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Em 2025 celebram-se os cem anos de Mestre Paredes em quatro continentes

Em 2025 cumprem-se 100 anos sobre o nascimento de Carlos Paredes, considerado um dos mais importantes e influentes músicos portugueses do século XX, cujo legado ocupa um lugar central no nosso património cultural.
22 Janeiro 2025, 19h43

Já se conhece o programa das celebrações do Centenário de Carlos Paredes. Durante 2025, há mais de 100 atividades previstas, entre concertos e festivais internacionais, em 17 cidades de 12 países espalhados por quatro continentes, em locais como Xangai, Atenas, Barcelona, Rabat, Cidade do México, Buenos Aires e Montevideu.

O programa do centenário abarca desde documentários, colóquios e workshops, à reedição da obra fonográfica integral de Carlos Paredes, figura ímpar da guitarra portuguesa que influenciou distintas gerações de músicos nacionais e internacionais, e assenta em três grandes eixos: Artes Performativas e Música; Investigação, Memória e Património; Programas Educativos.

O tiro de partida acontece antes do centenário propriamente dito. A 5 de fevereiro, a Orquestra Metropolitana de Lisboa atua no Teatro Municipal São Luiz, antes do espetáculo de tributo Perpétuo, no dia seguinte, no Centro Cultural de Belém, numa performance que junta música – com intérpretes como Gaspar Varela, Ricardo Parreira, Bernardo Couto, Luís Guerreiro, Ricardo Toscano, Maria Sá Silva, Nelson Aleixo e Francisco Gaspar, entre outros –, e dança, com os bailarinos Guilherme Leal e Margarida Belo Costa, numa encenação de Diogo Varela Silva.

A 16 de fevereiro, data do aniversário de Carlos Paredes, a Aula Magna da Universidade de Lisboa recebe um concerto que reúne nomes como Luísa Amaro – guitarrista e companheira de Carlos Paredes –, o compositor Carlos Alberto Moniz, a cravista Joana Bagulho, os pianistas Mário Laginha e Ana Telles e a cantora A Garota Não.

Lisboa será o ponto de partida deste périplo por várias geografias. Em território nacional, Braga será palco de um concerto de Mário Laginha, os guitarristas Norberto Lobo e Ben Chasny farão uma digressão nacional de Faro a Ponta Delgada, e Coimbra, terra natal de Mestre Paredes irá receber um concerto para guitarra portuguesa e orquestra no Convento de São Francisco. Fora de portas, a a celebração de Carlos Paredes tem início na Exposição Mundial de Osaka, pelas guitarras do trio Alvorada, inspirado na viagem que o guitarrista fez em 1970 para atuar nesta cidade japonesa, e prosseguirá mundo fora com artistas como Carminho, Teresinha Landeiro, António Zambujo ou Kátia Guerreiro.

O segundo eixo englobará duas exposições, Variações para Carlos Paredes, que terá lugar no Museu do Fado entre maio e dezembro, com curadoria de Ivan Dias e António Manuel Nunes. Paralelamente, haverá também uma exposição itinerante, intitulada Asas sobre o Mundo, e que passará pelos festivais já referidos. À boleia das celebrações, haverá também espaço para edições e reedições, para a divulgação de dois documentários sobre o artista – Paredes Guitarrista, de Graça Castanheira, e Regresso, de Ivan Dias – e para a realização de dois colóquios subordinados a esse mesmo tema. No âmbito do património e da memória, o Arquivo Nacional do Som tem previsto um plano estratégico de salvaguarda e conservação da obra fonográfica de Carlos Paredes.

No que toca ao terceiro eixo, será criada em maio a plataforma TOCABEM, para o ensino online de guitarra portuguesa e viola, antecedido, em fevereiro, por um workshop de interpretação do repertório de Carlos Paredes, sob tutela do músico Pedro Jóia. Será ainda organizada uma oficina de construção de guitarras portuguesas, a decorrer na Oficina da Guitarra até ao final do ano, e, em setembro, o teatro musical 100 Paredes subirá ao palco do Maria Matos, num espetáculo que envolve 36 alunos dos 9 aos 18 anos do Agrupamento de Escolas Nuno Gonçalves, em Lisboa.

Um génio da guitarra portuguesa

Carlos Paredes nasceu a 16 de fevereiro de 1925, em Coimbra, e partiu para Lisboa muito jovem. Foi na capital que começou a estudar violino, que viria, mais tarde, a abandonar para se dedicar inteiramente à guitarra. Desde o início da década de 60 destacou-se como intérprete do chamado estilo de Coimbra, criado pelo pai, Artur Paredes – neto de Gonçalo Paredes e sobrinho-neto de Manuel Rodrigues Paredes – logo, herdeiro de uma vasta tradição familiar onde a guitarra esteve sempre presente.

Carlos Paredes escreveu música para filmes e para peças de teatro. Algumas das suas obras foram coreografadas. Deu concertos nos cinco continentes e recebeu vários prémios da crítica, alcançando um prestígio inigualado por outros instrumentistas da guitarra. O seu nome ficou também ligado ao novo cinema nacional – refira-se “Verdes Anos”, de Paulo Rocha e o tema homónimo de Paredes.

Entre os álbuns que gravou, figuram Carlos Paredes (1957), o seu álbum de estreia, Guitarra Portuguesa (1967), Movimento Perpétuo (1972), Concerto em Frankfurt (1983) e Espelho de Sons (1988). Além do seu trabalho como músico, realizou ainda a produção e direção musical do disco Meus Pais (1970), de Cecília de Melo, acompanhando a cantora à guitarra e musicou poemas de Manuel Alegre, ditos pelo próprio, no disco É Preciso Um País (1975).

Em Invenções Livres (1986), o músico colaborou com o maestro António Vitorino d’Almeida, naquele que é um disco de improvisações de guitarra portuguesa e piano. Também no domínio das parcerias, surgiu, em 1990, Dialogues, um disco que juntou o mestre da guitarra portuguesa ao contrabaixista Charlie Haden, nome consagrado no mundo do jazz.

Muito fica por dizer sobre o artista e o homem, nomeadamente sobre a sua militância antifascista e a sua prisão pela PIDE em 1958, onde o músico esteve detido durante um mês, antes de ser enviado para o Forte de Caxias. Daqui resultará um roteiro organizado em colaboração entre o Museu do Aljube e o Museu do Fado.

Quando morreu, em 23 de julho de 2004, aos 79 anos de idade, foi decretado um dia de Luto Nacional.

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