Económico Cabo Verde – É a primeira mulher a assumir a presidência da AJEC, pois não?
Elisabeth Gonçalves – Sim, a AJEC foi fundada em 2009 e desde então tem sido liderada sucessivamente por homens.
– Indicou como seus desafios no seu acto de posse, trabalhar para melhoria do ambiente de negócios, profissionalizar as associações empresárias e mobilizar os jovens em todos os municípios. Como pensa materializar estes objectivos?
– O estabelecimento de um diálogo com as autoridades públicas e privadas, como as câmaras de comércios e associações, será primordial para a obtenção de resultados palpáveis. A criação de um ambiente de negócio propício passa não só pela implementação de instrumentos estratégicos, como pelo estabelecimento de um diálogo coerente e homogéneo baseado em metas pré-estabelecidas por sector.
Quanto à nossa relação com as autoridades já assinamos com as principais Câmaras Municipais protocolos que vão desembocar em contratos-programa para a implementação de objectivos estabelecido por região.
A nossa parceria com o governo já existe um contrato-programa que começará a ser implementado brevemente. A assistência técnica e a promoção do empreendedorismo vão ser os principais focos para implementação do nosso programa.
– Além de ajudar os jovens empresários a se capacitarem, que outros planos tem a sua direção?
– Reconhecemos a alta taxa de insucesso das empresas jovens, por isso a AJEC busca alternativas para a sobrevivência e o sucesso das empresas e isso passa por identificar oportunidades de negócios.
Pretendemos trabalhar com os jovens para aumentar o grau de sucesso nos negócios, o que passam pelo aumento da taxa de sobrevivência das empresas. Deste modo, criaremos um ambiente onde os jovens empreendedores possam se apoiar e se inspirar uns nos outros e assim obtermos um crescimento, equilíbrio e de sucesso.
Precisamos disponibilizar uma assistência técnica personalizada aos jovens empreendedores e ao mesmo tempo transformar a mentalidade através da promoção da inovação e criatividade. Iremos propor políticas públicas, a fim de melhorar o ambiente de negócios e promover uma imagem de inclusão.
Queremos implementar o conceito de “mentoring” entre os empreendedores existentes e aqueles que querem entrar no mundo dos negócios com o objetivo de atingir mesmo as pessoas a nível das escolas e universidades e assim obter uma mudança real no nosso país, permitindo o crescimento econômico e criação de riqueza.
– O acesso ao financiamento é um problema recorrente apontado pelos jovens empresários, como a AJEC poderá ajudar a ultrapassar este problema?
– A AJEC já disponibiliza serviços de aconselhamento e assistência técnica para os jovens empresários e empreendedores e no âmbito da implantação dos protocolos assinados com as autoridades contamos com o acesso as garantias criadas recentemente pelo governo.
– Quais seriam as fontes alternativas de financiamento, para os jovens que se queixam de dificuldades na obtenção de financiamento junto à banca local?
– Existem várias alternativas que consideramos importantes para incentivar os jovens a explorar e com nosso apoio. Por exemplo, o Business Angels é um empreendedor interessado em apostar em negócios inovadores. Normalmente é alguém que acumulou recursos – muitas vezes tem uma empresa que já deu certo – e resolve apoiar uma iniciativa. A injeção de recursos normalmente vem acompanhada de orientações como indicação de clientes, fornecedores e parceiros; Capital próprio e amigos, a velha fórmula de investir capital próprio e/ou a opção de contar com familiares e amigos também está na lista. No entanto, é importante ressaltar os prós e contras em contar com empréstimos de conhecidos.
Há ainda o Crowdfunding, que é um financiamento colectivo, que está muito na moda, obtido por meio de várias fontes, em geral pessoas físicas. O dono da ideia precisa fazer ampla divulgação do produto ou serviço, não basta inseri-lo em uma plataforma e esperar retorno de interessados. É indicado por especialistas como boa alternativa para testar o projeto porque, se o empreendedor conseguir captar o valor necessário, é um indicativo que há demanda. E quando a empresa está mais madura, o investimento pode ser conseguido através de fundos de private equity. Nesse caso as operações envolvem investidores de maior porte, empresas ou holdings que detêm operações comerciais consolidadas.
– Em que áreas há mais oportunidades de negócios para os jovens em Cabo Verde?
– A maior oportunidade de negócio para os jovens em Cabo Verde é no sector Turismo. Nos últimos anos, o número de visitas no país cresceu muito, principalmente nas ilhas da Boa Vista e Sal. Há novos hotéis e resorts em construção, o que implica ainda um número maior de turistas nos próximos anos. É só uma questão de tempo até que algumas outras ilhas se tornem realmente populares como destino. À medida que o setor de turismo muda haverá mais oportunidades para empresas jovens se destacarem.
Existe ainda uma cadeia de valor do turismo não explorada pelos jovens empresários e empreendedores. Alguns exemplos: a produção primária, de transformação ou industrial, e dos serviços, entre outros sectores, identificamos como oportunidades de negócio nas áreas da agricultura, catering, restauração, gestão de condomínios, ecoturismo, clínicas especializadas de saúde, lares de idosos, serviços de guias profissionais, call Centers, transportes urbanos, serviços de entrega ao domicílio, serviços de limpeza e de lavandaria, serviços de manutenção entre outras. Cada ilha tem potenciais ainda não exploradas.
O trabalho projectado com os municípios permitirá também fazer levantamentos exaustivos in loco e estabelecer metas qualitativas de exploração das oportunidades por região. As oportunidades são ilimitadas, mas não se pode ignorar a importância de desenvolver o espirito empreendedor nos jovens o que passa por desenvolver a capacidade de perceber os seus próprios talentos e vocações, de sonhar, ousar, aprender e se esforçar na edificação de seu próprio futuro, algo em que estamos a apostar fortemente. Pretendemos promover entre os jovens, o que é chamado de “soft skills” em inglês pode se despertar através de coaching e de treinamentos orientados.
– Como avalia as medidas do Governo para melhorar o ambiente de negócios para e promover o empreendedorismo jovem?
– Existe um protocolo e contrato-programa assinados com o Governo e vários compromissos assumidos por ambas as partes, o que já consideramos ser uma boa base de trabalho. Propostas de projectos, visando melhorar o ambiente de negócios dos jovens empresários, estão a ser finalizadas para apresentação como acordado. Isso significa que o diálogo foi estabelecido. O Governo tem demonstrado abertura para colaborar connosco. É importante realçar que estamos também a trabalhar com algumas Câmaras Municipais, nomeadamente protocolos assinados com as câmaras municipais do Sal, da Ribeira Grande de Santiago e de São Filipe, no Fogo, para a formulação e implementação de projectos ligados ao empreendedorismo específico a cada região. Isso nos permitirá responder, de forma muito específica e imediata, às necessidades locais. Com outros municípios estamos em negociação.
– Neste momento a AJE tem quantos associados? E em que áreas?
– Temos 174 associados activos, um número que pretendemos duplicar até ao fim do ano. Os sectores de actividades são vários, digamos que praticamente todas principais áreas de negócio existentes no país são representadas.
– A AJEC vai organizar este ano a Semana Global do Empreendedorismo. Já tem data?
– Sim, a Semana Global do Empreendedorismo é um movimento Global que já está presente em mais de 160 países, onde todos os actores do ecossistema empreendedor se conectam em eventos, conversas e debates, visando promover o fortalecimento da cultura empreendedora. De 12 a 18 de Novembro, vão acontecer actividades em diversas ilhas sobre a temática de empreendedorismo.
Pretende-se ainda que a semana Global do Empreendedorismo seja a celebração de um ano repleto de atividades incluindo o lançamento da plataforma GEN – Rede Global do Empreendedorismo – visando promover ou partilhar programas e iniciativas que ajudem a construir e fortalecer o ecossistema empresarial de Cabo Verde, integrado nesse movimento Mundial.
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