[weglot_switcher]

“Estrutura económica não tem tido capacidade de absorver a mão-de-obra” jovem

Economista e bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça considera que “as políticas de apoio à juventude deveriam também preocupar-se com a natalidade”.
O Bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça, posa para a fotografia durante a entrevista à Agência Lusa em Lisboa, 06 de janeiro de 2025. (ACOMPANHA TEXTO DA LUSA DO DIA 10 DE JANEIRO DE 2025) TIAGO PETINGA/LUSA
10 Janeiro 2025, 09h27

O bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça, considera que há um problema de estrutura da economia portuguesa, que não tem tido “capacidade de absorver a mão-de-obra” jovem cada vez mais qualificada, em entrevista à Lusa.

O ex-ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que foi reeleito bastonário para o quadriénio 2025-2028, após a lista única que liderou ter vencido as eleições realizadas em 04 de dezembro, admite que há “muitos jovens que estão a ir para o estrangeiro exercer as suas competências”, mas vários “saem não apenas à procura de uma experiência, mas também porque não encontram emprego compatível cá dentro”.

Um dos fatores que contribui para esta situação é “a estrutura económica do país, que nos últimos tempos, não tem tido a capacidade de absorver a mão-de-obra que cada vez é produzida em mais quantidade e também, obviamente, mais qualidade”, afirma.

António Mendonça defende que a economia portuguesa “precisa de um novo balanço que permita sustentar o crescimento no médio longo prazo” e que permita “incorporar essa mão-de-obra qualificada”.

O economista recorda que a estrutura da economia é muito focada no turismo, setor onde a grande maioria dos trabalhadores “não necessita das qualificações que, entretanto, generalizámos na sociedade portuguesa”.

No tema dos jovens, que tem sido um dos focos da Ordem dos Economistas, que passou também a ter uma nova categoria de membros estudantes, o bastonário considera que “as políticas de apoio à juventude deveriam também preocupar-se com a natalidade”.

Já do lado das empresas, uma das principais medidas do atual Governo foi a redução do IRC em um ponto percentual, mas o bastonário salienta que “os estudos não são suficientemente conclusivos” sobre a sua eficácia.

O economista e professor do ISEG defende ainda que mais do que utilizar os impostos para incentivos, deve-se “apoiar projetos concretos de transformação” da estrutura económica portuguesa, bem como reorientar os incentivos como, por exemplo, apoiar as empresas que empregam trabalhadores qualificados.

Além disso, diz que é necessária uma “abordagem integrada do sistema fiscal”, olhando para a coerência global para não gerar efeitos negativos.

Esta reflexão e reestruturação geral do sistema de impostos que defende deve também ser vista “no contexto europeu, porque Portugal está integrado na Europa e depende muito também das grandes decisões a nível europeu”.

Portugal é também afetado pelo desempenho europeu em termos económicos, o que se afigura como um fator de incerteza para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, com o abrandamento económico de países como Alemanha e França, que pode pesar em Portugal.

“Esse é um problema de Portugal, é que está muito dependente de fatores que não domina e que são voláteis”, afirma o bastonário.

O Governo prevê, segundo as previsões inscritas no Orçamento do Estado para 2025, um crescimento da economia de 2,1% este ano, sendo que a maioria das estimativas das instituições nacionais e internacionais está em linha com este valor.

A impulsionar a economia estará o consumo, nomeadamente com os efeitos da flexibilização da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que tem vindo a descer as taxas de juro.

Ainda assim, o economista alerta que “o BCE depende muito daquilo que faz o banco central americano”, pelo que o caminho não está completamente traçado, até pelo possível impacto de medidas implementadas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

Neste quadro, o bastonário destaca ainda que Portugal tem de se preparar para um período de tensão nas relações internacionais, “não apenas entre o chamado Ocidente e o Sul global, mas também dentro do próprio Ocidente, entre a Europa e os Estados Unidos”.

A Ordem dos Economistas vai realizar hoje a cerimónia de tomada de posse dos novos órgãos sociais, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.