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“Estado tem de decidir se quer ou não armazenamento hidroelétrico”, diz country manager da Iberdrola

David Rivera considera que Portugal tem capacidade para armazenar mais energia hidroelétrica, mas que cabe ao Governo decidir se dá esse passo ou se a curto prazo fica apenas com as baterias. CEO da Atlante em Portugal alerta para a demora nos processos burocráticos. “É essencial que sejam céleres e vão de encontro às necessidades do mercado”, refere Carlos Ferraz.
26 Novembro 2025, 18h06

Apesar de Portugal já ter uma produção hidroelétrica que em 2023 representou 27% do total da eletricidade produzida a nível nacional, o setor acredita que o país tem capacidade para aumentar ainda mais o seu potencial, mas que cabo ao Governo dar esse passo. “Portugal tem condições para armazenar mais energia hidroelétrica, mas estamos num momento em que o Estado português tem de decidir se quer ou neste armazenamento. Ou se ficamos no curto prazo só com as baterias”, afirmou David Rivera, Country Manager da Iberdrola em Portugal, no painel dedicado ao tema, ‘Distribuição, redes e armazenamento: a revolução invisível’, inserido na conferência Revolução Energética em Curso, realizada pelo Jornal Económico e que decorre esta quarta-feira em Lisboa.

O responsável deu o exemplo do projeto Tâmega da Iberdrola, que representa um investimento de cerca de 1.500 milhões de euros, que visa aumentar a produção de energia limpa no país e que engloba as barragens do Alto Tâmega, Daivões e Gouvães, para demonstrar que o país pode medir forças com os mercados internacionais.

“O Tâmega está a prestar um grande serviço ao sistema elétrico português. As energias renováveis têm um valor económico e estão a permitir a Portugal ser competitivo”, referiu, acrescentando que agora é preciso olhar para a questão dos preços para poder evoluir nos projetos eólicos.

“É preciso criar as ferramentas que permitam uma previsibilidade de investimento. Estamos a ver uma revolução no mercado. É preciso retribuir para que as renováveis possam ter um preço mais competitivo possível. Todas as tecnologias têm de colaborar”, salientou.

No lado da procura, David Rivera destacou a importância de fomentar os mercados com maior flexibilidade, realçando que os data centers são um desafio porque consomem energia de forma constante.

“Podem dar empregos com muita qualidade, mas precisam de modelação energética. É preciso definir ferramentas que garantam que este serviço de armazenamento é feito de forma competitiva e tecnologicamente neutra”, sublinhou.

Sobre o licenciamento alertou que este é um tema que interfere diretamente com o investimento. “Portugal conseguiu ganhar a confiança de muitos investidores para trazerem o seu investimento. Essa confiança demora muito tempo a ser ganha, mas facilmente se perde”, alertou.

Presente neste painel esteve Carlos Ferraz, CEO da Atlante Portugal, que também não fugiu à questão dos licenciamentos. “Continuamos a demorar muito tempo nos processos burocráticos. É essencial que sejam céleres e vão de encontro às necessidades do mercado”, afirmou.

Com sede em Itália e presente em Portugal desde 2023, a Atlante destaca-se pelo carregamento rápido e ultrarrápido de automóveis alimentada a 100% por energias renováveis.

“Tem sido até ao dia de hoje uma boa aposta. O mercado português está muito evoluído em relação aos países do sul da Europa, em postos de carregamento rápido e ultrarrápido”, referiu, sublinhando que vê com alguma reticência a alteração do modelo de negócio.

“Estamos à espera da regulamentação da mobilidade elétrica. Aguardamos as novas regras até ao final do ano. Vemos com alguma preocupação a falta de estabilidade e previsibilidade que é muito importante quando falamos de investimento num mercado recente, que ainda não é maduro”, salientou.

Questionado sobre se o novo modelo vai ser melhor, Carlos Ferraz disse que é preciso esperar para ver. “Ainda não consigo dizer que estamos a mudar para melhor. Estamos num período de transição da regulamentação que vai até ao final de 2026. Para já, não acho que se tenha tido a melhor decisão daquilo que era o modelo existente. Foi quase um corte radical e estes cortes, por vezes deixam sequelas nos operadores de mercados”, afirmou.

De resto, Carlos Ferraz considera que este novo decreto, foi demasiado disruptivo face ao que existia. “Pareceu que trazia novas oportunidades, mas depois quando são colocados os regulamentos não se efetivam essas novas oportunidades, como por exemplo a questão da armazenagem não está definida e não é permitido aos operadores entrar num mercado de flexibilidade da rede”, sublinhou.

O CEO realçou que em relação a Espanha, os números são completamente díspares, naquilo que é o modelo de negócio da empresa em Portugal. “Nos carros elétricos temos mais de 20% de ligeiros novos, em Espanha anda nos 12%. Claro que as empresas tendem a investir onde há este tipo de mercados”, referiu.

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