[weglot_switcher]

Elisa Ferreira: “Os progressos do sistema bancário português são inegáveis” mas “há muito trabalho a fazer”

Vice-governadora do Banco de Portugal participa hoje no Fórum Banca, uma iniciativa do Jornal Económico e da PwC. Elisa Ferreira destacou que as instituições financeiras têm de adaptar-se à “revolução tecnológica” em curso.
  • Cristina Bernardo
29 Novembro 2017, 09h32

A vice-governadora do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, sublinhou hoje no Fórum Banca, uma iniciativa organizada  pelo Jornal Económico e pela PwC, que após os anos de crise financeira global, os progressos do sistema bancário português nos anos recentes “são inegáveis”, sobretudo na redução das incertezas.

“O setor está melhor preparado para dar o financiamento necessário à economia”, referiu, frisando os pontos onde considera ter havido um “grande ajustamento” em Portugal: desalavancagem do setor, reforço de solvabilidade, melhoria da liquidez e progresso na eficiência.

A vice-governadora referiu ainda o ajustamento da capacidade instalada das instituições financeiras, com diminuição de 30% no número de balcões entre 2011 e 2016 e de 19% no número de colaboradores. “O setor tem recuperado atividade desde o segundo semestre de 2013” e “o perfil de financiamento é mais equilibrado”.

Contudo, a vice-governadora alertou que “há muito trabalho a fazer num contexto regulatório exigente e que ainda não está estabilizado” e que “importa acompanhar os debates em curso na União Europeia”.

“A grande diferença registada na rendibilidade dos capitais próprios face aos pares decorre fundamentalmente do facto de os bancos portugueses terem de registar valores significativos de imparidades para cobertura dos seus ativos não produtivos (NPL)”, diz Elisa Ferreira.

“Apesar de os ativos não produtivos permanecerem em níveis acima da média europeia, importa, também aqui, reconhecer o progresso alcançado desde o valor máximo observado em junho de 2016. Desde essa data até junho de 2017, isto é, no espaço de um ano, o total de ativos não produtivos (incluindo empréstimos mas também outros ativos – Non Performing Exposures, NPE) foi reduzido em cerca de 8.2 mil milhões de euros, alcançando aproximadamente 42.3 mil milhões de euros”, explicou a supervisora.

Em termos de rácio de ativos não produtivos, a redução foi de 2.4 p.p. no mesmo período, situando-se em 15.5% em junho de 2017. A redução em termos absolutos é mais significativa do que o rácio em si pois este incorpora o efeito denominador, ou seja, a diminuição do total de empréstimos no âmbito do necessário ajustamento de balanço após a crise, revelou.

“Por fim, importa ainda mencionar o esforço paralelo dos bancos em relação ao aumento da cobertura dos empréstimos não produtivos por imparidades, tendo o respetivo rácio aumentado de 41% em 2015 para 45.9% em junho de 2017. Não obstante esta evolução positiva, o esforço ainda necessário para reduzir os ativos não produtivos para níveis mais sustentáveis é considerável. É neste contexto que assumem especial relevância os trabalhos que têm vindo a ser desenvolvidos para acelerar a redução destes ativos no balanço dos bancos em Portugal”, diz.

“A nível nacional, a estratégia de redução de ativos não produtivos assenta primordialmente em três pilares interdependentes e complementares: revisão do enquadramento legal, judicial e fiscal; ações de supervisão microprudencial, articuladas no âmbito do MUS, com destaque para o compromisso dos bancos com planos ambiciosos (mas realistas) para a redução calendarizada de NPL; e gestão dos portfólios de NPL, onde se destaca a iniciativa de constituição da Plataforma de Gestão Integrada de Créditos Bancários, que deverá entrar em funcionamento a breve prazo, dedicada à gestão coordenada de créditos concedidos a sociedades não financeiras com exposições cruzadas a vários bancos”.

Elisa Ferreira destacou também o impacto que as fintech estão a provocar no setor. “São uma inevitável mudança, que tornará o mercado mais competitivo” pela concorrência de custos que introduz.

As fintech são uma “fonte de disrupção” para as instituições financeiras m instaladas” e a vice-governadora considera “importante que banca integre e reverta a revolução tecnológica que está em curso”.

“A melhor forma, para um participante no mercado, de antecipar e assumir desafios e impactos colocados pelos avanços tecnológicos, é colocar-se no centro da inovação tecnológica, de modo que esta possa ser compreendida e orientada no sentido do bom funcionamento, eficiência, segurança e confiança nos serviços prestados”, revelou.

“A alteração do modelo de negócio induzida pelas FinTech constitui uma das prioridades de supervisão. Tanto a EBA, como o MUS, dos quais o Banco de Portugal é membro ativo, têm em curso iniciativas regulatórias e de supervisão para responder aos desafios decorrentes das FinTech, seguindo um princípio de ‘a mesma atividade, o mesmo risco, as mesmas regras'”, acrescentou.

Finalmente disse que do lado do Banco de Portugal, foi criado um grupo de reflexão multidisciplinar, com o objetivo de estudar a evolução da Banca Digital e das FinTech e de perspetivar, no horizonte 2020, os desafios que se colocam no contexto alargado da sua missão e no quadro específico das suas responsabilidades de regulação e supervisão.

(atualizada)

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.