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Estado deve assumir financiamento de “parte da eficiência empresarial coletiva”

“As empresas têm de fazer o seu trabalho. Felizmente, algumas empresas, nomeadamente multinacionais, estão a fazê-lo, e de uma forma muito séria. Se isso continuar a acontecer, o resto vai por arrasto”, defendeu Hermano Rodrigues, diretor strategy and execution da EY-Parthenon, na Conferência “O Futuro É Circular”, organizada pelo Jornal Económico.
6 Maio 2025, 20h26

O papel das empresas na circularidade é inquestionável. Das multinacionais, “que dominam as cadeias de valor”,  espera-se mais, por norma. “Uma parte dos problemas de circularidade e de aprofundamento da circularidade dependem única e exclusivamente das empresas”, afirmou Hermano Rodrigues, diretor strategy and execution da EY-Parthenon, um dos oradores da Conferência “O Futuro É Circular”, organizada pelo Jornal Económico (JE).

“As empresas têm de fazer o seu trabalho. Felizmente, algumas empresas, nomeadamente multinacionais, estão a fazê-lo, e de uma forma muito séria. Se isso continuar a acontecer, o resto vai por arrasto”, acrescentou, lembrando que a “cadeia de abastecimento é altamente pressionada pelas empresas multinacionais que dominam as cadeias de valor”.

Convidado a traçar o estado da arte da economia circular, Hermano Rodrigues defendeu que essa mudança deve ser “estimulada”. “Tem de se concluir que apostar na circularidade vale a pena. Hoje em dia, as empresas olham não apenas numa ótica de curto prazo, mas de médio e de longo prazo. E, numa perspetiva de long term value, as contas vão ser seguramente positivas em muitos aspetos”, sublinhou.

Substituindo o antigo ministro do Ambiente Duarte Cordeiro no palco, responsável pela abertura da conferência desta terça-feira, Hermano Rodrigues levantou a questão da eficiência empresarial coletiva, cujo financiamento, na opinião do próprio, deve ser garantido pelo Estado. “Acho que não há, em Portugal, uma tradição muito forte de intervenção setorial, territorial, de eficiência empresarial coletiva. E é preciso impulsionar muito mais; é preciso que existam políticas muito consequentes nesse processo”, chamou a atenção.

“Uma grande parte da eficiência empresarial coletiva não pode ser paga pelas empresas nem por ninguém. É o Estado que a tem de financiar, porque estamos a falar de bens públicos. Se não financiarmos isso, há uma falha de mercado que vai impedir que as coisas funcionem”, alertou.

 

Estratégias para a circularidade: cadeia de valor e envolvimento da população

Para Hermano Rodrigues, que soma mais de 20 anos de trabalho de consultoria estratégia, “uma grande parte dos problemas de circularidade exigem estratégias de eficiência coletiva muito significativas numa lógica de cadeia de valor”.

“Não há nenhuma empresa, e nenhum setor, que consiga resolver por si de uma forma efetiva muitos dos problemas da economia circular”, alertou.

Além disso, continuou, a visão deve abranger uma abordagem “regional”. “Uma grande parte dos problemas de economia circular resolvem-se no território e com proximidade. As estratégias territoriais são muito importantes, os acordos circulares, o fomento do envolvimento de stakeholders na ótica de cadeia de valor, os mecanismo de responsabilidade alargada de produtor, que claramente tem de ser alargada a mais fluxos, que estão em curso, a educação e a consciencialização da população”, listou.

 

Circularidade: Que barreiras identificam as empresas?

Levando à apresentação conclusões recolhidas num projeto para a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), o diretor da EY-Parthenon, braço de consultoria estratégia da EY, alertou que a regulamentação apresenta-se como “a barreira mais forte para as empresas”. “Não é totalmente uma surpresa, porque temos um conjunto muito forte de regulamentação, orientada para a proteção do consumidor e da qualidade. Uma parte dessa regulamentação é conflituante com processos de economia circular. É preciso encontrar um novo equilíbrio a esse nível. Há coisas que não não possíveis de compatibilizar”.

A par do tema da legislação, as questões económicas e financeiras estão entre as principais barreiras para o seio empresarial, como as respostas do inquérito feito a um conjunto alargado de empresas tornaram claro. Aqui, o Estado poderá apresentar-se como um suporte, defendeu.

“Promover a circularidade custa muito dinheiro. Se o consumidor por si só não valorizar de forma significativa a circularidade, as empresas têm muita dificuldade em desenvolver estratégias, porque os produtos são tipicamente mais caros do que os produtos normais. O Estado aí pode ajudar, porque a fiscalidade pode dar uma grande ajuda neste processo, para reequilibrar”, explicou.

Encerrando a apresentação com uma defesa do Governo, da administração pública, da academia e do ensino como “entidades muito importantes” para a economia circular, Hermano Rodrigues defendeu a execução de “políticas públicas equilibradas”. “Há todo um trabalho de política pública fundamental para impulsionar a economia circular”, finalizou.

No início da apresentação, Hermano Rodrigues chamou a atenção para as “elevadas expectativas dos investidores e dos parceiros” em relação à economia circular, tema central da conferência do JE desta terça-feira, que decorreu no ISEG. “Precisamos de ser muitos mais consequentes no futuro para ir ao encontro dessas expetativas”.

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