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Encontro entre Biden e Putin: uma cimeira em que ninguém acredita

A cimeira desta quarta-feira na Suíça serve dois propósitos: tentar uma reaproximação de pontos de vista que todos sem exceção consideram improvável; e evidenciar que Rússia e Estados Unidos estão condenados a terem de se encontrar.
  • Reuters
16 Junho 2021, 08h10

Tudo indica que a cimeira entre os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos, respetivamente Vladimir Putin e Joe Biden – que em princípio terá lugar em Genebra, Suíça, esta quarta-feira, não correrá bem e as declarações emanadas tanto de Moscovo como de Washington são mais que suficientes para imporem essa evidência.

Desde que, há um mês atrás o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, se encontraram que tudo levava a crer que a cimeira é pura preda de tempo.

Ou talvez não. Como diz o analista Francisco Seixas da Costa, “a Rússia e os Estados Unidos estão condenados a aturarem-se” e o cruzamento dos seus interesses a isso obriga. Desde logo porque não pode haver qualquer negociação planetária sobre armamento que não implique a presença de ambos. Mais: a agenda internacional de combate ao terrorismo – nomeadamente ao terrorismo patrocinado pelo fundamentalismo islâmico – é, ao contrário do que muitos pensam, uma matéria que aproxima muito mais que separa os dois países. E também a Rússia dos países europeus.

Convém não esquecer que a Rússia – onde cerca de 10% da população é muçulmana e várias regiões são maioritariamente devotas do Islão – passou pelo trauma do que é conhecido como o Massacre de Beslan – quando, em setembro de 2004, um grupo de militantes islâmicos armados, principalmente inguches e chechenos, ocupou uma escola na cidade de Beslan, Ossétia do Norte, a mando de de Shamil Basayev, para exigiu o reconhecimento da independência da Chechénia e a retirada de tropas russas da região. Foram feitos 1.100 reféns, dos quais 334 (entre eles 156 crianças) viriam a morrer.

Evidentemente que o que os separa é muito mais. Mas, dizem analistas norte-americanos, em alguma altura deste périplo pela Europa Joe Biden terá que se refrear, depois do que disse sobre a China. Não parece ser do interesse dos Estados Unidos ter do mesmo lado da equação (dos desentendimentos mundiais) a China e a Rússia ao mesmo tempo. Pode sempre acontecer que os dois países tratem de esquecer a péssima relação que chegaram a ter em vida de Estaline e de Mao Tsé-Tung e isso seria muito mau para os interesses dos Estados Unidos.

Mas há também quem ache que Biden decidiu dar um murro em todas as mesas por onde se vai ‘passear’ neste périplo europeu. É um pouco o regresso da ‘estratégia Trump’: extremar posições, para depois ter margem para contemporizar.

Seja como for, a Síria, a África, o leste da Europa (com a Ucrânia e a Bielorrússia à frente), os Balcãs (a casa de vários povos eslavos), o Médio Oriente, a Geórgia, o Afeganistão e a Turquia são tudo dossiês que fazem divergir as duas potências – e só os mais distraídos (com certeza Barack Obama já pensou duas vezes e já não faz parte deste grupo) continuam a achar que a Rússia já não é mais que uma 0ptência regional.

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