No passado mês de fevereiro, a Kentucky Fried Chicken pagou um anúncio de uma página em vários jornais do Reino Unido a pedir desculpa aos seus clientes pela falta de frangos que levou muitos deles a deslocarem-se em vão a mais de 400 dos seus estabelecimentos naquele país.

Na mesma ocasião agradeceu aos seus empregados e franchisees os esforços que fizeram para manter os restaurantes abertos e explicou no Tweeter que “the chicken crossed the road, just not to our restaurants.” E, cereja no topo do bolo, na tal página de jornal, acima do pedido de desculpas, estava um enorme logótipo da empresa, só que em vez do tradicional KFC as letras formavam um grande FCK.

Assim é que é bonito. Quando se faz asneira, pede-se desculpa e remedia-se a situação. Muitos clientes da KFC ficaram descontentes, como foi fácil de ver nas redes sociais. Houve quem confessasse sentir-se como um drogado a precisar de uma dose. Mas confessar as faltas e pedir desculpa mostra que se quer aprender com o erro e não voltar a repeti-lo, e dá consolo saber que nos consideram suficientemente importantes e merecedores de respeito para o fazer.

Quando a JCPenney mudou a estratégia comercial, do pricing ao fim dos cupões de desconto, as vendas mergulharam. A companhia despediu o CEO e divulgou um anúncio em que se dizia “it’s no secret, recently JCPenney changed. Some changes you liked and some you didn’t, but what matters from mistakes is what we learn. We learned a very simple thing, to listen to you”. Tim Cook pediu desculpa duas vezes, pela maps app e aos clientes chineses pela política de garantias que os tratava pior que os dos outros países.

Em 1985, depois de 79 dias e 1.500 queixas por dia, a Coca-Cola decidiu voltar à fórmula antiga, não sem pedir desculpas. O Barclays Bank pediu desculpa no Facebook e no The Telegraph pelo seu envolvimento no escândalo da Libor. Até Steve Jobs pediu desculpas, no caso aos acionistas da Apple, por aquela história das stock options pré-datadas. Depois, há os recordistas. O Papa João Paulo II pediu desculpas por 94 coisas, das cruzadas à Inquisição e ao tratamento dado a Galileu.

Portanto, continuo à espera de ver os deputados do nosso Parlamento pedirem desculpas por algumas leis e regulamentos de gosto duvidoso, que deixo aos próprios – por pudor, diga-se – a enumeração. Gostaria de o ver até no próprio Diário da República, em página inteira, claro, na terceira série, talvez sem o “FCK”. Bonito seria até se esquecessem as regras e o fizessem na II ou, porque não, na I Série.