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ERC recusa governo das esquerdas na Catalunha mais independentista de sempre

Socialistas foram os mais votados, mas com o mesmo número de deputados da Esquerda Republicana da Catalunha, que lidera um bloco independentista com maioria absoluta no parlamento e mais de 50% dos votos. Pere Aragonès, que deverá presidir à Generalitat, diz que socialistas e republicanos “são como azeite e água”.
Pere Aragonès com Oriol Junqueras
15 Fevereiro 2021, 18h25

A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que se prepara para liderar pela primeira vez a Generalitat desde que o governo autónomo catalão foi restabelecido, após o final da ditadura franquista, recusou o apelo a fazer parte de um governo maioritário de esquerda com o Partido Socialista da Catalunha (PSC) e com o Em Comum Podemos, os quais somariam 74 dos 135 deputados do parlamento regional.

Prevalecerá assim uma nova maioria das forças políticas que defendem a independência em relação a Espanha, desta vez com a ERC à frente do partido de centro-direita Juntos pela Catalunha e da extrema-esquerda da Candidatura de Unidade Popular (CUP), igualmente capazes de reunir 74 deputados.

Apesar de o PSC ter sido o partido mais votado, e de o líder regional Salvador Illa, ex-ministro da Saúde do governo espanhol de Pedro Sánchez, garantir que se apresentará a votos para tentar a investidura enquanto presidente da Generalitat, os 33 deputados socialistas (quase o dobro dos atuais 17) constituem uma vitória de Pirro perante o reforço do bloco independentista, com os 33 deputados da ERC a juntarem-se aos 32 do Juntos pela Catalunha – formação criada pelo ex-presidente da Generalitat Carles Puigdemont, que teve de sair do território espanhol para não ser preso após declarar a independência da Catalunha e é agora eurodeputado – e aos nove da CUP.

Além disso, somando ainda os votos do Partido Democrático Europeu da Catalunha, que recusou ser “engolido” pelo Juntos e apresentou listas próprias sem eleger nenhum deputado – e contribuindo para a perda de dois (e da presidência da Generalitat) pela força hegemónica da direita independentista, liderada por Laura Borràs -, houve pela primeira vez uma maioria de eleitores (entre os 53,5% que foram às urnas no domingo, desafiando a pandemia de Covid-19) a dar o voto a forças políticas assumidamente favoráveis ao processo de independência: no total, foram 50,7% dos votos válidos.

Também por isso, o apelo de Jéssica Albiach, candidata à presidência do governo catalão pelo Em Comum Podemos, não surtiu qualquer efeito. “O governo das esquerdas, mais do que possível, é impossível de travar. Temos o parlamento mais à esquerda na História da Catalunha”, escreveu a dirigente no Twitter, sem que Pere Aragonès, provável novo detentor do cargo que desempenhava de forma interina, após a perda de mandato por Quim Torra, condenado por um crime de desobediência, ficasse impressionado com esse argumento.

Depois de ter dito em entrevistas anteriores à ida às urnas que os republicanos e os socialistas são “como água e azeite”, Aragonès afastou qualquer cenário que não reflita a maioria que pretende a separação de Espanha, abrindo ainda assim a porta para a possibilidade de trazer o Em Comum Podemos para a área da governação, o que contribuiria também para diluir o peso dos parceiros dos Juntos pela Catalunha.

Do lado da direita “espanholista”, a chegada da extrema-direita do Vox ao parlamento catalão, com 11 deputados, foi ainda mais estrondosa pelo colapso do Cidadãos e pela manutenção do rumo à irrelevância do braço do PP na Catalunha. Após ter sido o partido mais votado em 2017, com 36 deputados – igualmente incapazes de travar a coligação entre os partidos independentistas -, os Cidadãos ficaram com apenas seis mandatos, enquanto os populares conseguiram perder um dos quatro que atualmente detinham.

 

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