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Eleições europeias e desinformação: o regresso da ameaça russa

A desinformação sobre as eleições está a deixar Europa ansiosa: aumentam as preocupações de que a Rússia ou a China possam tentar desestabilizar o processo democrático na Europa em junho.
22 Maio 2024, 19h09

Desde há uns anos que sempre que há eleições em países ocidentais de relevância planetária, surgem indicações de que os inimigos das democracias – normalmente os russos mas agora também os chineses – desatam a enviar mails com notícias falsas que confundem o eleitorado e mistificam os resultados. Nunca ninguém explicou os contornos do processo, como nunca ninguém disse que uma sociedade informada tende a ser impermeável à desinformação. Ou que, partindo-se do princípio da desconfiança, a desinformação tem efeitos muito reduzidos. Seja como for, o próprio Parlamento Europeu apelou aos dirigentes políticos da União e dos Estados-membros “para que combatam urgente e vigorosamente as tentativas de interferência russa”.

Assim, há cerca de um mês, e “na sequência de várias revelações recentes de tentativas apoiadas pelo Kremlin de interferir e minar os processos democráticos europeus, os eurodeputados aprovaram uma resolução que denuncia firmemente esses esforços. Qualquer tática desse tipo, dizem, deve ter consequências”.

O Parlamento colocou ênfase no outro lado do problema: alegações credíveis de que alguns eurodeputados foram pagos para divulgar propaganda russa e vários participaram nas atividades do meio de comunicação social pró-russo “Voz da Europa”. Há, argumenta o Parlamento comum, “um sentido de urgência e determinação para isso, tendo em conta a aproximação das eleições europeias de 6 a 9 de junho de 2024”.

Para reforçar as defesas do próprio Parlamento, foi aprovada uma resolução que sugere o reforço da cultura de segurança interna, incluindo investigações aprofundadas para avaliar possíveis casos de interferência estrangeira e a plena aplicação do seu quadro de sanções internas. Os eurodeputados também querem formação de segurança obrigatória para os deputados e funcionários, autorização de segurança adequada e reforço do rastreio do pessoal.

A resolução sugere ao Conselho que “inclua os meios de comunicação social apoiados pelo Kremlin, outras organizações de radiodifusão e de comunicação social e indivíduos responsáveis por campanhas de propaganda e desinformação na UE no próximo 14.º pacote de sanções russas”.

Entretanto, e segundo a imprensa, a interferência continua. De acordo com Rolf Nijmeijer, assistente de investigação e perito em desinformação russa do Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais (EDMO), a interferência externa russa não é nova, mas a guerra na Ucrânia sim – refere uma reportagem da Euronews. “Temos uma Europa mais ansiosa devido aos conflitos que a rodeiam neste momento e à perceção de que o mundo é atualmente caótico e irrealista”, afirmou. Já há muitos exemplos públicos de interferência estrangeira liderada pela Rússia: interferência de sinais de GPS, subornos pró-Kremlin a políticos em Bruxelas e um site falso a pedir aos soldados franceses para se alistarem na invasão ucraniana em curso.

O Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) descreve a interferência estrangeira como um padrão de comportamento manipulador e coordenado por parte de Estados ou atores não estatais que “ameaça ou tem o potencial de afetar negativamente valores, procedimentos e processos políticos”. Mas as interferências de sinais GPS – que, por exemplo, provocaram uma avaria que obrigou um avião da Finnair a regressar a Helsínquia – são pirataria. Ao mesmo tempo, o pagamento de subornos é corrupção. Fica ainda a questão do site: pedir aos soldados franceses para se alistarem? Para a Ucrânia? Alguém subscreveu?

De acordo com Jakub Kalensky, diretor-adjunto do Centro Europeu de Excelência para o Combate às Ameaças Híbridas (Hybrid CoE), os russos não intensificaram a sua interferência apenas nestas eleições. Só em 2016, há provas de que os russos interferiram nas eleições norte-americanas, na votação do Brexit no Reino Unido e nos referendos nos Países Baixos e em Itália, afirmou Kalensky, citado ainda pela Euronews.

Mas Jamie Shea, membro sénior da Friends of Europe e funcionário reformado da NATO, disse que não há “provas conclusivas” de que a interferência russa altera o resultado de uma eleição. “Será que só ela explica porque é que o [ex-presidente dos EUA Donald] Trump foi eleito em 2016? Não”, disse Shea. Ou seja, ainda falta explicar muita coisa.

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