Vista mar e tudo para um conforto de excelência. Assim se poderia descrever o sonho de Alain Clenet quando deu vida a uma das suas invenções e criou a primeira cama ergonómica ajustável e deu asas à Ergomotion.
Quando entrámos no escritório da empresa – há 20 anos nascia como startup -, em Marvila, somos convidados a uma experiência de utilizador. Colocamos os auriculares, uma venda e deitamo-nos numa cama moderna e num colchão confortável; somos então guiados por alguns dos modos que a cama ergonómica permite e terminamos na posição de zero gravidade, Zero-G (sim, aquela com que os astronautas são enviados para o espaço).
Ao Jornal Económico, Nuno Figueiredo, managing director da Ergomotion EMEA, lembra o arranque da empresa como se fosse sua. “O negócio cresceu muito rápido, especialmente pela região onde estava, que era na mesma das tecnológicas Big Five. Rapidamente se começou a desenvolver, primeiramente na Califórnia, e depois alastrou a todo o mercado norte-americano”, explica sobre o boom do bem-estar nos Estados Unidos.
O interesse no produto da Ergomotion foi tanto que a empresa teve a necessidade de olhar para outros mercados que não os Estados Unidos. “Olhámos para a Europa, onde começámos com uma base de vendedores. No início da exportação, as bases eram produzidas com componentes norte-americanos e depois começámos a massificar e encontrámos um fabricante que conseguia fazer 80% do produto na China”, adianta Nuno Figueiredo.
“Entretanto vem a crise de 2008 e 2011 e dá-se uma transformação muito grande”. O negócio continuava a crescer, mas a empresa não estava de boa saúde e foi então que se deu uma compra por parte do fabricante chinês de uma percentagem da empresa, o que permitiu então injeção de capital, contratação e inovação em termos de produto. Foi com esta viragem, explica o managing director ao JE, que permitiu a valorização do produto da Ergomotion e a expansão para novos mercados.
“Chegámos a ter anos em que crescemos a 80% em vendas anuais”, diz-nos Nuno Figueiredo.
Mas vamos por partes: que produto? Tal como referimos, a Ergomotion produz camas ergonómicas ajustáveis – não, não são as camas articuladas com aspeto de hospital. O produto da Ergomotion é feito com o bem-estar em primeiro lugar, para dar espaço para a pessoa relaxar quando chega a casa, aliando-o à tecnologia. Isto porque, as camas da Ergomotion estão equipadas com dezenas de sensores que detetam a qualidade de sono do utilizador.
Vamos então colocar uma situação em termos reais: uma pessoa que ressona quando dorme. A tecnologia da Ergomotion – podemos assemelhá-la a um smartwatch a larga escala, uma vez que também faz o tracking do sono – consegue prever quando o utilizador vai ressonar e coloca a cama numa posição que o impede, isto sem nunca perturbar o sono. Ou seja, a cama mexe-se de forma a que o descanso do seu utilizador não seja perturbado.
Além de vários modos de funcionalidades, um projeto que a empresa tem em desenvolvimento é o da apneia do sono. Embora com várias regulamentações a cumprir na Europa, este projeto visa que a tecnologia detete, em antecipação, quando o utilizador vai deixar de respirar, de forma a prever quando o vai colocar na melhor posição. O próximo managing diretor admite que é um tema “bem mais complexo”, visto que envolve certificação, testes e validação por parte das entidades responsáveis.
“É um processo muito complexo e muito longo que implica muito estudo científico. Acho que vamos lá chegar, não consigo antecipar em quanto tempo, mas é um produto muito desejado”, sublinha.
Questionado sobre diferenças em relação aos europeus, Nuno Figueiredo revela que ainda “tem sido um processo”, embora se sinta um crescimento no mercado. Uma das vantagens é que já começam a aparecer mais sistemas ajustáveis, o que ajuda ao crescimento da Ergomotion.
“Em 2018, dado o volume de negócios na Europa, pensa-se em ter uma estrutura própria europeia a reportar aos Estados Unidos. Abriu-se então uma pequena delegação na Lituânia, e depois começa-se a ter a perceção da diferenciação que existe entre mercados europeus face ao americano”, recorda Nuno Figueiredo.
Foi então que os norte-americanos sentiram “uma diferença significativa na tipologia de cliente e, consequentemente, uma necessidade da empresa se adaptar a essa diferenciação”. Até então, “a Europa passou a representar uma quota maior, e aqui o Médio Oriente já tem representação”.
Portugal foi então escolhido para abrir um escritório da californiana-chinesa Ergomotion já após a pandemia e início da guerra na Ucrânia. “Gosto de acreditar que acultura e identidade do país, associada à marca californiana ajudou a definir Lisboa como escolha”, ri-se.
Nuno Figueiredo e toda a equipa da Ergomotion gostam de dar a experimentar aos clientes antes de começarem com as trocas de orçamento. A pandemia foi a prova que as pessoas conseguiam valorizar as suas casas, especificamente os seus quartos. “Queremos mostrar que não nos consideramos um produto de luxo. Temos noção que se trata de um investimento para muitas pessoas, mas é diferente de comprarmos um carro ou uma cama, onde passamos horas distintas do nosso dia”, recorda o responsável pela equipa da EMEA.
A Ergomotion destacou-se quando equipou os quartos dos atletas portugueses para os Jogos Olímpicos de Paris, a pedido do Comité Olímpico português. “Foi algo que nos ajudou a romper com algumas barreiras do estigma que existe em relação às camas ajustáveis”, associadas então às camas de hospitais que, engane-se, a Ergomotion também produz para o mercado privado internacional.
Todo o processo de produção da Ergomotion é interno, com exceção das madeiras e tecidos utilizados. “Todos os componentes que estão numa cama são feitos por nós. Não temos um fornecedor externo, o que nos permite controlar toda a cadeia de valor e qualidade do produto”.
A nível tecnológico, Nuno Figueiredo admite constantes melhorias e inovações. A título de exemplo, o responsável pelo escritório europeu explica que a Samsung e a Garmin foram ter com a empresa para mostrar como a própria cama é digital e avançada tecnologicamente.
Atualmente, a empresa está perto de terminar uma nova fábrica na China, que lhe vai permitir duplicar a capacidade de produção. “De há uns anos para cá que produzimos dois milhões de camas por ano. Com a nova fábrica prevemos aumentar a capacidade para quatro milhões”.
A crença de Nuno Figueiredo prende-se também pelo facto de que “quem experimenta e compra uma cama smart, nunca anda para trás. Quer sempre mais e melhor. Até pode começar por uma cama da gama de entrada, mas depois quer mais funcionalidades e não volta às camas ditas normais”.
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