Ainda os votos da emigração não tinham acabado de ser contados e Carlos César, presidente do PS e secretário-geral interino, já vaticinava que o partido passaria a ser a terceira força política no país ao ser ultrapassado pelo Chega. E assim foi. Contados os mais de 300 mil votos dos círculos da Europa e Fora da Europa, dos quatro deputados em disputa, o partido de André Ventura conquistou dois, a Aliança Democrática os restantes e o Partido Socialista não garantiu nenhum.
Contrastando com a euforia e o entusiasmo do Chega, que se declarou logo na noite do dia 18 o principal partido da oposição, no PS o desânimo era total. Depois da derrota histórica que levou à demissão imediata de Pedro Nuno Santos, e que deixou o PS empatado com o Chega em número de deputados (58), os socialistas já contavam que os votos das comunidades fizessem o partido de André Ventura ascender à posição de principal partido da oposição. Isso mesmo assumiu ao Jornal Económico (JE) uma fonte socialista, que até confessou duvidar que o partido conseguisse manter o deputado pelo círculo da Europa conquistado nas legislativas de 2024.
Carlos César, líder interino dos socialistas, também assumiu a derrota, ainda antes do final da contagem, resumindo o espírito de desesperança nas hostes socialistas. “Tal como já se esperava após terem sido conhecidos os resultados no território nacional, o PS deverá passar a ser o terceiro maior partido em número de deputados depois de apurados os votos nas comunidades, na Europa e fora da Europa”, escreveu o presidente do PS, acrescentando que, a partir do próximo dia 28 de junho – data das eleições internas que, para já, têm apenas José Luís Carneiro como candidato único – “só pode haver um caminho”: “unidos, a remar para o mesmo lado e valorizando os melhores para estarem connosco nas eleições autárquicas”. “Portugal precisa do melhor que sejamos capazes”, enfatizou.
Numa mensagem que soou como resposta a Mariana Vieira da Silva, que na quarta-feira criticou o facto de o partido avançar já para eleições internas sem uma “reflexão” prévia, Carlos César defendeu que, depois das autárquicas, “teremos tempo para refletir e para corrigir percursos e voltar a merecer uma confiança reforçada dos portugueses”.
A missão, agora, é apostar tudo nas autárquicas do próximo outono, sustentou César, não deixando também de dar uma palavra sobre o que o partido deve ser no reerguer da derrota histórica do passado dia 18. “Agora que estamos a finalizar as nossas listas candidatas às freguesias e aos municípios, temos a obrigação de demonstrar, na conclusão das nossas candidaturas, que percebemos que o partido deve ser um instrumento de participação e de inovação e não um espaço de confinamento e de acomodação”, concluiu o presidente dos socialistas.
Tanto Mariana Vieira da Silva, antiga ministra e braço direito de António Costa no último governo PS, como Fernando Medina, ex-ministro das Finanças, assumiram que ponderaram apresentar-se como candidatos à liderança, mas afastaram a hipótese por entenderem não ter condições para o fazer depois de José Luís Carneiro ter avançado logo na primeira hora.
Em entrevista à Antena 1, na manhã desta quarta-feira, Vieira da Silva voltou a defender que a disputa interna deveria ocorrer depois das autárquicas, entendendo que César poderia liderar o partido até essa altura, e criticou: “Como é possível, antes de fazer a reflexão, escolhermos o líder?”
Marcelo volta a ouvir partidos e vai indigitar primeiro-ministro “logo que possa”
Conhecidos os resultados da emigração, o Presidente da República volta a ouvir os três partidos mais votados nesta quinta-feira e deverá indigitar Luís Montenegro como primeiro-ministro “logo que possa”.
“Vou ouvir primeiro os três partidos. Se eu tiver condições para logo nesse dia fazer sair uma nota de indigitação, faço”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa na segunda-feira, em resposta aos jornalistas, à saída do Convento do Beato, em Lisboa. As audiências desta segunda ronda, indicou o chefe de Estado, ocorrerão às 15h00, 16h00 e 17h00 de quinta-feira.
Questionado se tenciona receber José Luís Carneiro, candidato, para já único, a secretário-geral do PS, o chefe de Estado respondeu: “Vou falar com a delegação que vier do PS; quem escolhe são eles”.
É importante lembrar que o Presidente da República avisou, ainda antes das eleições, que só daria posse a um governo que tivesse garantias de não cair na primeira oportunidade. Depois de ouvir os partidos em Belém na semana passada, Marcelo ficou confiante de que será possível ter estabilidade, pelo menos até 2026.
Nas declarações desta semana, assinalou estar “a trabalhar para haver estabilidade” durante os quatro anos da legislatura, ou seja, para além do seu mandato como Presidente da República, que termina a 9 de março de 2025. “Estou a trabalhar para que a estabilidade dure para além disso, mas para já é muito importante o arranque”, afirmou.
E, com base nos dados já lançados, o arranque está garantido, com o PS a assegurar a viabilização do novo governo da AD, e o Chega, por outro lado, ainda a construir o que diz ser um “governo sombra”, prometendo ser um “farol de estabilidade”.
Não existindo reclamações, os resultados finais das eleições legislativas serão publicados em Diário da República, ou já na sexta ou no sábado, devendo a nova legislatura arrancar na segunda ou terça-feira, com a tomada de posse da Assembleia da República, e só depois tomará posse o governo que, segundo cálculos do Presidente, pode acontecer ainda no final da semana que vem, antes do feriado de 10 de junho.
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