No meio da enorme azáfama das primárias norte-americanas de New Hampshire – que decorriam ainda à hora do fecho desta edição – o Partido Democrata quer apagar a péssima imagem que se lhe colou depois das primárias de Iowa e começar a perceber quais são as grandes tendências dos eleitores: conseguirá Bernie Sanders vencer a corrida? Estará Joe Biden definitivamente arredado do primeiro lugar? Será Pete Buttigieg o primeiro homossexual assumido a correr à Casa Branca? E finalmente, por onde andará o multimilionário Michael Bloomberg?
Bloomberg, antigo ‘mayor’ de Nova Iorque à data dos atentados do 11 de setembro de 2001, ex-republicano, não só não concorreu a Iowa, como decidiu também não pôr os pés em New Hampshire. Paradoxalmente, ou talvez não, uma sondagem ontem dada a conhecer indicava que Bloomberg é o candidato democrata mais capaz de vencer Donald Trump nas eleições de novembro – Sanders e Biden surgem logo a seguir e Pete Buttigieg aparece apenas em sexto lugar.
Por estes dias, e segundo os jornais norte-americanos, Michael Bloomberg continua a exercer a sua discutível e inalcansável (para todos os outros) forma de fazer política: despejando rios de dinheiro numa campanha publicitária agressiva que tem duas finalidades óbvias: fazer entrar o candidato pela casa dentro dos norte-americanos como se se tratasse de outro produto qualquer (e há quem diga que é isso mesmo que se passa) e reservar o candidato dos mortíferos debates entre os candidatos democratas – que parecem servir apenas para poupar os republicanos, dado que o volume de críticas ‘inter pares’ é brutal.
Assim, enquanto os restantes candidatos se digladiam com firmeza e crescente raiva entre eles, Bloomberg abre os cordões à bolsa e, segundo os mesmos jornais, já terá gasto uns 350 milhões de dólares na campanha (apesar de novembro ser, em princípio, apenas daqui a oito meses). Sejam quais forem os resultados de New Hampshire, é certo que os principais candidatos vão envolver-se em mais uma dura batalha política, na tentativa de convencerem o partido de que todos fazer parte de que são os melhores. Bloomberg estará confortavelmente sentado num sítio qualquer, a ver o sangue a espalhar-se na arena.
A comunicação social diz que os 350 milhões gastos pelo antigo ‘mayor’ de Nova Iorque – principalmente em publicidade nas televisões e nas redes sociais – já são mais que tudo aquilo que Trump gastou nas eleições de 2016. Mas talvez não valha a pena ninguém preocupar-se com os gastos: afinal, Bloomberg é considerado o 14º homem mais rico do planeta, com uma fortuna avaliada em 58 mil milhões de dólares – o que transformam os 350 milhões gastos num ligeiro solavanco, na mesma proporção de alguém que, tendo 165 dólares no bolso, tivesse acabado de perder um.
Além do mais, Bloomberg sabe que deste modo está a atingir Trump no seu ponto mais fraco: a insegurança do presidente face à sua propagandeada riqueza, que talvez não seja tanta quanto isso, no meio de hipotecas, serviços de empréstimos e ativos em desvalorização.
Para já, na última sondagem conhecida, Bloomberg tem 15% das intenções de voto entre os democratas, o que o coloca num honroso terceiro lugar. Mas as sondagens têm-se revelado muito pouco assertivas. E em alguma altura terá de intervir no debate.
Entretanto, as picardias entre Trump e Bloomberg já começaram. O presidente chama-lhe frequentemente ‘mini Mike’, dado que o ex-‘mayor’ é muito baixinho. Mas, neste particular, Bloomberg vai à frente: um dia destes alguém que perguntou se seria saudável uma campanha para as presidenciais feita entre dois multimilionários, ao que o democrata respondeu com uma pergunta: “quem é o outro?”
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