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Elogios, protestos e selfies. O primeiro dia dos próximos cinco anos de Marcelo reeleito

Numa cerimónia diferente da que se realizou em 2016 (também a 9 de março), Marcelo Rebelo de Sousa repetiu o juramento presidencial e comprometeu-se a ser “o mesmo de há cinco anos”. Num mandato em que a democracia ultrapassará, em longevidade, o regime salazarista, destacou também a necessidade de se afirmar um “patriotismo de futuro” sem “messianismos”, e “tudo fazer” para defender a liberdade, num tempo em que “é tão sedutor encontrar bodes expiatórios”.
9 Março 2021, 19h16

Cinco anos depois de ter tomado posse como Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa repetiu esta terça-feira a cerimónia e o juramento de cumprir e defender a Constituição. Numa cerimónia diferente da que se realizou em 2016 (também a 9 de março), Marcelo comprometeu-se a ser “o mesmo de há cinco anos”, durante num mandato em que se ultrapassará, em longevidade, o regime salazarista.

O dia começou cedo para Marcelo Rebelo de Sousa. Pelas 10h00 da manhã, deixou a antiga casa dos pais, perto da Calçada da Estrela (onde esteve a passar a noite), e dirigiu-se a pé para a Assembleia da República. A caminhada foi curta e, em pouco mais de dez minutos, chegou à Assembleia da República e, para cumprir o protocolo e entrar à hora marcada (10h30), teve de improvisar e aguardar um pouco.

Pelo caminho, anunciou aos jornalistas que as primeiras visitas de Estado do seu segundo mandato serão ao Vaticano e a Espanha, e admitiu que “os segundos mandatos são sempre mais difíceis do que os primeiros”. Mas isso não o preocupa, pois “já conhece o cargo e sabe que é mais pesado”.

À hora marcada, ouviu-se “A Portuguesa” e 21 tiros de salva e Revista à Guarda de Honra. Marcelo Rebelo de Sousa subiu, acompanhado pelo Presidente do Parlamento, Eduardo Ferro Rodrigues, a escadaria principal do Parlamento, e encaminhou-se para a Sala das Sessões, onde, sobre a Constituição da República, repetiu o juramento de “desempenhar fielmente as funções” e “defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição”.

Cerimónia minimalista com máscara e distanciamento obrigatórios

Numa cerimónia com menos pompa que há cinco anos devido à pandemia da Covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa discursou diante de apenas 50 dos 230 deputados, de dois ex-Presidentes da República Cavaco Silva e Ramalho Eanes (Jorge Sampaio não marcou presença) e cerca de 20 convidados (quando há cinco anos tinham sido 500).

No discurso, fez saber que será “o mesmo de há cinco anos” e que, neste segundo mandato, quer afirmar “um patriotismo do futuro” sem “messianismos presidenciais”. Destacou ainda a cinco “missões” (combate à Covid-19, recuperação económica, reforço da democracia, coesão social e protagonismo internacional do país) e três “causas urgentes” (reforço do Serviço Nacional de Saúde, mais condições para as empresas e maior foco na ação climática) que tem pela frente nos próximos cinco anos.

O discurso foi aplaudido por todas as bancadas, exceto à esquerda. À saída, os diferentes partidos felicitaram Marcelo Rebelo de Sousa pela recondução mas destacaram várias “omissões” no discurso do Presidente da República. E, contrariamente ao que aconteceu em 2016, em que Marcelo esteve mais de 45 minutos a receber cumprimentos no salão nobre da Assembleia da República, este ano isso resumiu-se a apenas acenos de cabeça e breves cumprimentos. Já Cavaco Silva não cumprimentou o Presidente.

Apesar das “distâncias” ditadas pela pandemia e pela presença obrigatória das máscaras, manteve-se a tradição do hino tocado nos Passos Perdidos pela banda da Guarda Nacional Republicana. Ao todo, só na Assembleia da República, “A Portuguesa” foi tocada quatro vezes.

Dos formalismos em Belém aos protestos no Porto

Marcelo Rebelo de Sousa seguiu depois para o Mosteiro dos Jerónimos, com escolta de honra motorizada pela Unidade de Segurança e Honras de Estado da Guarda Nacional Republicana. À chegada, deixou uma coroa de flores nos Túmulos de Vasco da Gama e de Luís de Camões e assistiu à cerimónia de homenagem aos mortos, com o habitual toque de silêncio, toque de homenagem e toque de Alvorada.

Caminhou depois até ao Palácio de Belém (residência oficial do Presidente), onde foi recebido pelo Chefe da Casa Militar e pela Chefe do Protocolo de Estado, à entrada, e pelo Chefe da Casa Civil, à chegada ao Pátio dos Bichos. Seguiu depois para a Sala das Bicas, onde recebeu, do secretário-geral das Ordens Honoríficas, as insígnias da Banda das Três Ordens. A cerimónia não teve direito a declarações à saída.

À tarde, o chefe de Estado foi recebido no Porto pelo autarca Rui Moreira. Mas antes foi dar uma palavra aos trabalhadores da Groundforce, que se manifestavam no aeroporto Sá Carneiro, devido ao impasse em que a empresa se encontra e ao atraso no pagamento do salário de fevereiro. Marcelo Rebelo de Sousa quis deixar uma palavra de consolo e garantiu que o Governo “está a fazer tudo o que pode para desbloquear” a situação.

Às 14h30, chegou à câmara do Porto, onde foi recebido por uma dezena de populares, alguns com mensagens de descontentamento com a sua recondução. Depois de uma breve reunião com Rui Moreira, dirigiram-se os dois a uma cerimónia ecuménica que contou, no Salão Nobre da câmara do Porto, com a participação de representantes de mais de uma dúzia de confissões religiosas presentes em Portugal.

‘Selfies’ e afetos antes do regresso a Lisboa

Após da câmara do Porto, Marcelo Rebelo de Sousa (conhecido por ser católico praticante) disse que é preciso “tudo fazer” para defender a liberdade, num tempo em que “é tão sedutor encontrar bodes expiatórios” e a “acusar sem fundamento” e “marginalizar sem humanidade”. E deixou um apelo a todos os portugueses para que contribuíam “por palavras e por obras para a pacificação dos espíritos, a aceitação do diferente, a aceitação do diverso, a aceitação do estranho”.

Dirigiu-se de seguida ao Bairro do Cerco, no Porto, que há cinco anos também tinha visitado em dia de tomada de posse. Dezenas de pessoas saíram à rua para ver o Presidente da República e tirar selfies com o Presidente. Num registo a que habituou os portugueses depois de cinco anos de “afetos”, Marcelo cedeu e foi difícil manter as regras de distanciamento sanitário. “Tinha saudades de ver este bairro, que está a mudar. Mudou muito em cinco anos, mas ainda tem metade para mudar”, confessou.

O Centro Cultural Islâmico foi a paragem seguinte antes de regressar a Lisboa. Na companhia de Rui Moreira, Marcelo Rebelo de Sousa fez uma visita rápida pelo espaço e, em declarações à saída (antes de se voltar a cruzar com mais outra dezena de pessoas que ali se encontravam para o cumprimentar), assumiu que entende que os portugueses esperam “mais de si e mais energia” no novo mandato, que agora inicia, porque o tempo atual é também “mais difícil” dada a situação pandémica.

“Os portugueses esperavam que o presidente não esmorecesse porque o tempo é mais difícil do que o do primeiro mandato, esperavam que tivesse mais energia para um segundo mandato mais difícil porque vai ser mais difícil do que o primeiro”, admitiu. E concretizou uma ideia que exposto de manhã: a reconstrução na economia e na sociedade nos pós-pandemia é o que faz antever um segundo mandato “mais difícil”.

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