Quando as águas do Pacífico aquecem, o vento sopra menos nos Estados Unidos e as contas da EDP Renováveis ‘arrefecem’. É uma formulação simplista do que aconteceu em 2023 às contas da energética, mas o El Niño teve impacto em 2023 e deverá continuar a ter nos primeiros trimestres deste ano.
Este fenómeno oceano-atmosférico consiste no aquecimento excessivo das águas do Pacífico, o que leva a que a corrente de jato (um vento) que sopra deste oceano provocam mudanças climatéricas nos Estados Unidos: o norte fica mais seco e quente, o sul com mais precipitação e até inundações. Pode durar entre nove-12 meses e ocorre a cada dois-a-sete anos. Como curiosidade, o nome foi dado pelos pescadores da América do Sul: El Niño de Navidad (o menino do Natal), porque o seu pico tem lugar em dezembro.
Foi o que aconteceu com a EDP Renováveis: o impacto do El Niño levou o vento a soprar menos nos Estados Unidos em 2023 com um impacto negativo de 178 milhões nas suas contas.
“O El Niño vai continuar um ou dois trimestres, mas não existe evidência estatística de que vai manter-se o resto do ano”, disse o presidente-executivo da EDP Renováveis na quarta-feira numa chamada com analistas, onde houve muitas questões sobre o tema.
Em 2023, a companhia produziu menos eletricidade nos EUA (-9%), com o load factor a atingir os 30% nos EUA, menos três pontos face a período homólogo.
Os lucros da EDP Renováveis deslizaram 50% para 616 milhões de euros em 2023, com o preço médio de venda de eletricidade mais baixo (-6%) a impactar negativamente as contas, apesar do seu efeito ter sido parcialmente compensado por um aumento na produção (+4%) e por mais capacidade em operação (+8%), anunciou a empresa na quarta-feira.
“2023 foi desafiante, continuamos a ter os mesmos desafios, vamos trabalhar para resolver os ventos adversos”, disse Miguel Stilwell de Andrade na chamada.
O grande objetivo para este ano é construir quatro gigawatts de nova capacidade renovável, um novo máximo. “Vamos trabalhar para os quatro gigawatts, que vão ser muito difíceis de entregar. Vamos manter os olhos na bola”.
A companhia atingiu um recorde de 2,5 gigawatts de nova capacidade em 2023, com 1,7 gigawatts concluídos no quarto trimestre. Para este ano, os quatro gigawatts vão constituir um novo recorde de nova capacidade anual. Se tudo correr como planeado, a elétrica vai contar com 21 gigawatts instalados no final deste ano, tal como o JE revelou em novembro de 2023.
“Temos uma boa visibilidade para novas adições em 2024, com a normalização gradual dos painéis solares: 85% das metas para 2024 estão sob construção”, afirmou o CEO na call.
Entre os projetos concluídos na reta final de 2023 está a maior central solar europeia da EDP Renováveis. Nascida do primeiro leilão solar no país, a central já está concluída depois de a elétrica ter arrebatado este lote em 2019, tal como revelou o Jornal Económico a 20 de fevereiro.
A central solar fotovoltaica da Cerca, nos concelhos da Azambuja e Alenquer, no distrito de Lisboa, ficou concluída ainda em 2023, com um total de 202 megawatts (MW). A central supera o projeto de Przykona na Polónia com 195 MW e que também entrou em operação em 2023.
Mas houve outros impactos a assinalar em 2023 além do El Niño. Os projetos solares nos EUA sofreram vários atrasos com problemas na cadeia de abastecimento, com impacto negativo de 51 milhões de euros em termos de contratos PPA por as centrais estarem atrasadas. A empresa garante que 70% do equipamento já foi entregue para estes projetos e que ao longo do ano as centrais serão concluídas gradualmente.
Recorde-se que em maio de 2023, a EDPR anunciou atrasos em vários projetos solares nos EUA. O Governo dos EUA tem vindo a apertar as regras sobre produtores chineses de painéis solares no âmbito do combate ao uso de trabalho forçado da minoria muçulmana uigur na província de Xinjiang no oeste da China. Uma dessas empresas atrasou-se a entregar a documentação exigida pelas autoridades dos EUA o que provocou atrasos nas entregas.
Para contornar este problema, a EDP anunciou a diversificação de fornecedores: nos EUA já contam com seis fornecedores e na UE com três. O CEO garantiu que com os novos fornecedores, a empresa não vai sofrer atrasos relacionados com a questão da Uyghur Forced Labor Prevention Act (UFLPA) que é supervisionada pela U.S. Customs and Border Protection (a polícia alfandegária).
“Temos uma posição muito forte na nossa cadeia de abastecimento”, afirmou o CEO. Alguns dos painéis comprados já são produzidos nos EUA. “Já estamos numa melhor posição em relação à cadeia de abastecimento”.
Na Europa, a carga fiscal em vários países teve um impacto negativo de 106 milhões, como na Roménia e Polónia. Para 2024, é esperado um custo de 15 milhões em Espanha com o regresso de uma taxa de 7% sobre a produção.
Na Colômbia, 500 gigawatts eólicos sofreram atrasos, com um custo de 53 milhões ao nível do contrato PPA, tendo sido registada uma imparidade de 179 milhões de euros. O PPA está a ser alvo de uma renegociação com o tomador e são esperados desenvolvimentos no licenciamento da rede na segunda metade do ano.
A companhia já fechou uma venda e tem outro contrato assinado para a venda de dois ativos de 500 gigawatts nos EUA, com um valor acima de mil milhões de dólares.
A rotação de ativos rendeu 1,7 mil milhões de euros em 2023 (em linha com os dois anos anteriores), sendo de esperar este ano um valor a rondar os 1,7 mil milhões.
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