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Empresas alemãs ainda pagam 1,7 mil milhões em impostos na Rússia

Empresas que se mantiveram no mercado russo e não estão sob alçada de qualquer ilegalidade continuam a financiar a guerra de forma indireta, dizem os críticos, que exigem o fim do processo.
3 Novembro 2025, 07h00

Empresas alemãs pagaram quase 1,72 mil milhões de euros em impostos na Rússia desde a invasão da Ucrânia, uma vez que mais da metade dos interesses empresariais alemãs que operavam no país antes da guerra ainda ali permanecem, de acordo com um relatório dado a conhecer pela agência Euronews. Legalmente, as cerca de 250 empresas alemãs ainda ativas na Rússia não estão a cometer qualquer irregularidade à luz do quadro jurídico imposto pelas normas da União Europeia.

No entanto, os críticos acreditam que há aqui uma contribuição indireta para o orçamento de guerra do Kremlin, questão que precisa de ser abordada. “As empresas financiam a economia de guerra da Rússia por meio dos impostos que pagam”, disse Nezir Sinani, diretor da B4Ukraine, uma coligação global de organizações da sociedade civil. Ao permanecerem no país, argumenta, estão a contribuir diretamente para a economia russa, o que significa que também estão implicados na guerra.

Segundo um relatório da Escola de Economia de Kiev (KSE), da B4Ukraine e da Iniciativa Pressionar Putin, essas empresas internacionais que ainda operam na Rússia pagaram pelo menos 17,2 mil milhões de euros em impostos ao Estado russo somente em 2024 – e as empresas alemãs estão entre elas. Desde a invasão, em fevereiro de 2022, afirma o relatório, estas empresas deixaram na Rússia um montante que já ultrapassa os 51,8 mil milhões de euros. Para comparação, a Euronews recorda que o orçamento russo para a defesa em 2025 ascendia a 125 mil milhões.

Empresas dos EUA envolvidas

O relatório indica que as empresas alemãs são as segundas maiores contribuintes para os cofres do Kremlin, depois das empresas norte-americanas. Em 2024, empresas sediadas nos Estados Unidos e a operar na Rússia pagaram mil milhões de euros em impostos, quase o dobro do que as suas congéneres alemãs ali deixaram: 513,5 milhões.

A Euronews contatou diversas empresas alemãs que mantiveram negócios na Rússia. “Temos uma responsabilidade para com nossos cerca de 1.800 funcionários e suas famílias, bem como com os nossos parceiros de longa data do Grupo Hochland na Rússia”, disse a fabricante de queijos em resposta. O Grupo Hochland possui três fábricas na Rússia: uma na região de Moscou, uma na vila de Prokhovka, na região de Belgorod – a cerca de duas horas da fronteira com a Ucrânia e uma zona de guerra – e uma em Belinski, uma pequena cidade na região de Penza.

A empresa familiar afirma que “condena veementemente a guerra injustificável do governo russo contra o povo da Ucrânia” – mas não tem planos de vender as suas operações na Rússia, “apesar de uma “queda significativa dos lucros em 2024”. A Hochland opera outras unidades na Europa: quatro na Alemanha, três na Polónia, duas na Roménia e uma na Bulgária, Bélgica e Espanha.

A Knauf, uma empresa germânica especializada na fabricação de materiais de construção, participou na reconstrução de Mariupol, na Rússia. Um distribuidor da Knauf teria construído um conjunto habitacional utilizando materiais da empresa. “Rejeitamos categoricamente todas as alegações de que estamos a apoiar direta ou indiretamente esta guerra ou o armamento das forças armadas russas”, disse a Knauf à Euronews.

“A Knauf não possui relações contratuais com o Ministério da Defesa da Rússia nem com quaisquer autoridades a ele subordinadas “, afirmou a empresa, insistindo que as suas subsidiárias russas não fornecem produtos a entidades estatais. No ano passado, a Knauf anunciou a intenção de se retirar do mercado russo, mas as negociações com um potencial comprador fracassaram.

“O parceiro de negociação interrompeu as conversas”, disse a Knauf à Euronews, estando agora a explorar outras opções. A empresa opera uma fábrica em Kiev com 420 funcionários e está a construir duas novas instalações no oeste do país – e apoia a Ucrânia por via de doações de produtos e projetos de reforma para escolas, clínicas e outras instalações.


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