Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 2 de setembro, com a edição impressa do Semanário NOVO.
Portugal fechou o segundo trimestre com uma economia estagnada, apesar do crescimento de 2,3% em termos homólogos, e com uma subida inesperada da inflação, embora com o comportamento inverso do indicador subjacente. A leitura dos preços trouxe ainda o valor final para o coeficiente de atualização das rendas, embora seja expectável que o Governo volte a limitar as mesmas por decreto.
A economia nacional não cresceu no segundo trimestre em comparação com os primeiros três meses do ano, um resultado já estimado na leitura rápida do INE. A procura interna até recuperou e voltou a dar um contributo positivo para o crescimento, invertendo o cenário do trimestre anterior, e os ganhos de troca cresceram, dado que o recuo do deflator das importações foi bastante superior ao das exportações.
Ainda assim, o comércio internacional, um dos motores da economia nacional nos últimos anos, dá sinais de fragilidade com a quebra de atividade e rendimento dos principais mercados compradores de produtos e serviços nacionais. O contributo da procura externa em cadeia foi, portanto, negativo: -0,4 pontos percentuais (p.p.), muito abaixo dos 2,3 p.p. da leitura anterior. Em termos homólogos, esta com- ponente viu o seu contributo recuar de 2,4 p.p. para 1,4 p.p..
O crescimento em cadeia e homólogo ficaram abaixo do registado no trimestre anterior, enquanto a inflação voltou a acelerar à boleia da energia, num resultado inesperado
Não é de estranhar, assim sendo, que tanto o resultado em cadeia, como a comparação com igual período de 2022 resultem em resultados mais fracos do que no primeiro trimestre: o PIB avançou 1,6% no primeiro trimestre do ano em comparação com o último de 2022, bastante acima da variação nula agora conhecida, e cresceu 2,5% em termos homólogos, ou seja, mais do que os 2,3% apurados para o segundo trimestre.
Já a inflação mostrou o comportamento contrário com uma subida surpresa em agosto, muito à conta de um regresso das pressões do lado da energia. O indicador nominal agravou-se em termos homólogos por 0,6 p.p., saltando para 3,7% com a subida dos preços dos combustíveis, detalha o INE. Depois de meses em queda, a energia volta assim a pressionar os preços na economia nacional, tal como sucede na generalidade da zona euro.
No entanto, o indicador subjacente desacelerou, dando algum alívio aos legisladores e analistas. Excluindo a volatilidade dos bens alimentares e dos energéticos, o indicador core recuou de 4,5% para 4,3%.
De acordo com a legislação em vigor, a leitura de agosto do índice de preços no consumidor determina o coeficiente de atualização de rendas para o ano seguinte. À semelhança do que aconteceu no ano passado, o valor é historicamente elevado, depois de largos anos de inflação próxima de zero: excluindo a componente da habitação, a média dos últimos 12 meses fica em 6,94%.
Destaque ainda para o recuo assinalável do investimento direto estrangeiro (IDE) no primeiro semestre em termos homólogos, que caiu 57% com a subida dos juros na zona euro e, sobretudo, com a incerteza legislativa em torno do merca- do imobiliário com o pacote ‘Mais Habitação’, dado que o grosso deste indicador se destina àquele sector.
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