“O modelo atual do BCE pode ser melhorado para ser mais relevante para os consumidores”, conclui um estudo sobre o euro digital levado a cabo pela SDA Bocconi, em colaboração com a Revolut, com uma amostra de mais de 17 mil europeus.
A investigação mostra que um euro digital demasiado semelhante aos instrumentos atuais corre o risco de ser irrelevante.
Para ter impacto, o euro digital deve ser mais simples e acessível, mais público (menos dependente de atores privados) e mais integrado no ecossistema digital contemporâneo.
“Uma incógnita prende-se com o envolvimento dos bancos, cujo papel, nos cenários alternativos ao euro digital, seria reduzido a fornecedores de serviços adicionais e premium relacionados com a moeda digital”, referem os autores.
A equipa de investigação inclui Stefano Caselli, Giampaolo Gabbi, Leonardo Maria De Rossi, Nico Abbatemarco, Michele Russo e Simone Moretti.
O estudo explora os obstáculos, expectativas e possíveis alternativas para a autonomia monetária europeia na era digital.
Segundo o estudo os cidadãos preferem simplicidade e a integração na infraestrutura existente. Os inquiridos demonstram preferência pelo Dinheiro Digital e pelo Euro Token, que obtêm maior consenso entre os cidadãos em todos os indicadores medidos: utilidade, facilidade de uso, confiança e intenção de adoção.
A investigação mostra que o sucesso do euro digital não pode basear-se apenas na solidez técnica, mas deve ser construído em torno do valor percecionado pelos cidadãos.
A adoção do euro digital representa um desafio crucial para a autonomia monetária europeia. O plano atual, promovido pelo BCE em 2020, visa criar uma moeda digital pública que não desestabilize o sistema bancário, não interfira no crédito privado e seja compatível com o ecossistema existente. Neste contexto, a utilidade, a confiança e a procura por parte dos cidadãos serão fatores centrais para o sucesso desta solução.
Que modelo de euro digital pode realmente funcionar para os cidadãos europeus?
Esta é a questão central de um evento realizado em setembro na SDA Bocconi School of Management. O ponto de partida é um estudo conduzido pela SDA Bocconi em colaboração com o banco digital Revolut, apresentado previamente no BCE na primavera passada e agora acessível ao público.
O evento marca o início de um debate direto entre as instituições italianas, bancos tradicionais e players do setor das criptomoedas, com especial atenção ao papel das stablecoins privadas, para repensar de forma sistemática o futuro do euro digital.
Nesta visão, a moeda digital única permitiria que os cidadãos continuassem a ter acesso direto ao dinheiro emitido pelo banco central, mesmo em formato não físico, através de infraestruturas fiáveis controladas por instituições públicas europeias.
O euro digital é, essencialmente, dinheiro em formato eletrónico, é um meio de pagamento público, acessível a todos, seguro, gratuito e utilizável em toda a zona euro, tanto online como offline. Não substituirá as notas, mas irá complementá-las, com o objetivo de preservar o papel da moeda emitida pelo banco central num mundo que utiliza cada vez menos dinheiro físico.
A investigação da SDA Bocconi alcançou mais de 2,3 milhões de clientes da Revolut em 27 países europeus, apresentando três cenários alternativos para a introdução da moeda digital europeia: o modelo de euro digital promovido pelo BCE, o Dinheiro Digital e o Euro Token.
O Dinheiro Digital é dinheiro eletrónico emitido e gerido inteiramente pelo BCE, sem o uso de intermediários privados. O Euro Token, por sua vez, é um token digital baseado numa blockchain pública, emitido pelo BCE e integrado de forma nativa no ecossistema de criptomoedas e de finanças descentralizadas (DeFi).
No estudo cada participante foi aleatoriamente associado a um dos cenários para medir as suas reações de forma neutra. Foram colocadas três perguntas principais: O modelo concebido pelo BCE é visto como útil e desejável pelos cidadãos europeus? Que características técnicas e institucionais são realmente importantes para incentivar a adoção? Existem modelos alternativos mais alinhados com as necessidades dos utilizadores e com os princípios da União Europeia?
As 17 mil respostas válidas recolhidas revelaram que os dois cenários alternativos ao modelo do BCE — Dinheiro Digital e Euro Token — são os favoritos para os cidadãos europeus em todos os indicadores medidos: utilidade, facilidade de uso, confiança e intenção de adoção.
Embora a maioria dos participantes estivesse disposta a usar o euro digital, esta solução registou a maior taxa de rejeição entre as três alternativas, mostrando que outras funcionalidades presentes no dinheiro digital e no token digital podem merecer ser exploradas.
O Euro Token obteve a melhor avaliação como solução para usos não rotineiros (por exemplo, transferências entre pares ou integração com serviços cripto).
O Dinheiro Digital foi visto como a solução mais adequada para substituir o dinheiro físico, devido à sua simplicidade, gratuitidade e supervisão pública.
Em todos os casos, os dois fatores mais relevantes para a adoção foram a utilidade e a compatibilidade com as práticas existentes.
Euro digital como teste à soberania monetária
O euro digital é muito mais do que uma nova tecnologia. É um teste à soberania monetária europeia na era digital, num contexto em que os pagamentos digitais são cada vez mais dominados por players privados, quase sempre não europeus”, afirmou Stefano Caselli, Dean da SDA Bocconi School of Management.
“A nossa investigação mostra que o modelo atual do BCE pode ser melhorado para ser mais relevante para os consumidores. O sucesso do euro digital não pode depender apenas da robustez técnica, mas deve ser construído em torno do valor percecionado pelos cidadãos. Os resultados demonstram que é necessária uma direção diferente e mais ambiciosa, mais sintonizada com as necessidades das pessoas”, acrescenta.
“Temos orgulho em apoiar este projeto, fornecendo insights valiosos da nossa vasta base de clientes europeus”, acrescentou Gianmaria Scocca, Head of Branches Europe & Board Member da Revolut Bank UAB.
A Revolut diz que “enquanto banco europeu que presta serviços nos 27 Estados-Membros, apoia ativamente as iniciativas da UE que promovem soluções de pagamento inovadoras e locais”.
“Para que este projeto tenha sucesso, é essencial focar-se em aumentar a concorrência, reduzir os custos para comerciantes e consumidores e reforçar a autonomia estratégica da Europa no ecossistema de pagamentos”, defende o banco digital com sede na Lituânia.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com