A empresa que criou o robô que fez o transplante hepático no Hospital Curry Cabral – o primeiro com robótica da Europa – reconhece que ainda há muito desconhecimento em Portugal sobre este tipo de cirurgias, mas tem expectativas “elevadas” sobre as intervenções com o sistema tecnológico que fez história no SNS, o “Da Vinci”.
“Prevê-se um rápido aumento de implementação de sistemas nos principais centros hospitalares do país, bem como o início da incorporação de segundos sistemas em alguns deles”, disse ao Jornal Económico (JE) o diretor geral da Abex Excelencia Robótica, à margem de uma visita à sede da empresa, em Madrid.
“Os programas que se estão a iniciar no sector público são multi-especialidades, o que significa que os pacientes poderão beneficiar de todas as indicações cirúrgicas que podem ser realizadas com o sistema robótico da Vinci”, contou Pablo Díez.
O Hospital Curry Cabral revelou na quinta-feira que, a 5 de fevereiro de 2024, fez uma histórica intervenção cirúrgica que teve as mãos humanas do cirurgião Hugo Pinto Marques e as “mãos” robóticas de um sistema tecnológico de quarta geração chamado “Da Vinci XI”. A intervenção a um doente de 51 anos com cirrose durou nove horas e foi bem-sucedida, estando o cidadão português já a recuperar em casa.
Apesar de ter sido a ULS São José – onde pertence o Curry Cabral – a destacar-se desta vez, o mesmo robô está no São João, CUF Tejo, Hospital da Luz ou CUF Arrábida. Há ainda um sexto hospital em Portugal que se prepara para instalar este equipamento, o de Coimbra.
A Abex encontra-se em processo de formalização do contrato de adjudicação com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde espera ter o Da Vinci instalado ainda no final deste primeiro trimestre, de forma a começar de seguida a formação dos profissionais e a operacionalização do sistema.
Na opinião da Abex Excelencia Robótica, este é um investimento na “qualidade e eficiência”, porque a maior precisão pode significar melhores resultados pós-operatórios, menores riscos de ser preciso uma reintervenção e menos tempo de hospitalização, o que se traduz em poupanças para os hospitais.
“Para o cirurgião, o sistema da Vinci oferece uma interface ergonómica e altamente intuitiva, que reduz significativamente a fadiga durante procedimentos longos. A tecnologia de visualização 3D de alta-definição e um campo de visão alargado aumentam a precisão e o detalhe durante a cirurgia. Além disso, os braços robóticos permitem maior amplitude de movimentos do que a mão humana”, refere Pablo Díez ao JE.
Como é o Da Vinci?
Desde que chegou a Espanha, em 2005, e a Portugal, em 2010, o Da Vinci intervencionou mais de 100 mil pacientes. Só no ano passado, realizou cerca de 25 mil cirurgias, mais 32% do que em 2022. Questionado sobre como é que os pacientes sabem se podem optar por uma intervenção cirúrgica robótica, Pablo Díez explica que, normalmente, é uma decisão do médico, mas sugere que perguntem por essa hipótese.
Entre as principais concorrentes da Abex estão a Medtronic e a CMR. “O facto de outras empresas estarem a desenvolver esta técnica também significa que os doentes terão mais probabilidades de ver os seus problemas de saúde tratados. E quanto mais empresas investigarem e desenvolverem cirurgia robótica, mais oportunidades daremos aos doentes”, comenta Pablo Díez.
Em Portugal, a distribuição do Da Vinci está a cargo da Excelência Robótica, uma empresa portuguesa participada da espanhola Abex Excelência Robótica, e ambas pertencem ao grupo italiano AB médica, fundado em 1984.
*A jornalista viajou a Madrid a convite da Abex Excelência Robótica
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