Os acontecimentos recentes no Porto e em Lisboa na final da Liga dos Campeões europeus e nas comemorações da vitória do Sporting, entre outros atos de festa e descontração, deixam um forte alerta sobre o descontrolo emocional e a perda de eficácia das autoridades sanitárias.
A situação, que poderá vir a provar-se perigosa e fator de crescimento de infeções e internamentos, surge no momento em que o desconfinamento em conjunto com o cansaço psicológico cria situações de desobediência e desorientação generalizada relativamente às normas em vigor no contexto da Covid-19.
A rápida recuperação da situação gravosa vivida em janeiro, consagrada na rápida redução do número de casos de doença e vítimas, acompanhada da sensação de segurança, acrescida de um bem-sucedido processo de vacinação com o já referido cansaço, desencadeou um processo de alheamento em relação às normas de proteção definidas pela Direção Geral de Saúde (DGS).
O cerca de ano e meio de pandemia, a dureza das medidas e alívio entretanto assumido, fazem-nos entrar em negação ou indiferença. Contudo, os sinais exigem uma revigorada atenção quanto a medidas e proteção a manter, mesmo que a anunciada imunidade de grupo se aproxime e os líderes políticos assumam a necessidade de salvar a economia dos efeitos perversos dos encerramentos.
Compreende-se como a economia está no limite, tal como a paciência dos portugueses perante a pressão de controlo da disseminação da doença. Entende-se que alguns se sintam amarrados perante tanto aviso e condicionamento, mas não podemos chegar à situação de preso por ter cão… e por não ter.
A busca de equilíbrio falha quando se acusa a polícia de agir ou de falhar, porque prende ou porque multa, porque permite ou porque facilita, i.e. colide hoje com a abertura e o alívio do regresso a uma normalidade que não é integral e que coabita com o crescimento de negacionistas, quer da doença, quer da vacinação ou do regresso a uma liberdade plena.
Neste quadro, o Governo tem de assumir com clareza o caminho a seguir. Não pode haver sinais contraditórios, nem titubeações sobre as medidas. O Governo tem de liderar e mostrar pedagogicamente o percurso, sem entrar em colisão com os mesmos cientistas que há três meses eram os gurus do sucesso e os avalistas das políticas difíceis que o Governo não queria assumir.
Perante os diferentes sinais a transmitir publicamente, ganham destaque aqueles que contestam a situação e entendem que estamos em condições de regressar a uma normalidade para já insensata. A mensagem de cuidado e ponderação tem de prevalecer, para que o quadro atual não se agrave impedindo férias mais saudáveis, física e psicologicamente.
Ao Governo exige-se firmeza e determinação. Não é pela demissão de um ministro que se reergue o poder ou recentra a política. Cabe ao primeiro-ministro assumir, de forma resoluta e decidida, este discurso de alerta e aviso sério. Não queremos de volta as conferências da Dr.ª Graça Freitas ou da ministra Marta Temido. Apenas ansiamos um rápido regresso à situação de normalidade que merecemos.