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Eleições nos EUA: o poder das celebridades nos movimentos cívicos

A Universidade de Harvard estudou o poder das celebridades na promoção do ato eleitoral como demonstração de civilidade. Mais que apoiar candidatos, a sua participação pode elevar os padrões da democracia.
14 Agosto 2024, 12h50

Um estudo do Centro ASH (Governação, Democracia e Inovação) da Universidade de Harvard, adianta o que parece mais ou menos óbvio: as celebridades desempenham um papel influente na promoção da participação cívica e o seu surgimento ao lado de um ou de outro dos candidatos é sempre uma mais-valia para quem tem a possibilidade de contar com elas. Como celebridades, entenda-se os mais importantes membros dos mundos da música, do cinema – mas também do inenarrável mundos dos influencers, estes com certeza pagos em ouro.

“Embora alguns estudos mostrem que as pessoas afirmam que não são influenciadas por vozes de celebridades quando se trata de política, evidências mais rigorosas indicam que essas vozes são incrivelmente poderosas”, refere o estudo da Harvard. “As celebridades estão numa posição única para capacitar os americanos comuns a usar as suas vozes e exercer os seus direitos cívicos”, afirma o relatório. “As celebridades são uma força incomparável na cultura americana, informando o que compramos, o que vestimos e o que falamos. Com uma influência e alcance significativos, eles são poderosos defensores de causas sociais e políticas”. Se for caso disso, claro – porque também há os que destoam e acabam por ficar fora do sistema ou por tornarem-se personalidades ‘tóxicas’, como foi o caso mais recente do rapper Kanye West, que, depois de ter dito coisas particularmente imbecis sobre assuntos que evidentemente desconhece, foi posto a andar do patrocínio de várias marcas globais.

O estudo de Harvard não examina o comprometimento de celebridades a candidatos específicos com determinadas políticas ou políticos – concentrando-se apenas no papel que desempenham no esforço de participação dos eleitores para votarem. “Este estudo concentrou-se no engajamento cívico apartidário e nas formas de ajudar a capacitar os jovens a fazer a sua voz ser ouvida nas urnas”, disse à CNN norte-americana Ashley Spillane, autora do estudo e cofundadora do Projeto de Responsabilidade Cívica, acrescentando que as celebridades podem ajudar a criar “uma cultura em torno da participação, tornando-a divertida e algo que as pessoas devem preocupar-se em fazer”.

“As celebridades têm uma capacidade única de se ligar com as gerações mais jovens de maneiras que os media e outros canais não conseguem”, afirma o estudo. “O seu controlo e presença nas redes sociais” posicionam-nos como fontes informação que qualquer político ou partido muito gostariam de poder aproveitar em seu favor.

O ex-presidente e candidato republicano Donald Trump já teve ao seu lado Hulk Hogan e Kid Rock, enquanto Megan Thee Stallion, George Clooney e Jennifer Aniston estão entre os artistas famosos que expressaram o seu apoio à vice-presidente Kamala Harris. A estrela pop britânica Charli XCX aumentou o apelo da Geração Z em torno de Kamala Harris com um único tweet que dizia: “Kamala é pirralha”. Trump sentou-se no início desta semana com o streamer de 23 anos, Adin Ross, para uma entrevista na plataforma social Kick, depois de o seu filho adolescente, Barron Trump, ter dito que era seguidor do influencer.

A Geração Z e a Geração Y, que constituirão o maior bloco eleitoral dos EUA até 2028, gastam uma média de 180 a 157 minutos diários nas redes sociais, respetivamente. Os analistas de Harvard observaram o poder dessas redes, mas também exploraram campanhas de celebridades em todos os meios, incluindo televisão, documentários, merchandising e anúncios públicos. E analisaram dados de iniciativas de celebridades nos ciclos eleitorais de 2018, 2020 e 2022, incluindo as participações de Kerry Washington, Billie Eilish, Hailey Bieber, Trevor Noah, David Dobrik, Questlove e Taylor Swift.

Por exemplo, em 2018, quando Taylor Swift, através do Instagram, incentivou os seus então 112 milhões de seguidores a registrarem-se para votar em www.vote.org, a organização recebeu o maior registo de novos eleitores da história em apenas um dia. Já Ariana Grande, que promoveu o registo de eleitores em 2019 e Kylie Jenner, que fez o mesmo em 2020, conseguiram aumentos de 1.500% no tráfego em relação ao dia anterior.

Um dos casos do estudo é o de Billie Eilish, vencedora do Grammy, que tem falado abertamente sobre as campanhas e a participação nas urnas. O ex-apresentador do “Daily Show”, Trevor Noah, também faz apelos à ação no seu programa. O YouTuber David Dobrik uniu-se à organização sem fins lucrativos Headcount para presentear cinco Teslas para os registados para votar. De acordo com o estudo de Harvard, quase meio milhão de participantes aderiram ao sorteio. Washington, a atriz e ativista que entrou no bem-sucedido programa “Scandal”, da ABC, lançou o Influence Change, que recruta outros artistas para promover o comprometimento cívico.

“As democracias funcionam melhor quando todos votam. Artistas, músicos, atletas, atores e criadores têm uma oportunidade única de incentivar os eleitores. O seu alcance pode ser aproveitado para inspirar a participação e garantir que mais pessoas ocupem o seu lugar de direito como participantes ativos na nossa democracia.”

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