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Espiões russos usaram os Alpes franceses como base para ataques em vários países

Os agentes suspeitos do homicídio de Sergei Skripal no Reino Unido em 2018 passaram por esta região. No total, passaram pelos Alpes 15 operacionais da unidade 29155 da agência de espionagem russa GRU.
  • Jamie Street on Unsplash
6 Dezembro 2019, 13h27

Espiões russos usaram os Alpes franceses como base para realizar operações secretas em toda a Europa ao longo de vários anos, revelou o jornal francês Le Monde.

Pertencentes à unidade 29155 da agência de espionagem russa GRU, os 15 operacionais identificados estiveram na região da Alta Savóia, perto da fronteira com Itália e a Suíça, entre 2015 e o final de 2018.

A informação divulgada pelo jornal francês Le Monde, citada pelo britânico Telegraph, foi recolhida pelos serviços de inteligência de França, Estados Unidos da América, Reino Unido e Suíça.

Estes operacionais estiveram nas cidades de Evian, Annemasse e Chamonix provenientes de Moscovo, Londres, Espanha e a cidade suíça de Genebra. Curiosamente, Chamonix serviu de base para uma cena do filme de James Bond (O mundo não chega, de 1999).

Os serviços de inteligência não encontraram vestígios de armas ou outro tipo de material usados por estes operacionais nesta região, mas a sua presença foi confirmada por provas dos locais onde pernoitaram, comeram e realizaram compras.

“A hipótese mais provável é que esta região era usada como uma base secundária para todas as operações clandestinas realizadas pela unidade 29155 na Europa”, segundo um membro da inteligência francesa, citado pelo Le Monde.

Uma das hipóteses é que estes operacionais esperavam afastar suspeitas sobre si, antes de realizarem as missões, o que pode explicar porque é que não realizaram qualquer operação em território francês.

Os serviços de inteligência destes países uniram esforços para detetar os movimentos de espiões russos na Europa ocidental depois do envenenamento do cidadão russo Sergei Skripal no Reino Unido em 2018. Londres e os seus aliados acusaram o Governo de Vladimir Putin de estar por trás do assassinato, uma acusação negada pelo Kremlin. Entre os operacionais que estiveram nos Alpes encontram-se Alexander Petrov e Ruslan Boshirov, os nomes de código de dois operacionais da GRU acusados do ataque a Sergei Skripal.

Esta unidade também esteve ativa em países como a Bulgária, Moldávia, Montenegro e Ucrânia.

Esta semana, o Governo de Angela Merkel convocou o embaixador russo e ordenou dois membros da embaixada a abandonarem o país no prazo de sete dias. Segundo a imprensa alemã, estes dois diplomatas poderão ser membros dos serviços de inteligência do Kremlin.

Os diplomatas foram convocados a abandonar o país após Moscovo ter recusado cooperar com Berlim nas investigações ao assassinato de um cidadão da Geórgia, Zelimkhan Khangoshvili, em Berlim em agosto.

O alegado homicida, Vadim Sokolov, foi capturado pela polícia alemã, mas a sua identidade é falsa, apuraram as autoridades.

As autoridades consideram que “muito provavelmente”, o suspeito é Vadim Krasikov, uma cidadão russo procurado pelo homicídio de um empresário em Moscovo em 2013.

Os serviços de inteligência britânicos e franceses disseram ao Le Monde que o homício foi ordenado pelo regime checheno de Ramzan Kadyrov, pró-russo, com a “ajuda logística do Estado russo”.

Um deputado alemão do partido de Angela Merkel considera que este caso é um “regresso aos dias da guerra fria”. “A Alemanha deve atuar se um país estrangeiro pode ordenar homicidios em território alemão”, afirmou Armin Schuster ao jornal Bild.

Paris negou acusações de “laxismo” por a sua embaixada em Moscovo ter dado um visto de 90 dias a Vadim Krasikov, recorrendo a uma morada falsa. No final de julho, aterrou em Paris, antes de se dirigir para Berlim.

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