Nos últimos meses, os portugueses têm sido preparados para a descida de juros e para o alívio que isso significará nas suas prestações e no aumento do seu rendimento disponível.

Se era verdade que, no início do ano, os investidores esperavam que, nos EUA, a Reserva Federal (Fed) pudesse reduzir os juros em 1,75% e que o BCE, na zona euro, reduzisse em 1,5%, neste momento começa a discutir-se a manutenção das taxas de juros, pelo menos por parte da Fed.

Com efeito, os dados mais recentes da inflação mostram uma aceleração da subida dos preços e não uma descida, como seria de esperar. O sector segurador e de serviços está a ser responsável por esta nova vaga, influenciando as expectativas dos consumidores e colocando um travão ao alívio tão esperado pelas famílias.

Também a recente evolução dos preços do petróleo agudiza os receios de que a subida de preços possa alastrar ao resto da economia. Razão pela qual é expectável que a Fed reduza os juros em apenas 0,5%, mas com cada vez mais analistas a defenderem que pode até ser necessário não baixar o custo do dinheiro, para assim acalmar uma economia que está suportada no endividamento para consumo.

Outra das componentes muito resilientes tem sido a da habitação. Conforme referido num artigo há um ano, os próprios bancos centrais acabam por criar inflação quando aumentam abruptamente os juros, pois reflete-se no custo do crédito, no custo de construção das casas.

Como grande parte da construção é financiada por dívida, se o custo for superior, então, esse valor será refletido na prestação do crédito e nas rendas. Ora, este ciclo só poderá ser quebrado com mais oferta no mercado.

Curiosamente, Janet Yellen, a Secretária de Estado do Tesouro dos EUA, foi à China pedir uma redução na oferta de bens, num momento em que necessitamos de baixar preços! Ou se produz mais, a preços mais acessíveis, ou estamos preocupados com a rentabilidade das empresas.

A virtude estará algures no meio, mas não deixa de ser estranho que, num mundo que precisa de aumentar o poder de compra dos cidadãos, existam mensagens antagónicas.

A zona euro, a braços com um forte abrandamento nas principais economias, não terá outro remédio senão baixar os juros já em Junho, e em pelo menos outras duas ocasiões até ao final do ano, reduzindo os juros dos atuais 4% para os 3,25%.

Não nos podemos esquecer que, para além das questões económicas, temos um ano de eleições na Europa e nos EUA, e que os bancos centrais mantêm o poder de influenciar os resultados.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.