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Empresas de componentes automóveis equacionam ‘lay-off’ face a abrandamento no primeiro semestre

Crescer este ano afigura-se um objetivo inalcançável, face a um primeiro semestre em que as exportações recuaram 3,8% e os principais clientes nacionais mostram dificuldades, reconhece o presidente da AFIA, que ressalva não querer lançar alarmismos, embora não esconda a preocupação.
13 Agosto 2024, 07h30

Um dos sectores com maior crescimento das exportações nos últimos anos, a indústria automóvel e de componentes, é agora das que mais sofreu no primeiro semestre com o abrandamento da economia global, comprometendo as ambições do novo ano de crescimento da produção e vendas ao exterior. Há mesmo empresas a ponderar o recurso ao lay-off, revela o presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), que, sem querer levantar alarmismos, não projeta uma segunda metade do ano favorável.

“As informações que temos é que provavelmente haverá a necessidade de reduzir algumas equipas, fazer alguma alteração de turnos, de planeamento de produção, e, nalguns casos mais graves, poderá ter de haver uma contração mais significativa dos recursos humanos, com recurso a alguns instrumentos. Algumas empresas já manifestaram interesse em recorrer ao lay-off, mas não temos números, são só conversas”, avançou José Couto.

As exportações portuguesas em junho caíram 3,8% em termos homólogos, dando continuidade à queda de 0,8% do mês anterior e contribuindo para o recuo de 0,9% no primeiro semestre, com o sector automóvel a destacar-se como um dos principais perdedores. Os dados do INE falam num abrandamento de 18,5% na categoria de ‘material de transporte e acessórios’, com as ‘partes, peças e acessórios’ a recuarem 9,2% – o decréscimo menos expressivo, comparando com a descida de 21,6% no ‘outro material de transporte’ e com a de 32,5% nos ‘automóveis para transporte de passageiros’.

Os dados da AFIA suportam esta noção, falando num recuo homólogo de 11%, em junho, e de 3,8%, considerando a primeira metade do ano, isto apesar de, salienta o presidente da associação, José Couto, os principais clientes nacionais estarem a cair, de forma agregada, 7,5%. Ainda assim, tal não será suficiente para garantir novo ano de crescimento do sector.

“Quanto à nossa expectativa de crescimento – débil ou muito menor [do que o ano passado] –, esta semana fizemos uma revisão, segundo o nosso modelo, e constatamos que provavelmente não vamos crescer este ano”, resumiu o representante do sector.

Confessando que “não temos ainda os dados todos do comportamento da Europa”, as expectativas não são as mais animadoras. Face à quebra no resto da Europa, “só com um milagre no segundo semestre é que conseguiremos crescer”, pelo que há já empresas a equacionar formas de “contrair os recursos humanos”.

O presidente da AFIA reforça que não quer entrar em “alarmismos, mas há preocupação” no sector. E, olhando para o anúncio do Governo do pacote de relançamento da economia, não deixa de haver alguma estranheza com a ausência de medidas para um sector tão relevante no panorama exportador nacional, admite.

“Vale a pena ter em conta como é que havemos de incrementar a produtividade nestas empresas, mas também perceber que este sector tem uma produtividade claramente acima da indústria transformadora. Só podemos exportar se formos competitivos e essa capacidade está muito nas nossas empresas”, defende, lembrando que a indústria representa 62 mil postos de trabalho, 5,5% do PIB e 15 mil milhões de euros de faturação.

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