Depois de um 2017 recheado de eventos políticos de risco e de questões críticas acerca da política monetária, 2018 perspectiva-se algo naborrecido. Com os riscos políticos esbatidos e a economia global em boa marcha, os mercados financeiros estão focados no factor que pode levar os bancos centrais a dar um passo em falso: a inflação. Se a inflação baixa foi o enigma económico de 2017, em 2018 o indicador vai ser a atracção principal.

A inflação é como que o batimento cardíaco da economia. Se for demasiado baixa, é provável que a economia fique fragilizada. Se demasiado alta, o coração da economia (o sistema monetário e financeiro) pode entrar em colapso. O ideal é mantê-la a um ritmo moderado e estável, em torno dos 2%. Segundo os indicadores de novembro, a inflação nos EUA está nos 2,2%, na Zona Euro nos 1,5% e na China nos 1,7%. As três regiões em ligeira aceleração face aos níveis de inflação médios de 2016, ainda que abaixo do consenso no início de 2017.

Em 2018 é provável que assistamos a uma aceleração da inflação nos três blocos (em particular nos EUA), mas a inflação deste ano é, na minha opinião, pouco importante. É mais importante analisar a dinâmica inflacionista de uma perspectiva plurianual. Será que a aceleração da inflação em 2018 implica mais aceleração em 2019 e 2020? Qual é a influência que a política monetária vai ter? Poderá o batimento cardíaco da economia manter-se moderado e estável, mesmo com taxas baixas? Responder a estas questões é prioritário para aproveitar as oportunidades que a volatilidade dos mercados financeiros nos trará em 2018…

Nas regiões desenvolvidas, o bom desempenho económico recente e o consequente optimismo dos consumidores e das empresas são factores a favor da aceleração da inflação, mas há outros, mais estruturais, que parecem estar a pesar mais na dinâmica dos preços: a exponencial inovação tecnológica, a globalização, e os níveis altos de endividamento.

A globalização pode ser em parte revertida por políticas proteccionistas, mas a inovação tecnológica e o endividamento das economias são dois factores que se vão manter presentes. Isto significa que, tudo o resto igual, é pouco provável que a inflação acelere demasiado nas regiões desenvolvidas. O problema é que no mundo real, tudo o resto não fica igual, e no mundo de 2018 existem duas possíveis fontes de inflação. Uma no Médio Oriente, onde o persistente crescendo das tensões geopolíticas pode cada vez mais levar a um conflito que perturbe a produção e fornecimento de petróleo da região. Outra na Ásia, onde são produzidos uma grande parte dos produtos baratos consumidos nas regiões desenvolvidas, e onde a transição de modelos económicos de exportação de bens manufacturados, para modelos mais baseados nos serviços e consumo doméstico, pode levar a dinâmicas inflacionistas. Resumindo, em 2018 a inflação vai provavelmente ser o indicador mais escrutinado, mas escusemo-nos de olhar para as regiões desenvolvidas. É do Médio Oriente e da China que ela pode surgir e persistir.