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“É uma fantasia” pensar que a ONU consegue resolver situação no Afeganistão, diz Guterres

As Nações Unidas assumem que farão tudo o que puderem por um país que Guterres diz estar “à beira de um dramático desastre humanitário” e decidiu envolver os Talibãs para ajudar cerca de 36 milhões de pessoas no Afeganistão.
  • António Guterres
16 Setembro 2021, 11h47

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que a ideia de que o organismo mundial possa resolver o conflito no Afeganistão é uma “fantasia” e que a sua capacidade de mediar por um governo talibã mais inclusivo é “limitada”.

Questionado numa entrevista à “Reuters”, um mês após os talibãs assumirem o controlo do Afeganistão, se sentia pressão para reparar a situação do país, Guterres disse: “Julgo que há uma expectativa infundada” da influência da ONU como principal organização internacional ainda no terreno.

O mundo assistiu a vários países enviarem milhares de soldados ao Afeganistão e gastarem grandes somas de dinheiro durante 20 anos desde que uma invasão liderada pelos EUA retirou os Talibãs do poder, sob o mote de que estariam a proteger o então líder da Al Qaeda, Osama bin Laden. Os Estados Unidos acabaram por gastar um bilião de dólares (849 mil milhões de euros), que culminou no colapso do governo afegão para os Talibãs assim que as forças militares deixaram o Afeganistão.

“Acreditar, dado que eles falharam com todos esses recursos para resolver os problemas do Afeganistão, que agora podemos, sem essas forças e dinheiro, resolver os problemas que eles não puderam resolver em duas décadas é uma fantasia”, disse Guterres antes do encontro anual da ONU da próxima semana em Nova Iorque.

As Nações Unidas assumem que farão tudo o que puderem por um país que Guterres diz estar “à beira de um dramático desastre humanitário” e decidiu envolver os Talibãs para ajudar cerca de 36 milhões de pessoas no Afeganistão.

Mesmo antes da tomada da capital Cabul pelos Talibãs, metade da população do país dependia de ajuda humanitária. Os analistas apontam que as dificuldades vão aumentar devido à seca e escassez de recursos, e o Programa Mundial de Alimentos avisou que 14 milhões de pessoas estão à beira da fome.

Guterres disse que apoia os esforços para convencer os Talibãs a formar um governo mais inclusivo do que quando governaram há 20 anos. As Nações Unidas têm pouca capacidade de mediação, disse ele, e devem concentrar-se na sua “posição de organização internacional que está lá para apoiar o povo afegão”.

“Não podemos esperar por milagres”, disse Guterres, sublinhando que as Nações Unidas poderiam envolver-se com os Talibãs, mas que o movimento islâmico nunca aceitaria um papel da ONU na ajuda à formação de um novo governo afegão.

A ajuda humanitária deve ser usada como um instrumento para ajudar a convencer os Talibãs a respeitar os direitos fundamentais, incluindo os de mulheres e meninas, disse secretário-geral da ONU.

Os governos prometeram mais de 1,1 mil milhões de dólares (934,8 milhões de euros) em ajudas esta semana para o Afeganistão e apoio em programas para refugiados nos países vizinhos. Guterres também pediu aos países que garantam que a economia afegã “não seja completamente estrangulada”.

“Deve haver maneiras de injetar algum dinheiro na economia afegã, para que a economia não entre em colapso e para que as pessoas não estejam numa situação dramática, forçando provavelmente milhões a fugir”, disse Guterres, que iniciará o seu segundo mandato como secretário-geral da ONU a 1 de janeiro de 2022.

Guterres disse que as Nações Unidas trabalharão com os seus parceiros para garantir que a ajuda seja distribuída com base em princípios humanitários e que “todos sejam tratados de forma igual, sem qualquer tipo de distinção com base no género, na etnia ou qualquer outra consideração”.

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