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“Estamos num momento extraordinário de aproximação entre Portugal e Angola”, diz presidente da Câmara de Comércio e Indústria

“Há da parte da estrutura política angolana um amadurecimento muito importante”, comentou ao Jornal Económico o presidente Câmara de Comércio, Bruno Bobone, reconhecendo o bom momento em que se encontram as relações Portugal-Angola.
  • Cristina Bernardo
16 Abril 2019, 07h49

Depois do investimento espanhol ter concentrado a atenção na América Latina, em África e no Médio Oriente, o aumento da sintonia entre Portugal e Angola torna-se ainda mais importante para estruturar projetos de investimento comuns, reconhece o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Bruno Bobone.

Nos últimos anos sentiu-se a pressão das empresas espanholas na ocupação de espaços que eram das empresas portuguesas. Mas isso abrandou. Acha que há um desinteresse dos espanhóis pela economia portuguesa?

A seguir à crise, os espanhóis tiveram a necessidade de internacionalizar a sua economia. Já antes disso tinham tentado com Portugal porque a nossa economia era mais simples de integrar para eles. Com a crise, a necessidade de internacionalização aumentou significativamente e os espanhóis, que tinham essencialmente empresas focadas no mercado interno, aprenderam a trabalhar noutros mercados. Neste momento, estão com uma grande integração na América Latina, e também em alguns países de África e do Médio Oriente, onde podem retirar mais-valias muito mais significativas do que em Portugal. Portanto é natural que se sinta alguma dispersão desse investimento espanhol. Por outro lado, alguns dos setores que os espanhóis já ocuparam, não podem voltar a ser ocupados.

Porque razão as entradas dos espanhóis em Portugal foram tão pujantes?

Aquilo que se passou, para essa ocupação, foi que o apoio dado pelas instituições espanholas e pelas instituições financeiras espanholas aos projetos espanhóis foi sempre incomparavelmente mais vantajoso do que aquele que é dado pelas instituições portuguesas e pelas instituições financeiras portuguesas. Em Portugal, temos o conceito de que não podemos beneficiar as empresas portuguesas porque ficamos mal vistos lá fora. Nenhum outro país pensa assim. Temos uma Autoridade da Concorrência que tem por objetivo matar o maior número de empresas possível para provar que é uma ótima entidade e que apanha tudo em todo lado. E temos as empresas espanholas que tem uma Autoridade da Concorrência que as ajuda a desenvolver o seu trabalho em toda a parte e que ganha todos os processos contra nós e, portanto, acabamos por ser prejudicados dos dois lados. O Estado português assume que é um puro anjo santo e, portanto, temos que ser santos relativamente à Europa e ao mundo e, como tal, prejudicamos todos os nossos interesses em benefício de uma imagem sonhadora do que pode ser o nosso país.

Continuo a dizer que as empresas portuguesas foram sempre extraordinariamente bem aceites em Angola. Culturalmente são dois países muito próximos. A amizade entre os dois países é real – aliás, a visita do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa mostrou claramente isso.

Entre os mercados que nos são mais próximos, Angola é uma constante. Com a alteração do regime, parece ter agora um enquadramento diferente e mais favorável a uma maior participação das empresas portuguesas. Acha que vamos entrar numa fase efetivamente diferente da atividade económica portuguesa em Angola?

As empresas portuguesas sempre foram muito bem aceites em Angola. Nunca vi uma dificuldade de uma empresa portuguesa em ser aceite no mercado angolano. Eu tenho uma empresa em Angola e nunca tive uma parceria local. Todas as sociedades que tivessem necessidade de vender ao Estado angolano, provavelmente teriam a necessidade de desenvolver uma parceria local e há determinados setores onde foi determinado ter essas parcerias. Mas isso agora está posto em causa. Continuo a dizer que as empresas portuguesas foram sempre extraordinariamente bem aceites em Angola. Culturalmente são dois países muito próximos. A amizade entre os dois países é real – aliás, a visita do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa mostrou claramente isso. Ou seja, há da parte da estrutura política angolana um amadurecimento muito importante.

O passado de Portugal e de Angola foi posto politicamente em plano de igualdade?

O discurso do Presidente João Lourenço, a seguir à visita do Presidente Marcelo, foi extraordinariamente positivo quando disse que não tem que recriminar portugueses por aquilo que Angola sofreu, porque ambos os povos angolanos e portugueses combateram o mesmo regime que era prejudicial aos dois países. E aqui colocou numa igualdade real, a posição portuguesa e a posição angolana.

Vamos ter uma maior aproximação a Angola?

Estou convencido que estamos num momento extraordinário de aproximação entre os dois países e acho que a economia angolana tem todas as possibilidades de fazer um caminho de desenvolvimento que permitirá criar uma estrutura mais consolidada e desenvolver da melhor maneira, não tão rápida quanto a última, mas mais sustentada, com uma maior mais-valia para todos.

E o Brasil?

O Brasil é um país que sendo tão maior que Portugal e estando integrado em envolventes completamente diferentes, tem uma certa independência relativamente à situação portuguesa. Tem uma influência americana muito forte, que é onde o Brasil vai buscar a sua referência – e por isso tem menos referências relativamente a Portugal. Curiosamente, todos os brasileiros querem vir a Portugal, querem ser portugueses, querem visitar e estar em Portugal.

Ficaram investimentos portugueses relevantes no Brasil?

Acho que foi feito muito pouco investimento português na relação com o Brasil, no sentido de desenvolver uma verdadeira parceria. Acho que temos de fazer esse trabalho. Temos que aproveitar mais e fazer mais e estar disponíveis para desenvolver um grande trabalho porque é um país com uma dimensão extraordinária e um mercado enorme onde só temos vantagens em nos conseguirmos integrar. Culturalmente somos mais próximos do que a maioria dos países que com eles trabalham e temos de aproveitar essa qualidade.

Será que os empresários portugueses não sentem uma atração assim tão grande pelo investimento no Brasil…

O Brasil manteve-se demasiado fechado ao mundo e mantém barreiras muito grandes ao investimento estrangeiro, com um protecionismo muito forte. É um país com pouca estabilidade relativamente ao investimento e ao trabalho das empresas nesse país. Muda a legislação com muita facilidade e isso dá muita instabilidade ao empresário. Portanto é normal que o empresário fuja. Mas se houver um grande investimento entre as instituições portuguesas e as brasileiras, estou convencido que se podem amenizar essas dificuldades.

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