uma sondagem da Universidade Católica/CESOP para a RTP.

Num dos casos, a ERC abriu mesmo um procedimento oficioso contra a empresa Sondelcerto, cujo inquérito de opinião alegadamente realizado junto da comunidade portuguesa no Canadá foi amplamente divulgado pelo Chega no início de maio.

Nesse processo, a ERC detetou “fortes indícios” de “crimes de falsificação de documentos e falsificação informática” por parte da Sondelcerto, “com o propósito de influenciar a percepção eleitoral”, razão pela qual remeteu o processo para o Ministério Público no final de julho.

Contraditório 

A Lusa Verifica contactou o diretor do Folha Nacional, mas não obteve respostas à questão sobre “por que razão o artigo viola a Lei das Sondagens omitindo elementos de publicação obrigatória, nomeadamente a ficha técnica, caso se trate realmente de uma sondagem, ou a advertência expressa de que aqueles resultados não são extrapoláveis para um universo diferente do dos inquiridos, no caso de se tratar de um mero inquérito, figura também referida no texto”.

No entanto, após esse contacto, o Folha Nacional alterou a notícia de forma a eliminar a referência a sondagem, trocando-a por “inquérito da Intrapolls”, mas sem acrescentar a advertência obrigatória sobre o alcance daqueles resultados (https://archive.ph/fo2W8).

Por seu lado, Tiago Campos, fundador da Intrapolls, foi perentório ao afirmar que “não há sondagem nenhuma, porque a Intrapolls não faz sondagens, apenas promove inquéritos voluntários” (https://archive.ph/QHD96) e que “ainda não saiu nenhuma sondagem pós anúncio de André Ventura.”

Segundo este analista, os dados utilizados pelo Folha Nacional e pelo Chega baseiam-se “em dois inquéritos, o mais recente com 471 respostas e o mais antigo com 1873 respostas, num total de 2344 respostas”, mas os resultados “não são fruto somente de intenções de voto mas sobretudo expetativas eleitorais”.

Quanto à utilização pelo Chega, a Interpolls “preferia que eles não publicassem os cenários” daquela forma. “Não sou eu que decido o que eles publicam. Já houve problemas no passado, eu em conjunto com a equipa da altura disse o que tinha a dizer, explicitando ao que se referia o cenário. A partir daí ignorei porque preciso de uma posição totalmente neutra em relação a todos os partidos e porque considero que não há muito que possa fazer”, afirma Tiago Campos.

Sobre a qualidade dos resultados, este analista acredita ter um modelo com provas dadas e com alguma defesa contra tentativas de manipulação. “Uma ou outra resposta consegue escapar ao controlo que faço, mas geralmente não se consegue deturpar os resultados”, afirma.

A ERC, por seu lado, confirma que “a Intrapolls não está credenciada para a realização de sondagens”, mas ainda não esclareceu quais os resultados concretos dos processos contraordenacionais já levantados contra o Chega por violação da Lei das Sondagens.

Em todas as eleições, a entidade reguladora tem relembrado os ‘media’ e outros intervenientes das regras aplicáveis à divulgação de sondagens e inquéritos de opinião, como fez a propósito das recentes eleições legislativas: https://archive.ph/eg5w9.

Avaliação Lusa Verifica: Falso

Até ao momento não existe qualquer sondagem depositada na ERC que coloque André Ventura na liderança da corrida presidencial, nomeadamente na primeira volta das presidenciais, prevista para 18 de janeiro, nem qualquer sondagem efetuada após o anúncio da sua candidatura à Presidência da República.

Conforme expresso pelos próprios, os inquéritos de opinião divulgados pelo projeto Intrapolls não são sondagens. Mais do que intenções de voto, revelam sobretudo expectativas eleitorais e não permitem generalizações ou extrapolação para o universo do eleitorado nacional, representando apenas a opinião dos inquiridos.

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