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Encontrar emprego depois dos 50 é desafiante. “País não pode perder este talento”

Encontrar emprego depois dos 50 anos pode revelar-se uma tarefa difícil, tanto que mais de metade dos desempregados dessa faixa etária estão nessa situação há mais de um ano. Mas não é impossível e quem está nessas circunstâncias “não está sozinho”, sublinha a associação dNovo, que quer ajudar os profissionais mais velhos que sejam qualificados e tenham experiência a encontrar novos postos de trabalho, evitando o desperdício de talento.
11 Junho 2023, 08h00

Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 3 de junho, com a edição impressa do Semanário NOVO.

Vítor Almeida nunca estivera desempregado. Nem sequer tinha admitido esse cenário. Mas a pandemia trocou-lhe as voltas e, em 2020, viu-se pela primeira vez sem um posto de trabalho. “Fui um dos muitos apanhados pela covid-19, em termos de negócios”, conta o profissional que, quando se deu a crise sanitária, trabalhava numa empresa dedicada à organização de eventos internacionais. “O sector parou”, recorda. E revela que, logo nos primeiros meses, a empresa para a qual trabalhava perdeu 4 milhões de euros em negócios.

Sem emprego, Vítor Almeida não desanimou: foi fazendo contactos, pensando em projetos, trabalhando nas suas competências, mas tardava a encontrar uma nova posição profissional – “começava a ser desesperante”, frisa – e a pandemia não era a única culpada dessa demora, sente. Com mais de 50 anos, este profissional sentia que a sua idade estava a ser um entrave: ora as empresas olhavam para si como alguém que já não tinha a energia ou a paciência necessárias, ora pensavam que seria “muito caro”, tendo em conta a sua experiência, ora temiam que não tivesse as competências tecnológicas exigidas, devido à faixa etária em que se encaixa, sublinha. E assim foi ficando no desemprego, situação em que estão milhares de portugueses com idades mais avançadas, ainda que relativamente longe da reforma.

Daí que tenha agora surgido a dNovo, associação sem fins lucrativos que pretende apoiar esses desempregados (com mais de 50 anos, experiência profissional reconhecida e formação académica relevante) na transição para um novo posto de trabalho. No seu primeiro ano, a dNovo chegou a 176 profissionais, dos quais 44 encontraram um novo emprego. Vítor Almeida foi um deles: depois da mentoria e dos eventos de networking promovidos pela associação, encontrou uma nova oportunidade e está agora de volta ao activo. “É muito importante percebermos que não estamos sozinhos”, avisa o profissional, que realça esse “reforço emocional” como o mais relevante da sua passagem pela referida associação.

57% dos desempregados com mais de 55 anos sem emprego há mais de um ano
Mas vamos, antes do mais, aos números. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a faixa etária dos 55 aos 74 anos até é a que menos pesa na população desempregada total (ver gráfico), mas é, porém, de longe aquela em que mais desempregados estão nessa situação há pelo menos um ano. Nos primeiros três meses do ano havia 380,3 mil pessoas desempregadas em Portugal, das quais 66,8 mil (isto é, 17,6%) tinham entre 55 e 74 anos. Em comparação, a faixa etária dos 25 aos 34 anos pesava mais de 25% na população desempregada. Por outro lado, dentro dos desempregados com mais de 55 anos, mais de metade (56,7%) estavam nessa situação há pelo menos 12 meses. Já na faixa dos 25 aos 34 anos, menos de três em cada dez estavam em desemprego de longa duração.

Foi perante estes números que Isabel Viegas, Joaquim Paiva Chaves e João Castello Branco decidiram criar a dNovo, associação que quer contribuir para a promoção da atividade profissional qualificada sénior em Portugal. “Quando um profissional chega a nós, pedimos para se inscrever no nosso site. Passa depois por um processo de onboarding, no qual vemos se se encaixa naquilo que podemos oferecer. É então dada uma palavra-passe para a nossa plataforma e, aí, pode ter mentoria individual ou de grupo”, explica ao NOVO Isabel Viegas, vice-presidente da associação.

Além da mentoria, os profissionais podem ter acesso, através da dNovo, a formação executiva com um custo reduzido ou até mesmo sem custo (a associação tem parcerias, por exemplo, com a Universidade Nova de Lisboa e com a Universidade Católica), bem como a ajuda para montar o seu negócio, já que estão estabelecidas parcerias, por exemplo, com a Fábrica de Startups e com a DNA Cascais. A isto somam-se eventos de networking regulares, “aos quais se juntam convidados e os mentores”, revela a responsável, que precisa que a dNovo já conta com 80 mentores (de variadas áreas) e esclarece que o acesso a estes serviços é gratuito para os profissionais.

Por outro lado, a associação tem estabelecido laços com várias empresas, permitindo que também estas tenham acesso à tal plataforma. Através dela podem contactar diretamente os profissionais ou divulgar oportunidades de emprego, adianta Isabel Viegas. Entre as empresas parceiras estão a Altice, a Semapa e o Santander.

O objetivo da dNovo é chegar a 3.250 profissionais até 2025 e atingir uma taxa de sucesso de 55%, isto é, ter 1.629 dessas pessoas de volta ao emprego. “O desemprego é muito elevado e o regresso ao trabalho é muito difícil. Com o modelo que temos conseguimos chegar a uma taxa de 55%, que é muito alta”, salienta a vice-presidente. Para já, no primeiro ano, cerca de 180 profissionais já passaram pela dNovo e 44 encontraram um posto de trabalho. “É quase um crime perder este talento e o país não pode dar-se a esse luxo”, atira Isabel Viegas, que se queixa do estigma que ainda existe em torno destes profissionais.

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