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Escolher entre política A ou B? Projeções macroeconómicas ajudam

A incerteza em torno das projeções macroeconómicas agudizou-se perante a pandemia e está a levar os modelos a adaptarem-se. Ainda assim, continuam a ser determinantes para os cenários contrafactuais que devem ser considerados pelos dos decisores políticos, defendem os economistas consultados pelo Jornal Económico.
20 Maio 2020, 08h17

As projeções macroeconómicas não são apenas tabelas com valores em torno dos quais rodeia alguma incerteza, são também uma ferramenta fundamental na adopção de políticas públicas. É esta a opinião dos economistas consultados pelo Jornal Económico, que realçam a importância destes cenários para os cálculos de risco entre a escolha da política x ou y.

“As decisões políticas são tomadas com certos objectivos e têm certas consequências económicas, algumas vistas como benéficas, outras possivelmente vistas como prejudiciais. As previsões macroecónomicas ajudam a ter uma ideia dos efeitos dessas decisões políticas e, consequentemente, da valia dessas decisões face aos objectivos que se pretende alcançar”, refere Pedro Bação, professor auxiliar na Universidade de Coimbra.

O economista explica que a integração da incerteza nas previsões irá ainda ajudar a compreender os riscos “em que se está a incorrer e poderá mesmo influenciar as escolhas políticas”, exemplificando nesse caso “se um dos objectivos destas for, por exemplo, evitar a ocorrência de um certo cenário considerado como indesejável de todo, ou reduzir a probabilidade de a realidade se afastar de um certo cenário, isto é, reduzir o risco”.

A pandemia do novo coronavírus está a afetar a forma como se constroem as projeções económicas, mas Miguel Faria e Castro, economista na Reserva Federal (Fed) de St. Louis, sustenta que estas extrapolações são ainda mais úteis como base para definir políticas ao utilizar cenários contrafactuais.

“Teria uma determinada variável evoluído de forma diferente na ausência de uma determinada politica? Essa evolução diferente teria sido melhor ou pior para a sociedade? É muito difícil responder a este tipo de questões sem estudos de impacto, que requerem a formulação de projeções. E sem responder a este tipo de questões, é impossível avaliar a qualidade das políticas publicas e a sua implementação”, diz.

De forma mais tangível, para o atual contexto dá o exemplo das políticas de apoio à liquidez das empresas. “No curto prazo, e dada a duração incerta do choque da pandemia, faz sentido levar a cabo políticas com pouca condicionalidade, que ajudem o máximo possível de empresas, independentemente do sector, de forma a preservar postos de trabalho”, aponta, mas realça “se o choque se prolongar, e se de facto passarmos a viver numa “nova normalidade”, há que aceitar que determinados sectores não poderão operar a mesma escala que antes operavam, e que várias empresas e postos de trabalho nesses sectores não serão sustentáveis”.

Nesse caso, diz que não fará “tanto sentido” que o Estado continue a apoiar esses sectores, justificando que “sem projeções macroeconómicas, contudo, e sem perceber quais os efeitos de diferentes políticas a curto, médio, e longo prazo, não é possível levar a cabo este tipo de apreciações de políticas”.

Francisca Guedes de Oliveira, dean para os programas de mestrado da Católica Porto Business School, alerta que apesar de as projeções económicas serem “fundamentais”, apenas “só o são se se assumir à partida o grau de variabilidade que as mesmas têm sempre, e mais ainda num contexto como o atual”.

Para a economista, ainda assim fica claro que não se pode tomar decisões de política pública no vazio, defendendo que se deve “avaliar que impacto terá a política A, no senário x, y ou z e em alternativa o impacto da política B nos mesmos cenários”, assim como “de que forma cada uma destas políticas muda o curso de cada cenário”, ou seja, “qual os vários cenários possíveis sem política e com política”.

“Depois a decisão tem que ser tomada. Conhecendo os riscos, sabendo que além dos cenários traçados o imprevisível pode ainda acontecer, mas a decisão tem de ser tomada! Depois de tomada deve ser monitorizada e avaliada de acordo com o cenário que se tornou efetivamente realidade. E incorporar esta informação na curva de experiência para futuras tomadas de decisão”, sustenta.

https://leitor.jornaleconomico.pt/noticia/virus-faz-mutacoes-nas-projecoes-economicas

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